sábado, 3 de maio de 2014

Esquadrão Imortal – Torino 1942-1949





Grandes feitos: Pentacampeão italiano consecutivo* (1942/43, 1945/46, 1946/47, 1947/48, 1948–49) e campeão da Copa da Itália em 1942/1943. *Nota: em 43/44 e 44/45 não houve disputa por conta da II Guerra Mundial.

Time base: Valerio Bacigalupo; Aldo Ballarin e Virgilio Maroso; Pino Grezar, Mario Rigamonti e Eusebio Castigliano; Romeo Menti, Ezio Loik, Guglielmo Gabetto, Valentino Mazzola e Franco Ossola. Técnicos: András Kuttik (1942-1943), Luigi Ferrero (1945-1947), Mario Sperone (1947-1948), Roberto Copernico (1947-1948), e Leslie Lievesley e Ernest Erbstein (1948-1949).

“O Touro indomável e eterno”

A Itália já teve diversos esquadrões de respeito, clubes que ganharam diversos títulos, e que encantaram o mundo, mas nenhum foi como o Torino da década de 40. Nunca uma equipe jogou tanta bola e encantou tanta gente numa época em que o mundo vivia anos tenebrosos, com o auge da segunda guerra mundial. A própria guerra foi a única capaz de parar aquela equipe, que não jogou nas temporadas 1943/1944 e 1944/1945. O hiato não foi o bastante para frear o ímpeto vencedor de um time mágico, que conquistou cinco títulos italianos consecutivos, feito igualado apenas por Juventus e Internazionale até hoje. E esse time só não venceu mais e não fez ainda mais história por conta da guerra e por não existir à época competições europeias. Ninguém podia com o “Grande Torino”, apelido que ganhou aquele time de Mazzola, Gabetto, Menti, Loik, Ballarin e Rigamonti. Porém, no ano de 1949, uma tragédia colocaria ponto final no maior esquadrão que o clube conseguiu formar. Foi uma fatalidade tão grande que nunca mais o Torino voltou a brilhar como antes. Nunca mais a Itália teria equipes genuinamente italianas tão ofensivas e vistosas como aquela. O futebol perderia um de seus mais fantásticos esquadrões. Vamos relembrar esse capítulo fascinante (e ao mesmo tempo triste) do futebol.

O início do maior esquadrão da Europa
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Depois do predomínio absoluto da Juventus na década de 30, bem como dos anos dourados da seleção italiana, bicampeã mundial em 1934 e 1938, a década de 40 tinha tudo para ser novamente dos italianos. Eles eram donos dos melhores jogadores do planeta, haviam vencido as duas últimas copas, e apenas o Uruguai era capaz de peitar a Squadra Azzurra. O Brasil corria por fora, mas também tinha respeito. Porém, ninguém contava com a eclosão justo nessa época da II Guerra Mundial, provocando o cancelamento das Copas de 1942 e 1946. Porém, o futebol italiano continuou, e Internazionale, Bologna e Roma venceriam os campeonatos de 40, 41 e 42, respectivamente. Porém, a partir daquele mesmo ano de 1942 nasceria o maior esquadrão da europa naquela década: o AC Torino (hoje, o clube se chama Torino Football Club). O time grená havia vencido apenas um campeonato italiano (em 1927/1928) e uma Copa da Itália, em 1935/1936, e via sua rival da cidade, a Juventus, se tornar um gigante na década de 30. Com uma verdadeira constelação de craques, orquestrada com maestria por Valentino Mazzola, o time inverteu os papéis, e conquistou a dobradinha Copa da Itália e Campeonato Italiano na temporada 1942/1943. O ponto alto foram as vitórias sobre a rival Juventus em ambos os turnos (2 a 0 e 5 a 2) e a conquista inapelável da Copa da Itália, onde o time não sofreu um gol sequer e marcou 20 tentos em apenas 5 jogos, com direito a goleada de 4 a 0 sobre o Venezia na final, além da vitória por 2 a 0 sobre a Roma nas semifinais. As conquistas chamaram a atenção de todos pela qualidade de jogo daquele time treinado pelo húngaro András Kuttik e comandado em campo por uma dupla que faria história: Mazzola e Gabetto. Ambos começavam uma sincronia perfeita no time, e faziam estragos sérios nas defesas rivais. O torcedor do “Toro” começava a sorrir novamente.

Hiato por culpa da guerra
As temporadas de 1943/1944 e 1944/1945 foram canceladas devido aos acontecimentos críticos da II Guerra Mundial. O tempo perdido poderia colocar em risco a maestria do Grande Torino do ano anterior? Que nada! Aquilo seria apenas o começo…

O retorno absoluto
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Em 1945 a Europa comemorava o fim da Guerra, mas começaria a sua reconstrução. Porém, no futebol, o Torino não precisaria de nenhum reparo. Estava perfeito e tinindo para recomeçar a brilhar. Dito e feito. O time disputou um confuso campeonato italiano na temporada 1945/1946, com apenas 14 times na “primeira fase” do torneio. A segunda reuniu os melhores colocados na primeira fase junto com os melhores das séries B e C. Em ambas, o Torino foi soberano e conquistou o título, com 19 vitórias, 4 empates e apenas 3 derrotas em 26 jogos na primeira fase e 11 vitórias e 3 derrotas na segunda e última fase. Esse modo de disputa foi muito parecido com a Copa João Havelange aqui do Brasil, em 2000, com a diferença de não ter existido fase mata-mata como aqui, mas sim pontos corridos. Vale lembrar que ao longo da década de 40, bem como em grande parte da de 50, não seria disputada a Copa da Itália. O torneio voltaria apenas em 1958. Com isso, o Campeonato Italiano seria a única vedete do país por mais de 10 anos.




