quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Congresso Brasileiro de Genética

Mais de 2.500 pesquisadores do Brasil e do exterior estarão reunidos na capital baiana até esta sexta (19) para o 54. Congresso Brasileiro de Genética, uma das principais reuniões científicas do país. A edição de 2008 do encontro tem como mote a chamada evo-devo, ou “evolução do desenvolvimento” – tendência relativamente recente da biologia que usa o desenvolvimento embrionário, bem como os genes que regulam esse processo, para entender como os seres vivos evoluíram.

Fábio de Melo Sene, da USP de Ribeirão Preto, agradece homenagens (Foto: Reinaldo José Lopes)

Se o tema parece um tanto esotérico, é bom lembrar que aspectos evolutivos têm relevância para entender como o câncer surge no organismo ou como certas etnias estão mais sujeitas a contrair determinadas doenças, assuntos que também serão abordados pelos pesquisadores em Salvador. E foi com uma ode à pesquisa básica – os estudos sem aplicação prática imediata, mas que ajudam a compreender os mecanismos fundamentais da biologia – que o evento começou na noite de terça (16). O homenageado na cerimônia de abertura foi Fábio de Melo Sene, pesquisador da USP de Ribeirão Preto que, mesmo aposentado desde 1991, continua na ativa estudando a genética das populações de mosquinhas do gênero Drosophila, mais conhecidas como moscas-das-frutas. Desde os anos 1970, Sene e seus colaboradores e alunos estão elucidando como um conjunto de sete espécies brasileiras de Drosophila se espalharam e se diversificaram por regiões cobertas de cactos no interior do Brasil. O geneticista da USP foi responsável por descrever duas dessas espécies, a D. serido e a D. borborema. Como os bichos são pequenos e fáceis de criar em laboratório, funcionam como um organismo modelo valioso para estudar a diferenciação genética e o surgimento de novas espécies ao longo da evolução. A organização do congresso preparou uma surpresa especial para Sene: seu genro, o músico Pereira da Viola, subiu ao palco para executar o Hino Nacional numa viola caipira e tocar, em homenagem ao pesquisador, uma música que compôs em parceria com a mulher dele. “Eu prefiro dizer que ele é o avô das minhas filhas, já que sogro é uma palavra meio chata”, brincou o músico. “Não foi à toa que a organização pediu que eu preparasse o coração. Mas podem ficar tranqüilos, porque eu tomo betabloqueadores [classe de remédios para problemas cardíacos]”, disse o biólogo, nativo de Borborema (interior paulista). Bem-humorado e modesto, Sene agradeceu as homenagens. “Para alguém que, aos 17 anos, decidiu que ia ser professor do ensino médio porque assim ia ter quatro meses de férias por ano, eu acho que cheguei longe demais”, brincou.

Globo on line

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