quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Prosecco se expande e estimula disputas


Bloco de textoConegliano-Valdobbiadene, um agrupamento de vilarejos ao norte de Veneza, produz o prosecco


O prosecco já conquistou muitos fãs em todo o mundo, graças a seu sabor refrescante e preços módicos -geralmente entre US$ 10 e US$ 20 a garrafa. As vendas globais vêm crescendo em porcentagens de dois algarismos há dez anos, chegando a mais de 150 milhões de garrafas em 2008. E, com os consumidores economizando, o prosecco se torna uma cada vez mais procurada alternativa ao champanhe, cujos preços têm subido vertiginosamente.

Mas o prosecco também vem topando em dificuldades. A partir de seu lar tradicional no norte da Itália, o vinho está travando uma guerra contra "invasores de fora", exatamente como o champanhe, seu primo francês de elite, faz há anos.

Produtores de outras regiões da Itália e de lugares como o Brasil também tentam lucrar com a nova popularidade do vinho. Como o prosecco é o nome de uma uva, como chardonnay ou cabernet, qualquer pessoa pode usar o nome.

Hoje cerca de 60% do prosecco mundial -mais ou menos 8 milhões de caixas- vem de produtores fora da região tradicional de cultivo, em Conegliano-Valdobbiadene, um agrupamento de vilarejos ao norte de Veneza.

Os novatos não são obrigados a obedecer aos mesmos rígidos padrões que os produtores tradicionais, regidos pelas leis italianas relativas ao vinho. E os vinicultores italianos temem que os novatos enfraqueçam a imagem do prosecco, justamente quando o vinho está começando a decolar.

"Se todo o mundo começar a plantar prosecco, perderemos o valor do nome", diz Ludovico Giustiniani, vice-presidente de um consórcio que representa cerca de 150 vinícolas na região tradicional de cultivo da uva prosecco.

Com um grupo maior de vinicultores e produtores, o consórcio traçou um plano para criar uma zona oficial de produção de prosecco, ligada exclusivamente ao norte da Itália. Apenas o vinho produzido nessa região poderia ser rotulado prosecco. Se o plano for aprovado pelo governo italiano, o prosecco terá direito a status "designação de origem protegida" sob as leis europeias criadas para resguardar produtos regionais, desde a champanhe até o vinho do Porto e o presunto Serrano.

"O prosecco poderá ser um produto exclusivamente italiano", diz Giancarlo Moretti Polegato, dono da Villa Sandi, uma das vinícolas mais famosas da região. Mas a proteção da União Europeia se aplicará apenas aos 27 países do bloco.

O sucesso do Prosecco é visto nos vilarejos de morros íngremes que cercam Conegliano e Valdobbiadene. De região agrícola comum, a área virou um dos encraves mais ricos da Itália. As vendas de prosecco desta região renderam 370 milhões de euros no mês passado. E um hectare de vinhedo nos lugares mais cobiçados, como Cartizze, é vendido por mais de 1 milhão de dólares.Esses vinhedos são cultivados e colhidos à mão. Máquinas não conseguem deslocar-se pelo terreno íngreme. Em 1969 a região recebeu o status de "denominazione di origine controllata", ou DOC.

Hoje, os EUA são o maior mercado de prosecco fora da Itália. Mas o vinho também ganha adeptos em mercados novos, como China, Índia e Vietnã. "O prosecco pode tornar-se o espumante mais vendido no mundo", diz Gianluca Bisol, gerente-geral da vinícola Bisol, em Valdobbiadene.

O problema é que outros também enxergaram esse potencial. Tudo começou com relativos recém-chegados em planícies da Itália. Estes vinicultores, que sofrem menos regulamentação que os produtores com DOC, receberam em 1995 a designação menos rígida do sistema italiano de controle de vinhos, conhecida como IGT. Eles conseguem produzir quase o dobro de vinho por hectare, com qualidade variável.

Nas planícies, os vinicultores podem usar máquinas para colher e cuidar das uvas, a 10% do custo, dizem Bisol e outros. "Por essa razão, essa área, que até 25 anos atrás não existia, hoje é responsável por 60% da produção de prosecco", diz ele.

Países como Brasil, Romênia, Argentina e Austrália também começaram a plantar prosecco. O Brasil, especialmente, vem aderindo à uva, fato que talvez não surpreenda quando se considera que sua principal região vinícola é povoada por imigrantes do norte da Itália. Segundo Bisol, há cerca de 810 hectares de uva prosecco cultivados no Brasil hoje. O espumante brasileiro pode reduzir as vendas do original italiano no país -o Brasil já é o quinto maior mercado de exportação do prosecco italiano.

Produtores alemães e austríacos começaram a comprar tanques de prosecco italiano produzido nas planícies e levá-lo a seus países para ser engarrafado.

A ameaça do prosecco estrangeiro vem levando os produtores do norte da Itália, tanto do prosecco DOC quanto do IGT, a cooperar para proteger sua produção. Eles dizem acreditar que sua proposta vá elevar a qualidade e impedir outros de chamarem seus produtos de prosecco. A chave está em vincular o prosecco a seu local de origem tradicional.

"O champanhe ainda é o rei dos espumantes", diz Bisol. "Mas o prosecco talvez possa ser considerado o príncipe menor."

Folha de S. Paulo/New York Times

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