Quito - O primeiro sobrevoo dos Andes equatorianos, realizado pelo piloto italiano Elia Liut do litoral até a serra do país e um marco na aviação nacional, será lembrado hoje após completar 90 anos.
O voo foi realizado em 4 de novembro de 1920, entre a cidade portuária de Guayaquil e a andina de Cuenca, localizada a 2.550 metros acima do nível do mar, com o avião "Telégrafo I", do empresário José Abel Castillo, então proprietário do jornal mais antigo do país, El Telégrafo.
Liut decolou às 9h40 da manhã daquele dia de uma pista localizada em um clube privado -- após uma primeira tentativa na véspera, que falhou por causa das más condições climáticas -- levando uma maleta postal.
No trajeto, a aeronave, de madeira e tela, conseguiu passar pela cordilheira ocidental, e, usando como referência apenas um mapa, ficou acima de 4.000 metros de altura. Em duas horas de viagem, Liut percorreu 115 quilômetros e pousou às 11h45 em Cuenca, a 310 quilômetros ao sul da capital, onde foi recebido com comemoração.
"Foi a primeira vez que viram um avião [a Cuenca], nunca jamais tínhamos visto um avião. Ver um aeroplano nesta época era uma coisa milagrosa", declarou à ANSA o escritor Luis Zúñiga, autor do romance "Un as de alto vuelo", que conta a história do piloto italiano.
Para o embaixador da Itália no Equador, Emanuele Pignatelli, o voo "foi um sucesso obviamente de um aviador italiano, mas também do entusiasmo e do espírito de organização do Equador para organizar este voo". Ele destacou que o périplo, realizado com poucos conhecimentos das correntes atmosféricas, foi uma conquista binacional.
Conhecido depois do episódio como "o condor dos Andes", Liut nasceu na localidade de Fiume Veneto, na província de Pordenone, no nordeste da Itália, em março de 1894. Ele era um dos oito filhos de um casal de camponeses.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), entrou na aviação de seu país e tornou-se um dos principais pilotos após ter participado de vários combates aéreos. No final da guerra, em dezembro de 1918, quebrou o recorde mundial de velocidade com pouco mais de 260 quilômetros por hora a bordo do biplano MVT, o primeiro avião de combate construído na Itália, segundo o historiador Rodolfo Pérez.
A fama de Liut chegou aos ouvidos de equatorianos, que se interessaram por convocá-lo ao país para sobrevoar os Andes. O piloto chegou, em julho de 1920, a bordo do navio a vapor Bologna junto com seu mecânico, Giovani Fedelli. O biplano de caça tipo Macchi Hanriot, de 8 metros de largura e 7,25 metros de altura, também de origem italiana, chegou dias depois ao Equador.
Após o êxito do primeiro voo, Liut também visitou outras cidades andinas, como Riobamba, Quito, Ibarra, San Gabriel e Tulcán, que também nunca tinham recebido um avião antes. Vários trechos foram realizados por outro piloto italiano, Ferrucio Guicciardi.
O périplo chegou a se estender às cidades colombianas de Pasto e Cali. "Foi o primeiro voo fronteiriço. O primeiro voo que chegou a Cali foi um avião que saiu do Equador", apontou Zúñiga.
Esta experiência foi decisiva para atrair a atenção das autoridades equatorianas sobre a necessidade de incentivar a aviação local, opinou Pignatelli. "O entusiasmo que este evento suscitou permitiu que o governo se interessasse mais na aviação e construísse uma força aérea organizada", acrescentou o embaixador italiano.
Também após o sobrevoo, Liut participou da fundação da primeira escola de pilotos no Equador, na cidade costeira de Duran, e ficou no país até sua morte, em 1952. Com sua participação, "se concretizou o projeto e se demonstrou que sim, era possível voar de Guayaquil, que é no nível do mar, até os Andes", colocou o escritor Zúñiga.
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