sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Línguas faladas da Europa até a Índia surgiram na Turquia, diz estudo



Línguas faladas da Europa até a Índia surgiram na Turquia, diz estudo

Pesquisa diz que agricultura espalhou idiomas pela região.
Mais de 3 bilhões de pessoas falam as chamadas línguas indoeuropeias.

Da AFP

A comparação da palavra "mãe" em línguas tão diversas como o hindi, o português, o russo, o holandês, o albanês e o inglês demonstra que foi na atual Turquia que se originaram todos esses idiomas, segundo estudo publicado nesta quinta-feira (23) da revista Science.

Graças a um complexo modelo informático projetado originalmente para mapear epidemias, cientistas detalharam a evolução da família das línguas indoeuropeias.

Semelhanças entre centenas de línguas faladas da Islândia à Índia deram lugar a acalorados debates sobre o local onde se originaram e o que sua propagação e evolução podem dizer sobre os primeiros humanos.

A palavra 'mãe' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação') 
A palavra 'mãe' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação)
A teoria dominante até agora dizia que essas línguas, faladas atualmente por 3 bilhões de pessoas, provinham de nômades da Idade do Bronze, que utilizaram cavalos e carroças para se espalhar em todas as direções, a partir das estepes do norte do Mar Cáspio, perto da atual Ucrânia, de 5 mil a 6 mil anos atrás.

Outros afirmam que foi a agricultura -- e não o cavalo e a roda -- que ajudou a difundir as línguas e apontam suas origens para a atual Turquia há 8 mil ou 9,5 mil anos.

A palavra 'água' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação) 
A palavra 'três' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação)
Este último estudo publicado na "Science" usou uma enorme base de dados de palavras comuns ou afins, tanto modernas quanto antigas, e identificou as raízes da linguagem na atual Turquia e não nas estepes.

"Este é um dos exemplos-chave propostos de que a agricultura é uma força importante na formação da diversidade linguística mundial", disse o autor principal do estudo, Quentin Atkinson, psicólogo evolutivo da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

A palavra 'água' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação) 
A palavra 'água' em diversas línguas indoeuropeias (Foto: Quentin Atkinson/Divulgação)
Os resultados se baseiam em investigações arqueológicas e genéticas que sugeriram que a migração humana precoce ajudou a estimular a expansão da agricultura, afirmou Atkinson.

"Não é que todos os caçadores-coletores estavam na Europa e olharam por cima da cerca e viram que seus vizinhos cultivavam e começaram a fazer o mesmo. Houve uma movimentação real de pessoas", disse.


"Os idiomas sugerem que foi um movimento cultural também. Os caçadores-coletores não estavam só arando, também estavam adotando uma cultura e uma língua", acrescentou.

O uso de métodos projetados originalmente pelos epidemiologistas para rastrear a linguagem faz sentido porque há tempos foram percebidas similaridades entre a evolução dos seres vivos e as línguas vivas, explicou Atkinson.

"Darwin fala a respeito, em 'A Origem das Espécies' e em 'A Origem do Homem'; se refere a eles como 'estes curiosos paralelismos'", acrescentou.

Os biólogos que buscam a origem de uma pandemia tomam amostras em vários locais sequenciam o DNA e fazem um mapa de como o vírus evoluiu ao longo do tempo, observando como seus genes foram modificados.

"Uma vez que se tem a árvore genealógica, é possível rastrear a origem em seus galhos", afirmou Atkinson. "O que fizemos foi aplicar o mesmo enfoque aos idiomas", emendou.

A equipe construiu uma base de dados de palavras afins, como "madre" em espanhol, "mother" em inglês, "moeder" em holandês, "mat" em russo, "mitera" em grego e "mam" em hindi.

Em seguida, criaram uma árvore genealógica dos idiomas, que os situava no tempo e no espaço e dava conta das perdas e danos de cognatos (termos com mesma origem etimológica, mas com evolução fonética distinta). Assim, concluíram que estes cognatos derivam da palavra proto-indoeuropeia "mehter".

Repercussão
"É um grande avanço", disse o arqueólogo Colin Renfrew, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em outro artigo publicado na Science.

Mas nem todo mundo está convencido.

"Há tanto neste trabalho que é arbitrário", afirmou Victor Mair, especialista em idioma chinês da Universidade da Pensilvânia, à revista "Science".

O modelo de Atkinson se baseia em saltos lógicos nas mudanças linguísticas e na forma como os idiomas se difundiram, disse Mair, enquanto a hipótese das estepes "se baseia em dados arqueológicos, como os padrões de enterro, que estão diretamente ligados a materiais datáveis".

Nenhum comentário: