quarta-feira, 4 de maio de 2011

Os cardápios do Quirinale

Por Gioia Giudici - Roma -  Da polenta com lebre de Vittorio Emanuele II, aos caldos ('brodini') leves de Sandro Pertini, ao frango cozido de Carlo Azeglio Ciampi, há uma evolução dos gostos gastronômicos de um país no livro "I menu del Quirinale" (Os cardápios do Quirinal).

O volume publicado pela Academia da Cozinha Italiana - instituição cultural da República - percorre os 150 anos da história do país com uma seleção inédita dos menus de quatro reis e 11 presidentes da República.

''Estes menus são documentos de valor histórico e cultural, escreve o presidente italiano Giorgio Napolitano no prefácio do livro. Eles mostram a evolução gradual dos pontos de referência da alta culinária na Itália pós-unificação, marcada pela rica diversidade, que deriva tanto das peculiaridades territoriais, como da secular fragmentação sócio-política''.

Variados e suntuosos os menus dos Sabóia para os almoços de Estado, enquanto a mesa real do dia a dia era bastante simples. Particularmente frugal, Vittorio Emanuele II, o primeiro rei da Itália, apreciava comidas simples e rústicas como a polenta, os queijos do Piemonte e Vale d'Aosta, a lebre e o javali, acompanhados por vinhos como Barolo e Barbaresco, Barbera e Grignolino. Umberto I também não tinha inclinações para os prazeres da boa mesa, enquanto a rainha Margherita - homenageada com a mais famosa das pizzas - apreciava muito receber convidados e transformou a mesa dos Sabóia em uma das mais famosas da Europa.

Um rei dos gostos culinários muito simples, Vittorio Emanuele III gostava de frango assado e associou a mesa real àquela burguesa. No entanto, para ocasiões oficiais, como o casamento de Umberto II com Maria José, o menu voltava a ser real, com pratos de nomes sofisticados, como "ovos à Montebello, lagosta com molho tártaro, faisão assado com crescioni, salada florentina, sorvete ao creme palermitano".

Ricos ou minimalistas, tradicionais ou excêntricos, os menus, na passagem pelo Quirinale, nunca passaram dos seis pratos e três vinhos.

Com Enrico De Nicola antes, e Luigi Einaudi depois, os almoços de Estado se tornam cada vez mais sóbrios, quase espartanos - como espaguetes à romana, filés de carne grelhada e vinhos produzidos pelo próprio Einaudi.

Já os menus de Giovanni Gronchi eram elegantes, tanto que durante sua presidência se adotou o hábito de harmonizar o cardápio com a louça. Mais 'ricas' as propostas das refeições no exterior: Antonio Segni, recebido em Paris pelo general Charles de Gaulle, consumiu creme de frango, filé de linguado à Joinville, pato à moda de Nantes, foie gras de Landes e suflê gelado ao Grand Marnier, com quatro vinhos, incluindo o famoso Chateau Lafite Rothschild.

Como bom piemontese, Giuseppe Saragat apreciava particularmente a boa comida, tanto que durante a sua presidência o número de pratos nos almoços de Estado aumentou consideravelmente.

A partir dos anos 70, com Giovanni Leone, os banquetes oficiais eram mais enxutos e principalmente mais leves. Quase hospitalares os menus sob a presidência de Sandro Pertini, que não podia comer muito e começava a refeição com uma sopa leve, seguida por carnes brancas e peixe. No entanto, muitas vezes ele encomendava 'pratos proibidos', como babá de zabaione. São poucos os testemunhos sobre os gostos culinários de Francesco Cossiga, enquanto sob a presidência de Oscar Luigi Scalfaro os pratos se reduziram a três: a entrada, um prato de carne ou de peixe, e uma sobremesa leve.

Já a mesa de Ciampi representa uma alimentação decididamente frugal, como prova o cardápio essencial da véspera de Natal de 2002: mezze maniche à berinjela, frango cozido, batatas, alcachofra, abobrinha e cenoura cozidas no vapor e doces natalinos.

Finalmente, os sóbrios menus de Napolitano destacam a grande cuidado do presidente da República com a qualidade dos alimentos e a combinação entre sabor e saúde. Sinal dos tempos.

www.ansa.it/www.italianos.it

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