sábado, 4 de julho de 2009

Talian


Talian (Vêneto Brasileiro)


"Perder a linguagem é perder a memória do passado.”

(Frei Rovílio Costa)


Língua de imigrantes italianos, muito falada atualmente no Brasil (cf. Luzzatto, 1994). Os falantes do talian se concentram na Região Sul, distruibuindo-se em diferentes cidades de cada Estado, por exemplo: Caxias do sul, Farroupilha, Garibaldi, Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Veranópolis, Erechim, Carlos Barbosa - no Rio Grande do Sul; Joaçaba, Caçador, Chapecó, Concórdia – em Santa Catarina; Cascavel, Pato Branco, Francisco Beltrão, Medianeira, Toledo - no Paraná). É pela relação com o movimento de imigração de italianos para o Brasil no fim do século XIX e início do XX que podemos compreender a emergência do talian como uma língua. Quando chegavam ao Brasil, os imigrantes eram conduzidos a fazendas ou a áreas ainda não habitadas nem cultivadas. Disso resultavam as colônias de imigrantes, vinculadas ao processo de colonização dessas áreas. No caso da região sul, de modo geral, dividiam-se essas novas áreas em linhas e travessões e nelas se estabeleciam os imigrantes, aleatoriamente agrupados. Dos imigrantes italianos que se dirigiram ao Sul do país, em finais do século XIX, 95% eram provenientes do Vêneto e da Lombardia. Destes, 60% tinham língua e cultura vênetas, o que fez com que formas dessa língua predominassem nas situações de conversa entre eles, resultando no talian.
(R.M.)

Caracterização da Língua

Talian: Situações em que é praticado
Em sua configuração atual, o talian é um amálgama de formas e expressões vinculadas tanto às línguas dos imigrantes como à portuguesa. No entanto, é reconhecida como uma língua que conta com regras próprias, gramaticalmente definidas e com uma ortografia unificada. Nela se têm produzido textos em prosa e verso (cf. Luzzatto, 1994) e em seu nome têm sido realizados encontros, como o “I Encontro dos Escritores em Talian”, Porto Alegre, 1989, e a “3a. Reunião de unificação da Grafia do Talian”, Caxias do Sul, 1994. Sobre o talian há ainda um dicionário - Dicionário Vèneto Sul-Rio-Grandense/Português – e uma gramática - TALIAN (Vêneto Brasileiro) Noções de Gramática, História e Cultura. Segundo Luzzatto (1994), o semanário Correio Riograndense mantém uma página dedicada ao talian e emissoras de rádio o divulgam em todo o interior da Região Sul. O talian não é ensinado em escolas.

O talian (ou vêneto brasileiro) é uma variante da língua italiana falada sobretudo na região das Serras gaúchas, no estado do Rio Grande do Sul, sul do Brasil.

Imigrantes italianos começaram a chegar à região no final do século XIX. Na época, na Itália ainda não existia um idioma italiano uniforme como conhecemos hoje, e sim diversos dialetos. Os italianos que imigraram para o Brasil eram de diferentes partes da Itália, mas no sul do país predominou os imigrantes do norte da península itálica, sendo que a maioria falava o dialeto vêneto.

O dialeto vêneto, com o decorrer do tempo, foi sofrendo alterações, ao ter contato com outros dialetos de imigrantes italianos e absorveu influência da língua nacional do Brasil, o português. Embora ainda continue bastante próximo ao dialeto vêneto, tanto oral quanto gramaticalmente, as influências externas fizeram nascer no Brasil meridional um dialeto ítalo-brasileiro peculiar, que foi chamado de talian.

Talian não é considerado um crioulo italiano, mas sim uma variante brasileira da língua italiana., o Talian não é considerado uma língua estrangeira no Brasil, mas sim uma língua nacional brasileira, porém, sem status de língua oficial.

Atualmente,já é considerada uma NOVA LÍNGUA NEO-LATINA.)

O uso do idioma italiano no Brasil entrou em declínio desde a década de 1940, quando o governo nacionalista de Getúlio Vargas proibiu seu uso, tanto escrito como oral no Brasil. Falar italiano em lugares públicos e privados no Brasil era considerado ofensivo e falta de patriotismo, e os italianos e descendentes foram de certa forma obrigados a aprender o português. O mesmo ocorreu com o idioma alemão no país. Por viverem de certa forma isolados em zonas rurais, os imigrantes italianos que habitavam a serra gaúcha foram um dos poucos grupos que conseguiram preservar o idioma italiano no Brasil.

