terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Grillo, o "Michael Moore" italiano


O comediante genovês Beppe Grillo está se tornando um verdadeiro protagonista do cenário político italiano, passando dos protestos à ação diante da possibilidade cada vez mais forte da convocação de eleições. Em setembro passado Grillo causou sensação organizando o "V-Day" (o V indica uma obscenidade comum em italiano) contra a classe política, e agora, diante da probabilidade de eleições, decidiu passar à ação.

A consagração do papel político de Grillo foi feita esta semana pela prestigiosa revista norte-americana New Yorker, que definiu o comediante como "o Michael Moore italiano", por sua vibrante crítica aos costumes de seu país e à capacidade de gerar consenso fora dos canais habituais de comunicação política: seu blog na internet é um dos mais consultados por seus compatriotas, com uma média de 250 acessos diários. A apoteose política do comediante genovês ocorreu em outubro de 2007, quando aconteceu o "V-Day" para denunciar a corrupção da classe política, a começar pelos 24 parlamentares - do Parlamento nacional e europeu - que continuam trabalhando apesar de terem sido condenados pela Justiça. O evento reuniu dezenas de milhares de cidadãos que se manifestaram nas ruas da Itália e assinaram uma proposta de lei para moralizar a vida pública. Grillo passa agora da antipolítica de protesto à antipolítica militante.

Na semana passada, no mesmo dia em que o então premier Romano Prodi se apresentava ao Senado para o voto de confiança que resultaria fatal para o seu governo, anunciou em seu blog uma iniciativa de listas civis para um "Novo Renascimento". Trata-se, nas intenções do comediante, de começar de baixo. Grillo não pretende formar um partido político próprio, mas sim começar a certificar como "limpas" as listas que se apresentarem a nível local (municípios e regiões), garantindo que os candidatos não pertençam a nenhum partido, não tenham sido condenados e nem foram alvo de investigações judiciais, além de efetivamente residirem no distrito no qual se apresentam. No caso em que uma destas circunstâncias se altere durante o mandato do candidato eleito, este se compromete a renunciar ao cargo.

Isso no entanto não significa que o espírito cívico de Grillo tenha embaçado seu corrosivo senso de humor, ou a sua vontade de protestar. Questionado sobre o afastamento do ex-ministro da Justiça, Clemente Mastella, que levou à queda do governo Prodi, o cômico usou como metáfora a crise do lixo em Nápoles: "Estamos assistindo à coleta dos resíduos tóxicos e nocivos por parte de Berlusconi, que depois seriam reciclados para voltar semi-novos a essa lixeira, ou melhor, a esse rande oásis tóxico que é o Parlamento Italiano ", comentou. No campo do que ele mesmo chama de "higiene eleitoral", Grillo prepara para abril a segunda edição de seu "V-Day", dedicada desta vez ao sistema da informação, e acompanhada como na edição anterior por uma proposta radical: um referendo para a abolição da Ordem Nacional dos Jornalistas (ODG, segundo sua sigla original), a organização da categoria que regulamenta a atividade dos profissionais da imprensa na Itália. "A informação deve ser livre e a ODG limita a liberdade de informação", declarou o comediante, acrescentando que "todos devem poder escrever na mídia sem outros vínculos que não sejam os prescritos por lei".

Segundo Grillo, a reforma da imprensa é essencial para o futuro da democracia na Itália porque "os meios de informação são um elo de conjunção entre a politica e a economia: sem o seu apoio, o dirigente político não pode ser eleito, e sem as mentiras dos meios não podem atuar impunemente".

Da Ansa

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