Um em cada sete casais que se formam atualmente na Itália compreende um estrangeiro, e estes casais mistos são um fenômeno em constante crescimento: em 1991 eram apenas 58 mil, em 2006 haviam superado os 200 mil, e a cada ano aumentam mais, segundo dados do instituto estatístico Istat, analisados pelo jornal Corriere della Serra.
A sociedade italiana, menos aberta à imigração e a suas conseqüências que outras européias, está se adaptando à passagem forçada aos novos tempos globalizados: nos últimos quinze anos os casamentos mistos se quadruplicaram, e em média se estima que haverá mais de seis mil novos a cada ano. A análise destas estatísticas, no entanto, demonstra que este fenômeno não é de todo homogêneo, já que existem diferenças entre as áreas geográficas e na conduta de homens e mulheres. As províncias italianas nas quais mais acontecem casamentos de italianos com estrangeiros (as uniões livres são mais difíceis de contabilizar) são as de fronteira, como Imperia (na fronteira com a França), Trieste (Eslovênia) e Bolzano (Áustria), e as que incluem grandes cidades, como Bolonha e Milão. Um fato significativo é que Roma, no centro do país, não está entre as cidades com mais matrimônios mistos. Outra curiosidade é que no sul do país, terra tradicionalmente de emigração, tanto nacional como internacional, se registram menos casamentos com estrangeiros - em Apulia são apenas 2,7% do total.
Os homens italianos, responsáveis por 59,1% dos casos, tendem a se casar com mulheres da Europa central e oriental (a comunidade moldava, por exemplo, é atualmente muito numerosa), em média dez anos mais jovens. As mulheres, por sua vez, preferem os africanos do norte, sobretudo os marroquinos e tunesinos, e os subsaarianos, com menor diferença de idade. Segundo Mara Tognetti Bordogna, socióloga da Universidade de Bicocca e especialista no tema das migrações, os casamentos mistos são sinônimo de "uma busca por maior abertura e liberdade, de novidade, de querer enfrentar outras realidades". "Trata-se de um forte desafio a nossas próprias regras culturais, familiares e até legislativas, porque a união mista transforma as instituições, normaliza o intercâmbio entre culturas e cria novas oportunidades para a sociedade", acrescentou a socióloga, enfatizando que "os filhos que nascem dessas uniões conhecem dois mundos, vários idiomas e religiões: isso vai transformando a sociedade positivamente".
No entanto, a outra cara da moeda é que o índice de divórcio neste tipo de casamento é de 80%, o dobro da porcentagem entre casais de italianos. Mas como ressalva Mara Tognetti, mais do que indicar a fragilidade intrínseca das uniões mistas, o dado pode indicar, em termos de cultura social, que os italianos ainda não estão prontos para enfrentar um desafio que, como os anos e a evolução demográfica, se tornará inevitável.
Da Ansa
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