Votos eurocéticos provocaram divisão do Senado e jogaram país na crise.
Presidente tenta fechar acordo de coalizão para evitar novas eleições.
O principal jornal do país, o "Corriere della Sera", destacou um "voto de choque" e um Parlamento sem maioria. Apesar da centro-esquerda ter conquistado uma vitória apertada na Câmara dos Deputados, superando a direita de Silvio Berlusconi, no Senado a coalizão (113 cadeiras) está longe da maioria absoluta (158).
Em um editorial, o "Corriere della Sera", jornal de centro-direita, ressalta o sucesso de Beppe Grillo, o líder de um movimento antissistema que soube canalizar a frustração de parte do eleitorado ante os partidos tradicionais.
"É a vitória de uma Itália eurocética frente à política de austeridade econômica", afirma.
O jornal "La Repubblica" também cita uma Itália "ingovernável" e destaca "o forte aumento dos votos para Berlusconi", que todos davam como derrotado desde sua saída do poder em novembro de 2011, assim como o "fiasco de Mario Monti", que lançou a candidatura à frente de um ambicioso movimento de "novo centro".
"Nas ruínas subsiste um Parlamento dificilmente governável e um Parlamento altamente inflamável", afirma o jornal em um editorial na primeira página.
Cartazes remanescentes da campanha eleitoral tomam muro em Roma nesta terça-feira (26) (Foto: AFP)
O jornal "La Stampa" comenta sobre o "Parlamento bloqueado".
"A Itália real expressou seu mal-estar. Ouvimos as vozes e as histórias dos que não encontram trabalho, não chegam ao fim do mês com sua pensão, pensam que não têm futuro e fogem para o exterior."
Segundo o jornal de esquerda "Il Fatto Quotidiano", o presidente da República, Giorgio Napolitano, pode promover "um governo de grande coalizão" entre a esquerda de Bersani, a direita de Berlusconi e o centro de Monti.
Tentativa de acordo
O polêmico ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi deu a entender que a sua centro-direita pode estar aberta a uma grande coalizão com o bloco de centro-esquerda de Pier Luigi Bersani, que terá a maioria na Câmara.
Resultados no Senado, onde as cadeiras são distribuídas regionalmente, indicavam que a centro-esquerda ficaria com cerca de 119 assentos, em comparação com 117 para a centro-direita. Mas 158 são necessários para garantir uma maioria para governar.
Qualquer governo de coalizão que pode vir a ser formado deve ter a maioria trabalhando em ambas as Casas, para poder aprovar a legislação.
Mercados financeiros mundiais reagiram com nervosismo à perspectiva de um impasse na economia da zona do euro, a terceira maior, com lembranças recentes da crise que levou o bloco de 17 Estados à beira do colapso em 2011.
O fraco desempenho do bloco centrista do primeiro-ministro Mario Monti, no entanto, refletiu um cansaço com o plano de austeridade que foi explorado por Berlusconi e pelo comediante Grillo. Aliados de Bersani ajudaram seu bloco de centro-esquerda a vencer na Câmara por apenas 125 mil votos.
Berlusconi, um magnata da mídia, disse que não está preocupado com a reação do mercado.
Em um telefonema para um programa de televisão pela manhã, ele disse: "A Itália deve ser governada." Ele descartou um acordo com Monti, mas disse que ele "deve refletir" sobre um possível acordo com a centro-esquerda: "Cada (lado político) deve estar preparado para fazer sacrifícios."
O euro recuou para uma mínima de quase sete semanas contra o dólar na Ásia por temores sobre a crise da dívida na zona do euro. O euro chegou a 1,3042 dólar, mínima desde 10 de janeiro.
Bersani reivindicou a vitória na Câmara e disse que é óbvio que a Itália está em "uma situação muito delicada".
Grillo, no entanto, não mostrou disposição imediata para negociar. Comentaristas disseram que todos os seus adversários subestimaram o apelo de um movimento popular que classificou como um "não-partido", que teve impacto especialmente entre jovens italianos desempregados e sem perspectiva de um futuro digno.
Reunião
O primeiro-ministro demissionário Monti vai realizar nesta terça reunião com o chefe do Banco Central do país e com o ministro da Economia,, informou o gabinete do premiê em comunicado. O objetivo é analisar o impacto do resultado eleitoral.
A reunião vai contar com Monti, o presidente do Banco Central da Itália, Ignazio Visco; e os ministros Vittorio Grilli (Economia) e Enzo Moavero Milanesi (Relações Europeias).
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