Medida do prefeito visa preservar espaços turísticos, mas foi criticada até mesmo por políticos da sua coalizão.
O prefeito da cidade italiana de Verona, no norte do país, causou
polêmica ao introduzir uma multa que vai de 25 até 500 euros (de R$ 75 a
R$ 1,5 mil) para quem der comida a desabrigados em praça pública.
Flavio Tosi, prefeito de Verona desde 2007, diz que com a penalidade
ele quer garantir a higiene e o decoro público em praças da cidade. Ele
alega que a medida é necessária para evitar que os mendigos fiquem
"acampados a céu aberto" em locais públicos.

Medida polêmica pretende preservar espaços turísticos, como a Arena de Verona
(Foto: Marcelo Crescenti/BBC)
O político afiliado ao partido de direita Lega Nord diz que a situação
em algumas praças de Verona ficou "incontrolável" e que os "barboni",
como são chamados os mendigos na Itália, teriam se tornado uma "ameaça à
saúde pública".
"Não podem viver em um jardim público, lavando-se e fazendo todas as
necessidades fisiológicas ali mesmo", disse Tosi. A área aonde a doação
de alimentos foi proibida abrange boa parte do centro histórico da
cidade.
Sua iniciativa criou uma grande polêmica na Itália,
já que a penalidade vai ter que ser paga não só por cidadãos, mas
também por organizações de caridade que distribuem alimentos entre os
sem-teto. A medida acabaria punindo quem ajuda os mais necessitados.
A organização mais afetada pelo decreto do prefeito é a "Ronda della
Carità" (Ronda da Caridade, na
tradução), uma associação sem fins
lucrativos fundada em Florença em 1993 que distribui alimentos em 78
cidades. Em Verona seus voluntários já estão ativos há mais de dez anos.
O fundador da associação, Paolo Coccheri, disse que ficou estupefato e
que nunca viu uma medida parecida em todos os seus anos de atividade
voluntária: "O prefeito vai penalizar justamente quem ajuda as pessoas
mais pobres de sua bela cidade, que são cada vez mais numerosas", disse.
Fogo amigo
A decisão de Tosi foi duramente criticada pela oposição. A deputada do Movimento 5 Estrelas, Francesca Businarolo, disse que, em vista das próximas eleições europeias no fim de maio, o prefeito "está querendo lembrar a todos quem é o xerife da cidade'.
A decisão de Tosi foi duramente criticada pela oposição. A deputada do Movimento 5 Estrelas, Francesca Businarolo, disse que, em vista das próximas eleições europeias no fim de maio, o prefeito "está querendo lembrar a todos quem é o xerife da cidade'.
Até mesmo aliados políticos se distanciaram do prefeito. Giovanni
Miozzi, presidente da Província de Verona, foi eleito por uma coalizão
de forças entre seu partido Forza Italia e a Lega Nord. Ele diz que
entende a preocupação com o decoro na cidade, mas que "neste momento a
prioridade deve ser ajudar as pessoas em dificuldade".
Depois das críticas o prefeito de Verona voltou a defender sua ideia em
uma entrevista no jornal local, o Corriere del Veneto. Ele argumentou
que a cidade oferece abrigos a quem precisa de teto e comida, e que ele
não é contra a distribuição de alimentos - só que ela não deve ser feita
em praça pública.
Não é a primeira vez que a Lega Nord introduz medidas para coibir a
presença de mendigos nas cidades. O partido de direita, cuja principal
bandeira é a separação do norte da Itália do sul do país, já tinha
causado polêmica ao propor um registro obrigatório de pedintes anos
atrás.
Em algumas cidades dominadas pela Lega foram retirados bancos de praças
em que os "barboni" repousavam. Em outros municípios, como por exemplo
na cidade de Mortara, foram criadas multas de até 500 euros para quem é
pego mexendo no lixo da cidade.
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