quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Jornalista narra em livro de ficção as aventuras dos primeiros italianos no Espírito Santo


O sangue italiano que corre nas veias de 52% da população do Espírito Santo (segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) foi o que motivou o jornalista Claudio Lachini a recontar a saga desses imigrantes que chegaram ao Estado a partir de 1877. O resultado, em forma de ficção, é o livro “Sperandio” (editora Barcarolla),lançado ontem em Vitória.

“Eu conceituo meu livro como uma modesta tentativa de refletir sobre a formação multirracial do Espírito Santo”, afirma Lachini. Ele vai além ao destacar que, a partir do censo do IBGE, conclui-se que a maioria dos capixabas tem pelo menos um ascendente da Itália em suas árvores genealógicas. “Mesmo que a ascendência afro-brasileira seja mais forte ou que não conserve mais o sobrenome italiano”, comenta o escritor de 66 anos, nascido em Alfredo Chaves e criado em Colatina, mas radicado em São Paulo desde a década de 60.

No livro, a saga dos italianos é recontada ao longo de três gerações. Quem conduz o leitor é o italiano Sperandio Zibaldone, um imigrante que chega com sua família ao Espírito Santo em 1878. Ao lado de outros companheiros de pátria, os Zibaldone se estabelecem em terras remotas, próximas ao Rio Benevente, compradas ainda na Itália. Para se fixar na região, têm que, literalmente, reconstruir o mundo. Derrubam a mata, cultivam a terra, erguem igrejas e vilas com recursos zero.

Lachini explica que o momento inicial dos imigrantes tem tudo a ver com o nome do protagonista. “‘Sperandio’ significa ‘espera em Deus’. Sem nada no meio da floresta, na então Colônia Imperial de Rio Novo, esses desbravadores só podiam ter esperança na ajuda divina. Daí a explicação do fervor religioso e das inúmeras igrejas e capelas que erigiam, quase sempre em primeiro lugar”, reforça.

É o próprio Sperandio, já morto e habitando uma espécie de limbo, que narra a história, baseada nos fragmentos da sua saga e de alguns de seus descendentes – o filho Santino, o neto Checo e um bisneto, Toni – em um relato constituído por 75 crônicas envolvendo 100 anos.

Nesta segunda parte, passada em Colatina e Vitória, são apresentadas situações em que os atuais descendentes dos italianos começam a fazer o caminho de volta.

Pesquisa

Lachini refez o caminho dos italianos percorrendo os lugares pontuais de sua história em 2004 e 2005. “Foi um reencontro com o Espírito Santo e com minhas raízes. Sou do distrito de São João, em Alfredo Chaves, e vim de uma família tipicamente italiana”, recorda o jornalista, que depois se criou em Colatina e, de lá, foi para São Paulo. Lá, participou do nascimento das revistas “Veja” e “Expansão”. Depois, em 1974, foi para o jornal “Gazeta Mercantil”, onde ficou por três décadas.

O material de “Sperandio” é basicamente de história oral, manuscritos de família e outros documentos escritos, com aval de especialistas em imigração italiana. À medida que a pesquisa avançava, Lachini concluiu que a melhor via não seria um relato meramente genealógico. A ficção deu sua contribuição e, a partir daí, nasceu o romance.

“Sperandio - Fragmentos de Uma Saga Ítalo-Brasileira”, de Claudio Lachini. Editora Barcarolla, 224 páginas, R$29.

Fonte: Jornal A Gazeta

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