A tragédia que chocou o mundo
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O campeonato italiano de 1948/1949 começou com o Torino como grande favorito, obviamente. O time seguia sua caminhada a passos galopantes rumo ao pentacampeonato italiano, até que uma tragédia colocaria ponto final no time mais brilhante que a Itália já havia visto. Com quatro pontos à frente da Internazionale, o time voou para Lisboa para participar de um amistoso contra o Benfica. No dia 4 de maio de 1949, às 17:05, o avião Fiat G.212 que levava todo o time do Torino e sua comissão técnica se chocou contra a basílica de Superga, perto de Turim. Ninguém sobreviveu. A Itália e o mundo entravam em estado de choque com o ocorrido. Um time incrível, que encantava e jogava sempre no ataque, e com estrelas que poderiam levar a Itália ao quase certo tricampeonato mundial em 1950, no Brasil, estava acabado. Não havia palavras. Não havia explicações. Era uma fatalidade que levou mais de 500 mil pessoas ao triste funeral de todos os jogadores, auxiliares, dirigentes e técnicos. No mesmo dia 4 de maio 1949, a Federação Italiana e os clubes declararam o Torino campeão daquele ano, confirmando o pentacampeonato. Depois da comoção, a equipe juvenil do time substituiu por completo a equipe profissional para jogar as quatro partidas restantes do campeonato. E o time mostrou que a mística e a alma de seus falecidos jogadores ainda estavam presentes, levando os garotos a vencerem todos os jogos, contra Genova (4×0), Palermo (3×0), Sampdoria (3×2) e uma emocionante e disputada partida final contra a Fiorentina (2×0). Num gesto bravo e de respeito sem igual, os quatro rivais do “Toro” também escalaram juvenis.


Os personagens (todos faleceram no desastre de Superga):

Valerio Bacigalupo: era o paredão no gol do Grande Torino. Jogou 137 jogos pelo clube grená, além de ter sido convocado pela Azzurra em cinco oportunidades. Tinha 25 anos.
Aldo Ballarin: defensor no Toro, jogou 148 partidas pelo clube e marcou 4 gols. Tinha dois irmãos também futebolistas, Dino Balarin (que também faleceu no acidente) e Sergio Balarin. Tinha 27 anos.
Virgilio Maroso: outra lenda do time, participou de 103 jogos pelo Toro, e atuou pela Azzurra em sete partidas. O estádio de futebol de sua cidade natal, Marostica, é dedicado a ele. Tinha 24 anos.

Pino Grezar: meio campista, era um dos grandes nomes do time. Atuou em 154 jogos pelo clube e em oito pela seleção italiana. Tinha 31 anos.

Mario Rigamonti: chegou com apenas 19 anos ao Torino, vindo do Brescia, mas só começou a jogar depois da II Guerra. Foi essencial no clube, e atuou em 140 jogos. Tinha 27 anos.

Eusebio Castigliano: meio campista que ia ao ataque, Castigliano marcou 36 gols em 115 partidas pelo Toro. Tinha 28 anos.

Romeo Menti: foi o autor do último gol do Grande Torino, no amistoso contra o Benfica, antes da tragédia. Tinha 30 anos.

Ezio Loik: ágil, eficiente e técnico, fez uma ótima dupla com Mazzola no meio campo do Torino. Marcou 70 gols em 176 jogos pelo Toro. Tinha 30 anos.

Guglielmo Gabetto: era um dos matadores do time e o segundo principal jogador. Marcou 122 gols em 219 jogos pelo Torino. Foi chamado para a guerra e conciliou atividades militares com futebolísticas. Pela Itália, marcou 4 gols em 9 jogos. Era um dos mais experientes do time, com 33 anos.

Valentino Mazzola: era o craque da equipe, e foi um dos maiores jogadores da história do futebol italiano e também mundial. A não realização de Copas na década de 40 prejudicou demais a carreira desse gênio, que poderia ter ganho os dois títulos facilmente com a azzurra, sem contar a Copa de 50. Técnico, driblador, com ótima visão de jogo e goleador, era o jogador perfeito e líder do time. Mazzola tinha 30 anos. As melhores definições para o craque vieram de dois italianos:
“Valentino jogava no Torino, juntava o Torino e era o próprio Toro”, Gianpaolo Ormezzano, escritor.
“O maior jogador italiano de todos os tempos foi Valentino Mazzola. Ele era um homem que podia carregar um time todo em suas costas”, Enzo Bearzot, técnico campeão do mundo com a Itália em 1982.
Franco Ossola: outro grande goleador do Torino, marcou 85 gols em 175 jogos pelo clube. Nascido em Varese, o estádio da cidade leva seu nome, como homenagem. Tinha 28 anos.

Técnicos: O Torino teve distintos treinadores no período em que brilhou. Muitos diziam que aquele time era tão fantástico que nem de treinador eles precisavam… Mas tudo bem, os responsáveis por “distribuir os coletes” na equipe foram András Kuttik (1942-1943), Luigi Ferrero (1945-1947), Mario Sperone (1947-1948), Roberto Copernico (1947-1948), e a dupla Leslie Lievesley e Ernest Erbstein (1948-1949), estes também vítimas da tragédia de superga.


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