Em entrevista para explicar o fracasso no Mundial, Cannavaro e Giancarlo Abate admitem que faltou qualidade e tranquilidade à Azzurra
Por Rafael Pirrho, Direto de Irene, África do Sul - Foi preciso mais que os 90 minutos de uma partida de futebol para que os italianos explicassem o tombo histórico na Copa do Mundo. Em longa entrevista coletiva, de 1h43m, o presidente da Federação, Giancarlo Abete, e o capitão Fabio Cannavaro reconheceram os erros cometidos no torneio e pediram que a responsabilidade fosse dividida por todos. A equipe terminou em último lugar no grupo F, atrás até da Nova Zelândia, e foi classificada pelo jornal "Gazzetta dello Sport" como "a pior Itália de todos os tempos".
Cannavaro e Abete admitiram o óbvio: mais do que tudo, faltou qualidade ao time.
O capitão Fabio Cannavaro tenta explicar a eliminação precoce da Azzurra em entrevista coletiva (Foto: AP)
- É preciso começar as mudanças já, iniciar um processo de renovação. Nossa geração fez coisas importantes pela Itália, não só na seleção mas nos clubes também, mas agora precisamos de gente nova. O problema é que não vejo nenhum fenômeno surgindo. Há jogadores de qualidade, mas nenhum fenômeno. É preciso investir nos jovens para não termos dificuldades parecidas na próxima Copa - alertou Cannavaro.
O presidente da Federação lembrou que a má fase da seleção passa por um problema estrutural. Há muitos estrangeiros no Campeonato Italiano, o que diminui as opções do treinador. O maior exemplo é a Internazionale, que conquistou o campeonato nacional e a Copa da Itália sem nenhum italiano entre seus titulares. Segundo dados apresentados por Abete, Lippi tinha apenas 59% de jogadores selecionáveis na Primeira Divisão.
Mesmo assim, o dirigente disse que esta não é a única explicação para o fracasso, até porque com o mesmo cenário a Itália foi campeã em 2006.
- A falta de quantidade de jogadores é a base do problema, mas há também dificuldade para se encontrar qualidade. A Inglaterra e a Alemanha têm mais estrangeiros e mesmo assim se classificaram para as oitavas de final - analisou.
Os dois também criticaram a instabilidade emocional da equipe. Para Cannavaro, a Itália não soube lidar com a responsabilidade de um jogo decisivo.
- Dava pra ver na expressão dos jogadores em campo que sentimos a pressão de ter que vencer. Parece que entramos com medo, bloqueados. Já a Eslováquia, que também precisava ganhar, teve o espírito certo, jogou com liberdade e tranquilidade - comparou.
Abete também lamentou a atuação italiana no jogo da eliminação.
- O primeiro tempo do time, principalmente, deixou todo mundo estupefato. Foi um resultado extremamente negativo, que nos entristece. Sabemos da importância do futebol e da seleção para o país e para o povo italiano. Esse é o momento de aceitarmos nossas responsabilidades, deixar a emoção de lado e olhar para o problema com equilíbrio - pediu o presidente.
Ele procurou não jogar toda a culpa sobre o técnico Marcelo Lippi e negou que o anúncio de um novo treinador, Cesare Prandelli, antes mesmo do início da Copa, tenha influenciado na campanha da seleção. Em 2006, lembrou o dirigente, Lippi também avisou que deixaria a Azzurra ao final da Copa e mesmo assim levou o título.
Já Cannavaro acredita que a ausência de jogadores como Cassano e Balotelli, ignorados por Lippi, não tenha sido a chave do fracasso.
- Sou amigo deles, sei do potencial de cada um, mas sinceramente não acho que com eles ganharíamos. Lippi trouxe à África do Sul os melhores jogadores, na avaliação dele, e simplesmente não deu certo. A responsabilidade por isso é dele e do time - disse o capitão.
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