Roma, 29 Jan 2009 (AFP) - O ex-ativista de extrema-esquerda Cesare Battisti reafirmou sua inocência dos quatro assassinatos pelos quais foi condenado na Itália e se disse pronto a reencontrar parentes e amigos das vítimas, informou o senador Eduardo Suplicy, que conversou com ele na prisão, em entrevista ao jornal italiano La Stampa. Entrevistadas nesta quinta-feira pela AFP, pessoas próximas às vítimas pediram a Battisti que aponte os autores dos homicídios e lembraram que ele foi condenado com base nos testemunhos dos "arrependidos"."Ele me disse que estava pronto para explicar às pessoas ligadas às vítimas, olhando-as nos olhos, que ele não participou destes assassinatos e que também não planejou os assassinatos", declarou o senador ao jornal italiano.
"Se ele quiser nos ver, estamos aqui. Que venha à Itália. A recusa do Brasil de extraditar Battisti é uma vergonha", reagiu Adriano Sabbadin, filho de um açougueiro morto em 16 de fevereiro de 1979 em Mestre (nordeste) porque ele havia matado um ladrão que entrara em seu estabelecimento dois meses antes.
"Battisti foi denunciado por dois 'arrependidos', antigos companheiros seus no grupo terrorista do qual era chefe. "Se ele é inocente então que diga quem atirou. Ele sabe, com certeza. Ele teve 30 anos para dizer, e nunca disse nada", declarou à AFP Maurizio Campagna, o irmão de Andrea, um agente da polícia antiterrorista de Milan (norte), morto em 19 de abril de 1979. Em 2003, Battisti declarava assumir este seu período histórico de ativismo sem querer dar detalhes de seu envolvimento nos fatos dos quais é acusado. Em seguida, mudou sua linha de defesa, afirmando-se inocente.
Em 13 de janeiro passado, o Brasil concedeu asilo político a Battisti, ex-chefe do grupo "Proletários Armados pelo Comunismo" e condenado em 1993 pela justiça italiana à prisão perpétua por quatro assassinatos cometidos anos 1970.Isso fez a Itália decidir esta semana chamar para consultas seu embaixador no Brasil.
"Battisti é um terroristas que não merece em absoluto o estatuto de refugiado político", enfatizou o ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini.
Em telefonema ao colega brasileiro Celso Amorim, Frattini exigiu novamente a extradição de Battisti.O caso está, agora, em mãos do Supremo Tribunal Federal, cujo presidente retornará do recesso no dia 2 de fevereiro. A decisão de conceder asilo provocou indignação na Itália, tanto por parte das autoridades políticas como das famílias das vítimas.Na semana passada, uma série de atos simbólicos diante das sedes diplomáticas do Brasil na Itália marcou o protesto de vários políticos italianos contra a decisão de Brasília.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que seu governo não está disposto a submeter a decisão a uma revisão.Lula enviou na sexta-feira uma carta pessoal a seu colega italiano Giorgio Napolitano - que lhe expressou sua grande surpresa pela decisão - explicando as razões para conceder refúgio a Battisti e garantindo a independência e a neutralidade da decisão adotada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro.
Nesta quinta, a Comissão Europeia indicou que não tem competência para intervir na disputa entre o Brasil e a Itália."Podemos dizer que a Comissão Europeia não tem competência para intervir na questão bilateral de extradição entre Brasil e Itália", afirmou Michele Cercone, porta-voz para questões de Justiça e Segurança de Bruxelas, ao ser consultado sobre uma possível ação europeia.Por não existir acordo de extradição entre Brasil e UE em seu conjunto, a questão fica nas mãos das autoridades italianas, enfatizou o porta-voz.
"Não há acordo concluído entre UE e Brasil. Não há competência da UE neste caso", concluiu.
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