quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Tradições dos imigrantes italianos no RS (I)



A tradição do culto aos mortos entre os imigrantes italianos no RS

Por Mirna Borella Bravo

A tradição do culto aos mortos foi uma das práticas fundamentais de quase todas religiões.Inicialmente, o culto aos mortos esteve ligado aos cultos agrários e aos da fertilidade da terra. Os defuntos, como as sementes, eram enterrados com vista a uma futura ressurreição ou nascimento.

“Herdeiros da espiritualidade do Norte da Itália, os imigrantes aqui a conservaram e a cultivaram de modo extraordinário. Fizeram da religião o primeiro e fundamental fator de persistência, união e prosperidade.

Dificilmente teriam vencido o impacto da natureza agreste, o isolamento, o abandono do governo, as carestias de todas as espécies, o ataque das pestes e epidemias, não fosse o heroísmo e a coragem que lhes provinha da fé que herdaram de seus pais”(Iloni Fochesatto,1977, p. 24).

“Foi em torno da religião e da expressão de seus sentimentos religiosos que eles encontraram a própria identidade cultural, único meio capaz de evitar o desajustamento social”(Manfrói,1975, p.1930).

“Na cerimônia de encomendação de defuntos, normalmente, toda a capela tomava parte.A morte era anunciada através dum toque característico do sino... O coral cantava o Ofício dos Defuntos desde o levantamento do corpo, na residência da família, até as Vésperas na Igreja e a encomendação no cemitério...(Iloni Fochesatto, p. 27).

Em “Assim vivem os italianos”, de Rovílio Costa e Arlindo Battistel, temos uma descrição muito interessante sobre velórios e enterros.

“... O velório se constitui a última festa de confraternização que o falecido prestaria a seus amigos.” Por isto, comida, bebida, amigos e parentes. Até pernoite, se necessário.

“... Tinha-se o cuidado de, na sala do velório, deixar o defunto virado ou para a porta ou para a janela de saída, rumo à estrada, à capela ou ao cemitério. Nunca voltado para a porta de comunicação com a cozinha, para impedir que as pessoas, à noite ... não tivessem a impressão de estar vendo o falecido. Voltado para a porta de saída, ao partir o féretro, o defunto estaria de costas a sua casa e isto seria uma garantia psicológica de não voltar a vê-lo dentro de casa, porque ele partiu e não olhou mais para trás."

Saído o cortejo fúnebre, algumas pessoas amigas ou parentes tomavam conta da casa, varriam-na cuidadosamente, em direção à porta, por onde saíra o defunto, recolhendo o lixo para que, quando os familiares voltassem, ao acender o fogo,fosse queimado,significando que o defunto levou consigo suas boas e más ações...

Todas as repartições da casa eram varridas,lavadas, recolocados os móveis no seu lugar, para que, ao voltarem os familiares, não renovassem a impressão de velório.

Foto: Pamela Stocker (Flickr)

Nenhum comentário: