Em Lagoinha, quem morrer sábado ou domingo será enterrado na segunda.Pagamento de horas extras para coveiro motivou decisão da prefeitura.
Os cidadãos de Lagoinha, pequena cidade a 201 km de São Paulo, que morrerem aos fins de semana terão que esperar até segunda-feira para serem enterrados. Em um comunicado oficial, a prefeitura proibiu, desde 21 de agosto, que o único coveiro da cidade, Francisco de Assis Soares, faça horas extras e trabalhe fora dos dias úteis. A medida provocou a revolta do coveiro, que há quase três anos trabalha no cemitério, e da população de cerca de 6 mil habitantes que agora têm medo de morrer aos fins de semana. De acordo com o Sindicato dos Servidores Públicos do município, a prefeitura suspendeu os plantões do coveiro e do assistente dele para não pagar horas extras. Indignado, o coveiro concursado, que ganha um salário mínimo por mês, disse que as mortes ocorrem sim aos sábados e domingos. "Não tem como prever isso. E se alguém morrer, como fazemos? Não é qualquer um que pode enterrar. Prestei concurso para isso, tem técnica, não é assim que funciona", disse. O coveiro estava triste porque havia perdido dois primos em um acidente na estrada entre Lagoinha e São Luiz do Paraitinga, a 182 km da capital paulista. "E se hoje fosse sábado, como ia fazer? Isso não pode continuar assim, estou revoltado."Segundo o presidente do sindicato, Daniel Ramos, a falta de pagamento de horas extras por parte da administração municipal obrigou a entidade a mover uma ação contra a prefeitura. A Justiça do Trabalho então obrigou a prefeitura a fazer o pagamento. "Foi depois disso que eles mandaram o comunicado. Um absurdo", afirmou.O prefeito José Galvão da Rocha confirmou a proibição. "Posso garantir que se houver alguma morte as pessoas serão enterradas sim, e que se for preciso até eu faço o enterro", disse. Mesmo com a promessa, a população está com medo. "Agora pra morrer aqui, só em dia útil e só até quinta-feira. Não se fala em outra coisa", disse a faxineira Célia da Conceição.
Do Globo on line
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