quarta-feira, 26 de maio de 2010

A renovação das artes em Ribeirão Preto por italianos

Grupo inclui Daici e Vaccarini, entre outros

Em um bate-papo no Museu de Arte de Ribeirão Preto “Pedro Manuel-Gismondi”, o Marp, enquanto se finalizava a montagem da exposição 79>09, a doutora em artes pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Daici Ceribeli Antunes de Freitas, lembrou a importância de artistas imigrantes italianos – especialmente de Bassano Vaccarini – para a renovação das artes visuais na cidade de Ribeirão Preto, a partir do final dos anos 1950, que ainda oscilava entre o acadêmico e o moderno.

“Naquele tempo, só tinha arte acadêmica em Ribeirão Preto. Cheguei aqui em 1958 e fui estudar na Escola de Artes Plásticas – que se tornaria a Faculdade de Artes Plásticas da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) –, onde se iniciava a pintura moderna, apesar de o desenho de observação ainda ser acadêmico. Não tinha um corpo docente moderno e o Vaccarini lutava, fazia palestras. Essa escola tinha uma galeria moderna que trouxe todo o acervo do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, em 1963. A gente não entendia muito bem aquilo”, lembra.

Formação
Daici conta que todo mundo que estudava arte em Ribeirão Preto tinha uma formação acadêmica, aprendida especialmente na Escolinha do Bosque, que era comandada por Antonio Pallocci, que era escultor e que também se tornou moderno.

Esse cenário começou a se transformar com a atuação de dois italianos radicados em Ribeirão: Lazzarini e Vaccarini. “O primeiro chegou em Araraquara, se desentendeu lá e veio dar aulas na Escolinha do Bosque, onde também entrou em conflito com o Palocci. Depois, foi embora para o Rio de Janeiro. Com a chegada de Vaccarini, os dois fundaram o Centro de Artes Plásticas, que seis meses depois virou Escola de Artes Plásticas.” Nessa escola, lecionava também outro imigrante italiano, Leonello Berti (1927-1976).

Entre a prática e a teoria
Nascido em San Colombano al Lambro, Milão (Itália), em 1914, Vaccarini morreu em Altinópolis (SP), em 2002. Participou da fundação da Escola de Artes Plásticas, e da Bienal de São Paulo em 1951, 1953, 1955 e 1967.

Era um homem de temperamento forte. “Lembro um dia ter pintado uma paisagem bonitinha. O Vaccarini olhou e falou até um nome feio. Ele disse ‘isso aí é uma merda’. A gente não entendia onde ele queria chegar”, conta Daici, divertindo-se com a lembrança do palavrão. “Vaccarini achava que a pessoa descobria por si, como ele descobriu. Eu achava sempre achei que tinha de ter um acompanhamento teórico. Ele conhecia muita teoria, mas ele não se dava o luxo de ficar passando pra frente."

Então veio o artista plástico e galerista Pedro Manuel-Gismondi, que era um grande teórico, para dar um fim nesse conflito e inserir de vez os alunos na arte moderna. Foi criada a Semana de Artes da Escola de Artes Plásticas, que permaneceu até os anos 80. “Era quando se trazia obras de São Paulo. Tinha teatro, música, e sempre vinha alguém para falar.”

Daici também ressalta que o núcleo de artistas italianos modernos começou a luta por um salão de artes em 1962, coisa que veio a se concretizar em 1975, com o primeiro Salão de Artes de Ribeirão Preto (Sarp). “Não fosse essa geração de artistas italianos, Ribeirão Preto ia demorar muito para renovar suas artes.”

Outros italianos importantes
Daici Ceribelli Antunes de Freitas fala sobre outros artistas:

“Odilla Mestriner participava de um grupo moderno. Vivia sozinha, nunca parou de trabalhar, participou de bienais, representou bem a cidade, ia muito para São Paulo. Ela começa na Escolinha do Bosque e conhece o Lazzarrini, com quem tem muitos diálogos sobre arte moderna. Ela pegou o caminho dela, foi atrás da teoria. Tinha um desenho incrível, usava nanquim, acrílica e colagem. Era muito detalhista, perfeccionista. Por causa da deficiência nas mãos, foi por esse caminho.”

“Leonello Berti veio para cá em 1976, quando já tinha a Escola de Artes Plásticas. Ele morava no Rio e veio ao Brasil por causa da guerra e já tinha muitos prêmios, como na Bienal do México. Vendia muito. Quem trouxe ele pra cá foi o (Pedro Manuel) Gismondi. Trabalhou na Escola de Artes Plásticas e tinha boa produção. Ele foi um neoexpressionista, também fez um pouco de escultura, umas cabeças de madeira. Suas telas eram dramáticas, figurativas. Ele morreu aos 50 anos e deixou um acervo grande. Pedimos à família que doasse o acervo e eu fiquei depositária dessas obras durante muito tempo até a prefeitura receber. Hoje, integra o acervo do Marp.”


Colaboração Lea Beraldo http://www.imigrantesitalianos.com.br/

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