sexta-feira, 17 de outubro de 2014

União gay italiana convence conservadores, mas irrita heterossexuais



Berlusconi (acima, posando em selfie feita pela ativista Vladimir Luxuria, à dir) apoia medida


Da BBC - O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, anunciou planos para o reconhecimento da união civil de casais homossexuais na Itália. Enquanto a igreja e políticos conservadores de peso dão sinais de aprovação, o próprio governo se mostra dividido.
Segundo os planos do governo italiano, casais homossexuais deverão ter, no futuro, os mesmos direitos de heterossexuais casados, seguindo um modelo que já está em vigor na Alemanha.
O governo planeja ainda permitir a adoção de crianças por parte de casais de gays e lésbicas desde que o bebê seja filho biológico de um dos parceiros e eles estejam unidos formalmente pela chamada "unione civile", ou união civil.
Esse tipo de união dispensaria o matrimônio civil, mas obrigaria os casais gays a se registrarem como parceiros. A união civil homossexual seria apenas um contrato que pode ser desfeito bem mais facilmente que um casamento.
Mesmo assim eles teriam todos os direitos dos casados perante a lei e perante à sociedade, inclusive o direito à herança do cônjuge, vantagens tributárias e poder de decisão em caso do parceiro ficar doente e inconsciente.
Já os heterossexuais ainda necessitam do matrimônio para atingir esse status jurídico, e tem que enfrentar o complicado processo de divórcio para se separar, o que muitos consideram injusto. Por isso se fala em "discriminação" dos heterossexuais.
Essa diferença no tratamento dado à união civil homossexual está causando uma grande polêmica, mesmo dentro do próprio Partido Democrático (PD) de Matteo Renzi.
"Pode escrever que estou furioso, é incompreensível que esta novidade valha só para casais homossexuais", disse o deputado do PD Roberto Giachetti ao jornalLa Repubblica.
Ivan Scalfarotto, subsecretário do ministério italiano das reformas e membro do PD, rebate falando que "dizer que os heterossexuais serão discriminados é homofobia cultural".
O partido de centro-direita Nuovo Centrodestra (NCD), parceiro do PD no governo de coalizão italiano, criticou a a proposta. "Há outros temas mais urgentes no país. A família deve continuar no centro de nossos esforços", comentou o ministro da infraestrutura Maurizio Lupi, do NCD.
Poucos dias atrás, o próprio líder do NCD, o ministro do Interior, Angelino Alfano, havia mandado uma circular aos prefeitos das cidades italianas ordenando que não reconhecessem casamentos homossexuais formalizados no exterior. A circular foi ignorada pela maioria dos prefeitos.
Alguns políticos como os deputados Nino Bosco (NCD) e Stefania Covello (PD) são a favor da união homossexual, mas contra a possibilidade de adoção por parte de gays e lésbicas.

Berlusconi e igreja

Apesar da reticência de alguns políticos de direita, a proposta teve um respaldo surpreendente em outros setores conservadores da sociedade italiana. O ex-premiê Silvio Berlusconi, líder do partido de oposição Forza Italia, apóia abertamente a união homossexual.
Berlusconi recebeu em sua casa, dias atrás, a transexual, ativista gay e ex-deputada comunista Vladimir Luxuria para um jantar, o que provocou a fúria de muitos membros de seu partido – principalmente depois que uma foto do jantar foi postada por Luxuria no Twitter.
A igreja católica também acena com uma maior aceitação da união gay. "A igreja respeita os casais homossexuais", disse o cardeal belga Godfried Danneels, considerado próximo ao papa Francisco.
"Nós não aceitaremos o matrimônio gay", esclareceu Danneels. "No entanto, se há países que querem formalizar contratos para que os homossexuais possam viver juntos com mais direitos, sem que se fale em matrimônio, é justo respeitá-los", disse o cardeal, consumando uma abertura inédita dos católicos à união entre gays e lésbicas.
Agora o governo deverá apresentar um projeto de lei no fim do mês, que será apreciado pelo Parlamento.
Mesmo com seu partido dividido quanto à questão, o premiê Renzi aposta no apoio de conservadores e também de membros do partido de oposição Movimento 5 Estrelas do cômico Beppe Grillo para regulamentar a união de casais de gays e lésbicas.
Para acalmar os ânimos de quem vê os heterossexuais em desvantagem, o governo poderá facilitar no futuro os procedimentos de divórcio.
http://www.bbc.co.uk/portuguese

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