Da Reuters, Roma, Do G1 - O ministro italiano da Defesa, Ignazio La Russa, declarou que as relações do país com o Brasil ficariam "seriamente abaladas" se o ex-ativista de esquerda Cesare Battisti não for extraditado por ter sido condenado na Itália por assassinato nos anos 1970.
"Ninguém deveria imaginar que um 'não' à extradição de Cesare Battisti não teria consequências", disse La Russa ao diário "Corriere della Sera", em entrevista publicada nesta quinta-feira (30).
"Eu consideraria isso um grande dano às relações bilaterais."
Battisti
A imprensa brasileira informou na quarta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia decidido não extraditar Battisti. O governo ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso.
O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou no ano passado que Battisti deveria ser extraditado após ser condenado em seu país por assassinatos cometidos na Itália na década de 1970, quando grupos radicais de extrema esquerda promoveram uma campanha de sequestros e assassinatos.
Mas a decisão final cabe a Lula, que concedeu a Battisti o status de refugiado em 2009. No começo da semana, Lula disse que tomaria uma decisão até sexta-feira, quando termina seu mandato. Seus assessores afirmaram na quarta-feira que não havia ainda nenhuma decisão formal.
Battisti nega as acusações e diz que está sendo politicamente perseguido na Itália.
La Russa, integrante da ala direitista do governista partido Povo da Liberdade, é considerado um ministro próximo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, mas não está claro o quanto suas opiniões refletem a atual política governamental.
"Até onde eu sei, estou pronto para adotar outras iniciativas", ele declarou. La Russa não deu nenhum exemplo concreto, mas disse que estaria preparado para dar apoio a boicotes não especificados contra o Brasil.
No entanto, ele afirmou que um acordo de cooperação militar com o Brasil, prestes a ser aprovado pelo Parlamento italiano em 11 de janeiro, estava muito avançado para ser afetado.
"É tarde para isso. O governo já fez o que tinha de fazer. O resto cabe ao Parlamento", disse ele.
Battisti fugiu de uma prisão italiana em 1981 e viveu muitos anos na França, mas deixou o país quando o governo francês aprovou sua extradição, em 2006. Ele foi preso depois no Brasil.
Protestos - Outros políticos e jornais italianos também manifestaram indignação com a possibilidade de negação da extradição.
"Battisti fica livre para assassinar a justiça", afirma na primeira página o jornal conservador "Il Giornale", que pertence à família de Berlusconi.
"A não extradição de Battisti é uma ofensa grave às instituições italianas", completa o jornal, que considera certo que Lula concederá refúgio político ao ex-ativista.
Para o jornal Il Messaggero "a piada do asilo político" a Battisti obriga a Itália a adotar medidas para apresentar recursos e continuar solicitando o retorno do ex-ativista.
"A decisão de Lula nem sequer goza de consenso em sua pátria", destaca o colunista Massimo Martinelli, que garante que o governo da Itália já tem preparados os recursos que apresentará no início de 2011.
O jornal de esquerda "La Repubblica" entrevistou os familiares das vítimas, que manifestaram a "amargura" com a situação e prentendem organizar um protesto.
"Teria sido suficiente pelo menos um sinal de arrependimento", comentou Adriano Sabbadin, filho de Lino, uma das quatro vítimas.
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