sábado, 17 de maio de 2008

Walter Salles marca golaço em Cannes

José Geraldo Rodrigues, Daniela Thomas, Vinicius de Oliveira, Kaíque de Jesus dos Santos, Walter Salles e João Baldasserini, do elenco de “Linha de passe”, posam para a imprensa internacional no Festival de Cannes

“Linha de passe”, novo filme de Walter Salles e Daniela Thomas, exibido na manhã deste sábado (17) no Festival de Cannes é mais um gol de placa do diretor de “Central do Brasil” e “Terra estrangeira”. As histórias aparentemente diversas dos quatro irmãos da periferia de São Paulo, filhos de mãe solteira, se alternam com a cadência elegante de um bate-bola entre amigos.

Dario (Vinicius de Oliveira) quer ser jogador de futebol profissional, mas para isso tem de enfrentar a difícil peneira de acesso às ligas de base dos clubes. O menino joga um bolão, mas Salles e Thomas nos lembram que há centenas de milhares de darios para cada Ronaldinho que aparece. É a “vida lôca”, a realidade sem finais felizes, que a dupla procura trazer à tela, do motoboy Dênis (João Baldasserini) que tira R$ 5 por hora de trabalho e acaba se rendendo à tentação de furtar bolsas nos faróis, ao jovem evangélico Dinho (José Geraldo Rodrigues) que se entrega a Jesus na tentativa de conter suas frustrações. Há também o pequeno Reginaldo (Kaíque Jesus Santos), inspirado na história de um menino de 14 anos que passava dias circulando por terminais de ônibus à procura do pai, motorista, que não conhece.

“Tentamos refletir um Brasil que está tentando se reinventar, mas sem romantizações”, explicou Walter Salles, em entrevista coletiva logo após a sessão para os jornalistas. “Não queríamos fazer um filme sobre tráfico de drogas, polícias e favelas. Mostramos essas áreas, mas sem que a violência seja o centro história. Queríamos mostrar personagens que são expostos à violência mas a recusam por opção, ser tridimensionais mostrando os motivos que os levam a fazer o que fazem, mas também oferecer a possibilidade de redenção”, disse o diretor.

Como bem apontou Daniela Thomas, além dos meninos e da mãe, a doméstica Cleuza (Sandra Corveloni), há um sexto e muito importante personagem na história: a cidade de São Paulo. Além da Cidade Livre, região periférica da Zona Leste onde foram filmadas as cenas da casa da família, “Linha de passe” mostra os prédios de classe média e grandes avenidas, as vias marginais, os viadutos e ruas do centro, os postos de gasolina, elementos que só ajudam a marcar a aridez, a distância e a impessoalidade das relações humanas neste cenário de “fim do mundo”, como classifica a carioca Daniela. “Eu morei em São Paulo por 20 anos, e até então não conhecia nenhum destes lugares que estão no filme.”

A mensagem que Meirelles tenta passar adiante em “Ensaio sobre a cegueira”, de que vivemos em um tempo onde as pessoas vêem mas não enxergam umas as outras, ressurge em “Linha de passe” na boca do motoboy-assaltante que, ao contrário do esperado, não hesita em mostrar o seu rosto à vítima: “Olha pra mim, olha pra mim!”

Do Globo on line

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