sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Garibaldi e os novos heróis


Por Neiva Zanatta
Professora e tradutora de italiano (*)

Neste ano em que se comemora o bicentenário do nascimento de Giuseppe Garibaldi voltamos o olhar para o passado na tentativa de buscar inspiração e sabedoria para entender o presente e imaginar quais serão os ideais dos heróis do futuro.

O nosso Herói de Dois Mundos ainda é atacado por alguns historiadores que baseando-se em documentos de uma época em que um escrevia e ninguém lia ( “ em tempo de guerra a mentira é como a terra “ ), o consideram um mercenário que veio ao Brasil com a objetiva intenção de ser corsário.Uma recente pesquisa feita em Porto Alegre/RS , indagava aos radio ouvintes: Afinal, Garibaldi foi herói ou mercenário ? Constatou-se que a grande maioria acredita que ele foi um herói para os brasileiros.

Sabemos que Garibaldi iniciou sua vida de aventuras marítimas acompanhado pelo pai que também era marinheiro. Percorreu toda a bacia do Mediterrâneo, conheceu as tempestades e os assaltos dos piratas. Ainda jovem, na Itália, conheceu o grande intelectual Giuseppe Mazzini (que afirmava : “ Deus é o povo, nossa pátria é o mundo sedento de justiça”), idealizador da Giovane Italia, Mazzini atuava no Norte da Itália com o intuito de criar a Republica Italiana, unificada de norte a sul e liberá-la do domínio dos austríacos. Os ideais de Giuseppe Mazzini coincidiam com os ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Lutavam pela Unificação da Itália, formada por pequenos reinados independentes onde a população vivia miseravelmente. Derrotados pelos austríacos e condenados à morte, alguns deles fugiram para o Brasil trazendo no coração o desejo de lutar por ideais republicanos. Foi assim que o jovem Giuseppe Garibaldi, republicano, socialista e humanista veio para o Brasil. Eis em poucas palavras a ideologia de Garibaldi: “ prima amavo la patria... ora, amo gli uomini” , dizia também : “o verdadeiro herói luta pelos outros e não pela causa própria”.

O que diriam os jovens brasileiros e italianos se perguntados: quem são os supostos modelos de heróis da atualidade no Brasil e na Itália?

Tanto na Itália, quanto no Brasil, a situação política é constrangedora para um jovem que tenta descobrir e eleger valores, modelos de conduta , para segui-los com a paixão pelo desafio de renovar, características da juventude, e poder recriar uma sociedade mais humana e igualitária para seus descendentes.

O que vemos, no caso do Brasil, é um carnaval eterno no palácios principais, salvo raríssimas exceções, onde a alegoria é um circo formado por duendes que circulam livremente entre o roubo declarado, a corrupção e o deboche. O povo? Pobre povo, sempre vestido de palhaço mudo, ouve e cala diante da retórica côncava e convexa do comandante da bateria que brinca de esconde-esconde, inebriado pelo lusco-fusco do poder, atrás de uma barba branca de Papai Noel, sua porta bandeira. E o Brasil gigante mais uma vez aplaude os heróis deste carnaval político na esperança que as coisas por aqui mudem.

No caso da Itália, ao invés de brincar, eles preferem duelar, o duelo tem o poder de criar expectativa e exaustão, motivos suficientes para deixar tudo como está para não criar mais confusão ainda.

Seriam estes os heróis dos jovens italianos e brasileiros? São estes os modelos de heróis a serem cultuados no futuro, esculpidos em pedra e bronze?

Garibaldi e Anita, estes tiveram a oportunidade de lutar pelos seus ideais. A nós, só resta rezar!

(*) Artigo originalmente publicado no Portal Oriundi

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