segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

31 de dezembro, dia de São Silvestre, papa e santo romano


São Silvestre, o papa romano que viveu a transição entre uma igreja católica perseguida e estatal, denomina uma competição que ocorre no Brasil há 83 anos. Foto: Riccardo Speziani

Chega o dia 31 de dezembro e, como vem ocorrendo desde 1925, os brasileiros sabem que, além dos festejos da virada de ano, será o dia da corrida de São Silvestre, uma maratona de 15 km que acontece em São Paulo, reunindo atletas profissionais e milhares de participantes amadores. O evento, de tão tradicional, naturalizou-se no inconsciente da maioria da população e, como tantas outras circunstâncias e objetos, passou a integrar o cotidiano sem qualquer questionamento, como se fosse dado. Poucos sabem a razão de a corrida levar o nome de um santo, e raros são aqueles que se perguntam: mas afinal, quem foi São Silvestre?

Embora o seu idealizar, o jornalista e empreendedor Cásper Líbero, tenha se inspirado em uma competição que ocorria na França, o nome do acontecimento surgiu pelo fato de que, no dia 31 de dezembro, a igreja católica reverencia a morte de Silvestre, e posteriormente o dia oficial de sua canonização, de um romano que foi papa entre 314 e 335. Na verdade, biografia desse homem que se tornou santo não é muito pródiga em informações.

No entanto, o que se sabe é o suficiente para indicar que sua atuação, especialmente no campo político, foi fundamental para a sustentação da Igreja em um dos momentos mais importantes de sua história. São Silvestre viveu a transição de um cristianismo perseguido para um cristianismo de Estado, que se tornou a religião oficial do Império Romano. Pertencente ao clero romano, ele ocupou cargos de importância dentro da hierarquia eclesial, mas precisava se ocultar para escapar da morte nos últimos tempos de perseguição aos cristãos. Só saiu da clandestinidade em 313, com o Edito de Milão, quando o imperador Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos. São Silvestre, então, assumiu o seu pontificado, sucedendo ao papa Melquíades. Com habilidade e a criação de várias leis, introduziu a religião cristã na vida de diferentes povos, dandolhes uma formação definitiva.

Não por acaso, São Silvestre foi um dos primeiros santos não mártires da Igreja. Não faleceu vítima de perseguições ou martírio, mas de causas naturais, em 335. A vitória do cristianismo sobre seus perseguidores teve um preço: a divisão do poder da Igreja entre o papa e o imperador. São Silvestre era papa de direito, não de fato. Os poderes absolutos da Igreja estavam nas mãos do imperador Constantino, autoridade máxima de todo Estado. Foi Constantino, o chamado Pontifex maximus, e não o papa São Silvestre, quem convocou, em 314, o primeiro Concílio Ecumênico da história da Igreja, que aconteceu em Nicéia. O Estado mantinha a sua mão pesada nos assuntos da Igreja, mas, como compensação, essa se fortaleceu materialmente com a ajuda financeira do Império.

Grandes obras presentes até hoje em Roma marcaram o pontificado de Silvestre e lançaram o seu nome na História. Algumas delas são a Basílica de São Pedro e duas outras importantes basílicas romanas, uma em honra a São Paulo, na via Ostiense, e outra em honra a São João. O Palácio Lateranense, residência dos papas durante séculos, foi um presente de Constantino ao papa. A habilidade e prudência de Silvestre ainda garantiram à Igreja unidade e paz interna. O papa soube agir a tempo para sufocar pelo menos duas heresias que ameaçavam rachar a instituição. Uma delas foi o donatismo, que surgiu na África e pregava uma Igreja só feita para os justos. Outra heresia foi o arianismo, que reduzia Jesus Cristo a uma simples criatura de Deus, inferior ao Pai.

Existem apenas três paróquias dedicadas a São Silvestre no Brasil. A maior delas está localizada no distrito de São Silvestre, que faz parte de Jacareí, no Vale do Paraíba (SP); as outras ficam em Viçosa (MG) e Maringá (PR).

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