quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Itália pede a prisão de 13 brasileiros envolvidos na Operação Condor


A justiça italiana emitiu na segunda-feira (24) mais de 135 ordens de prisão contra pessoas que participaram da Operação Condor. Entre os relacionados estão 13 brasileiros. Todos são acusados de participar do desaparecimento, seqüestros e assassinatos de cidadãos italianos durante os anos da ditadura nas décadas de 1970 e 1980. Os nomes dos brasileiros, porém, não foram divulgados, e a imprensa italiana fala em 139 e também 140 ordens de prisão. A Operação Condor foi aplicada nos anos 70 e 80 pelos regimes militares da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai para eliminar os oposicionistas, principalmente simpatizantes de esquerda. No período em que durou o ‘plano Condor’, os presidentes do Brasil foram Emilio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. A operação, que deixou centenas de vítimas desaparecidas, nasceu durante a Primeira Reunião de Trabalho da Inteligência Nacional, realizada em Santiago (Chile), entre 25 de novembro e 1 de dezembro de 1975, segundo a documentação acumulada em investigações.

Algumas das pessoas que foram citadas na lista, porém, já estão mortas, como o ex-ditador chileno Augusto Pinochet. Foram citados ainda o ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, o almirante Emilio Eduardo Massera, e Juan María Bordaberry, ex-comandante da junta militar do Uruguai. Além dos 13 brasileiros, há ainda argentinos, bolivianos, chilenos, paraguaios, peruanos e uruguaios. Já Néstor Jorge Fernández Troccoli, um uruguaio de 60 anos, ex-membro do serviço secreto da marinha de seu país, foi detido em Salerno (sul da Itália), onde vive há alguns anos. A justiça italiana já vinha investigando o caso Condor desde o final dos anos 90.

O incentivador da Operação Condor foi o então coronel Manuel Contreras, fundador da Dina, a polícia secreta do regime do general Augusto Pinochet, mas o plano também contou com o apoio de agentes dos Estados Unidos. "A Operação Condor representou um esforço cooperativo de inteligência e segurança entre muitos países do Cone Sul para combater o terrorismo e a subversão", assinalava um informe desarquivado pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos, em 22 de agosto de 1978.
O informe acrescentava que "o coronel Manuel Contreras, chefe da Dina, iniciou um programa de colaboração entre os serviços de inteligência de diferentes países da América do Sul, o qual batizou como Plano Condor"."Há informação adicional de que a cooperação entre os países incluiria planos para assassinar subversivos, políticos e figuras proeminentes dentro dos limites do país", assinalava outro documento da CIA, datado de 16 de agosto de 1976.Um dos mais perseverantes investigadores da Operação Condor é o advogado paraguaio Martín Almada, que descobriu em seu país os chamados "Arquivos do Terror": dezenas de milhares de documentos que mostravam pela primeira vez, de forma oficial, as operações coordenadas entre as ditaduras do Cone Sul. Durante uma visita a Santiago, em setembro de 2001, Almada afirmou que Pinochet e Contreras lançaram uma "guerra santa" para eliminar a oposição no Chile e em outros cinco países da região. "Eles globalizaram o terrorismo e não se deram conta de que, 25 anos depois, viria a globalização da justiça através de Baltasar Garzón", disse Almada, fazendo alusão ao juiz espanhol que, em outubro de 1998, conseguiu que o general Pinochet fosse detido em Londres, desencadeando o processo de punição dos crimes cometidos pelo ex-ditador.

Do Globo on line

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