Por Ida Bini, Oristano - Em frente à catedral de Santa Maria Assunta a multidão se espreme, enquanto espera. O som dos tambores começa rítmico e depois um trompete anuncia a largada. Os cavaleiros a galope brandem suas espadas para perfurar o coração da estrela, em busca de fortuna e prosperidade. As pessoas se entusiasmam e explodem em gritos.
É assim que começa a Sartiglia, o insólito e espetacular Carnaval de Oristano, na Sardenha, uma festa que personifica o fascínio das Cruzadas e dos torneios equestres medievais.
De domingo (6) até terça-feira (8), a cidade para e coloca os holofotes sobre os ousados cavaleiros vestidos a caráter em seus cavalos, em um trajeto de terra e feno, que tentam mostrar sua habilidade em colocar sua espada no pequeno orifício de uma estrela prateada, pendurada em um mastro. A tradição diz que quanto mais estrelas forem enfiadas, mais sortudo e benevolente será o ano.
É preciso um ano inteiro para se preparar para a corrida do original Carnaval de Oristano: um ano em que hábeis artesãos preparam os trajes de damas e cavaleiros, figurantes, líderes de corrida e cavalos enfeitados para a festa. Fitas cor de rosa, vermelhas e azuis e tachas de prata, sinos e flores decoram os trajes opulentos e coloridos de todos aqueles que participam, com orgulho, do evento.
Os protagonistas da Sartiglia são Su Componidori, os líderes da corrida das duas antigas corporações dos Contadini (agricultores) e dos Falegnami (carpinteiros), escolhidos entre os cidadãos mais estimados da população: a primeira corre no domingo, 6 de março, e a segunda no dia 8, a terça-feira gorda de Carnaval.
A Sartiglia começa com o ritual solene e sagrado de se vestir. Os Componidori sobem em uma mesa enfeitada por flores e fitas, enquanto as massaieddas, moças vestidas segundo a tradição local, levam suas roupas e os ajudam a vesti-las. O grande momento é quando os dois cavaleiros vestem a máscara e se tornam oficialmente os reis indiscutíveis da corrida. A multidão os acompanham entre brindes e comemorações até seus esplendorosos cavalos, igualmente preparados para a festa.
A procissão chega à catedral, onde começa a Sartiglia. Todas as pessoas ao redor vestem elegantes trajes medievais, enquanto o clima evoca os jogos equestres e o espírito cavalheiresco da época de Eleonora d'Arborea, rainha iluminada do século XIV, cuja máscara desfila majestosa pelas ruas de Oristano.
Em frente ao Duomo a corrida dos dois Componidori é espetacular e coreográfica, pontuada pelo rufar dos tambores. Depois deles, correm os cavaleiros, escolhidos pelas duas corporações, sob os aplausos da multidão. Fecha a corrida a emocionante benção - sa remada - do líder que, deitado de costas sobre o cavalo, passa a galope entre a multidão.
O Carnaval termina com a espetacular corrida das parelhas na central Via Mazzini, quando uma centena de cavaleiros em grupos de três e ao som dos tambores, percorre a galope as ruas do centro exibindo sua habilidades. O desfile dos cavaleiros termina ao entardecer, quando os dois Componidori são ajudados a se despir, entre brindes e danças, que duram até tarde da noite.
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