Não se sabe ao certo o número de falantes do dialeto talian no Brasil, porém estimativas apontam em 500.000 o número de pessoas que usam essa língua, a maioria dos quais são bilíngües e também falam o português. Atualmente, o governo brasileiro tem se empenhado para resgatar a língua italiana, principalmente nas regiões povoadas por italianos no Brasil meridional, incluindo a língua italiana no currículo escolar.

Talian como Patrimônio Cultural Brasileiro

Em 04.10.2005 encaminhamos ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, a pedido da Federação dos Vênetos do Rio Grande do Sul, solicitação, acompanhada de toda a documentação necessária, no sentido de ver reconhecido o talian como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, pelas razões a seguir expostas:

1. O Decreto nº3551, de 04.08.2000, em seu artigo 1º, institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. Se transformar em patrimônio imaterial brasileiro é uma meta e, mais do que isto, um reconhecimento ao talian como importante herança sócio-cultural de uma comunidade.

O talian está ligado às origens da formação étnica do Rio Grande do Sul. Falar sobre o talian é remontar e reconstituir, no tempo e no espaço, a vida dos habitantes do Norte da Itália. O talian é o idioma falado por um milhão de pessoas no Brasil. É considerado uma língua neolatina, com direito a figurar ao lado das clássicas línguas italiana, francesa, espanhola, portuguesa.

Os italianos que chegaram ao Brasil praticamente desconheciam a língua oficial da Itália. Logicamente, se comunicavam pelo dialeto vêneto. Como as autoridades brasileiras não consideravam grupos lingüísticos para a colonização, a homogeneidade se perdeu entre as linhas e os travessões. Aos colonos restou usar sua língua de origem, já que o próprio português demorou a se infiltrar. Ao redor de capelas, durante as missas, as comunidades se encontravam e dialogavam da maneira mais fácil. Na capela, portanto, marcava-se o encontro de vários dialetos regionais, que acabaram fundindo-se uns aos outros. No decorrer dos anos, formaram grupos dialetais, com a natural fusão de dialetos não afins. O mais significativo dos dialetos, logicamente, predominava sobre os demais. É o caso do dialeto vêneto.

A língua foi enriquecida constantemente com novos termos e outros dialetos, numa dinâmica constante. Palavras portuguesas foram incorporadas, o que é mais do que natural, principalmente porque várias delas não tinham palavras específicas no italiano. Outras palavras portuguesas foram inseridas, por absoluta preferência da comunidade daquela época. Foi aí que surgiu a nova língua, muito parecida aos dialetos vênetos falados na Itália, mas diferente de todos eles.

Se o imigrante participou ativamente da vida brasileira, provocando transformações substanciais na economia e na modernização da agricultura, o talian foi o instrumento principal que eles utilizaram para ajudar a modernizar o País. Tal como os imigrantes italianos, o idioma que eles falam também deu sua parcela de contribuição ao Brasil. Sem o talian, as conquistas e as vitórias ocorridas no Sul do País seriam mais difíceis, mais demoradas. O talian é, portanto, um idioma que merece todo o respeito da nação e só tem que encher de orgulho seus idealizadores.

O talian merece ser Patrimônio Imaterial do Brasil. Merece porque ajudou a escrever a história de progresso e desenvolvimento do Brasil. Na história do Brasil e, mais especificamente, na história do Sul do Brasil, com certeza o talian vai merecer um capítulo à parte, pois foi ele que permitiu que esta região brasileira se comunicasse harmonicamente.


“2. Cabe-nos observar que reconhecer como parte integrante do nosso patrimônio cultural imaterial as diversas línguas faladas pelas várias comunidades lingüísticas de cidadãos brasileiros é iniciativa de enorme relevância. Segundo o Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística (IPOL), no Brasil, são faladas cerca de 210 línguas além da língua oficial, o Português. Registrar e preservar essa riqueza lingüística como manifestação da pluralidade cultural do nosso povo é importante passo em direção à democracia, à inclusão social, à garantia do direito à memória e ao fortalecimento da identidade cultural dos brasileiros.
3. Considerando o acima exposto, entendemos que o talian deva ser considerado, legalmente, patrimônio cultural brasileiro, com sua inscrição no respectivo "Livro de Registro", criado pelo Decreto nº3.551, de 04 de agosto de 2000. “

Nota: Este texto é um apanhado de trechos de livro do Frei Rovílio Costa e da FIBRA.

Colaboração Mirna Lanius Borella Bravo, RS

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