Produção do vinho ainda é destaque na serra gaúcha | Foto: Samuel Maciel
O vinho era o grande combustível dos italianos que vieram para o Rio Grande do Sul. Praticamente toda família instalada aqui tratou de começar a cultivar a uva e a fazer sua própria bebida. Os Cainelli não foram diferentes. Gaspparo Cainelli chegou ao Brasil depois de 20 dias em um navio em 1875. Um dos filhos, Ricardo, iniciou a produção, assim como os demais moradores de Bento Gonçalves. Porém, o negócio parou na década de 1960 e somente nos últimos anos foi retomado. Já na quinta geração, Roberto Cainelli Júnior administra a vinícola, na casa onde moraram os ancestrais. No andar superior, estão preservados os móveis da época como parte de uma espécie de museu para lembrar a história da família.
Olhando para os retratos dos parentes que emigraram da Itália, Roberto conta como está sendo remontar o passado. “Em 2004, tivemos a ideia de reabrir. Hoje produzimos 35 mil litros de vinho”, afirma. Segundo ele, os italianos tiveram sucesso na constituição da região. “Eles eram muito mais empreendedores do que nós”, afirma. Até mesmo a pisa da uva foi recuperada para mostrar como os antigos fabricavam o vinho.
A produção da bebida é realizada desde a forma artesanal até a mais sofisticada em grandes vinícolas, que serviram até mesmo os papas que estiveram no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro do Vinho, a Serra é a maior e mais importante região vinícola do país, respondendo por cerca de 85% da produção nacional de vinhos.
E é o vinho, comprovadamente bom para o coração, desde que consumido com moderação, que conserva os moradores. Nelson Magri, de 79 anos, busca um garrafão a cada duas semanas em uma das vinícolas de Bento Gonçalves. Faz parte da rotina dele e dos conterrâneos com origem italiana tomar uma taça na hora das refeições.
Edredom entre os parreirais
A enóloga Bruna Cristofoli, 28 anos, viajou o mundo para voltar ao “ninho” e ajudar a desenvolver a vinícola, localizada na casa da família, no interior de Bento Gonçalves. Os porta-retratos no porão da propriedade mostram a história dos ancestrais que começaram a cultivar o vinho ao chegarem ao Brasil. “Os italianos que vieram para cá tinham valores e o princípio do trabalho. Por isso, desenvolveram tanto”, avalia.
A tendência das atuais gerações é preservar essa história, mas com um toque contemporâneo. “Quem não sabe da onde veio, não sabe para onde vai. Não queremos mostrar uma visão caricata.” Conforme ela, os italianos que vieram para cá têm uma visão poética da Itália. Como no início da colonização, ficaram praticamente isolados, preservaram muitos costumes. O dialeto, por exemplo, ficou praticamente intacto, enquanto que na região do Vêneto evoluiu e mudou bastante.
Uma das atrações para os turistas é relaxar em um edredom no meio dos parreirais. Conforme ela, a região colonizada pelos italianos é própria e talvez por conta disso atraia tantas pessoas curiosas para conhecer. “Não somos italianos, mas também não me identifico com o gaúcho de bombacha, por exemplo. Acho bacana, respeito, mas aqui é outro Brasil”, ressalta.
As mulheres da família mantêm a tradição da comida italiana e continuam cozinhando os pratos aprendidos com as mães e as avós. Massa caseira, pão, polenta, galinha e sagu ainda compõem as mesas. A mãe de Bruna, Maria de Lourdes Bavaresco Cristofoli, 57 anos, é quem prepara com a ajuda da cunhada Roseli Bertila Bertuzzo Cristofoli, 44 anos. Ambas foram criadas com a tradição italiana. A primeira nasceu em Veranópolis e a segunda em Dois Lajeados na época em que os ingredientes eram todos produzidos pelas famílias. Só se comprava sal e açúcar branco. O resto era cultivado na propriedade, assim como a uva, pelos pais e irmãos
Gente urbana em Porto Alegre
Na mala, o alfaiate Carmine Motta, 73 anos, trouxe da Itália a esperança de viver em um país com mais oportunidades. Com 19 anos deixou a família em Morano Calabro para se juntar ao irmão mais velho que estava em Porto Alegre. O pai dele já havia vindo para o Estado no início do século passado. Assim como eles, mais de 113 mil deixaram a região da Calábria para viver no Brasil, entre 1876 e 1925. A doutora em História do Brasil e mestre em Sociologia, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em História da Ufrgs, Rosemary Fritsch Brum, explica que a constituição étnica dos que vieram para a Região Metropolitana era do Sul da Itália. Muitos desse grupo já tinham uma profissão.
Segundo Rosemary, saíram do Vêneto cerca de 365 mil pessoas e da Campânia, 166 mil. Pouco tempo depois de chegar, Motta já estava empregado nas lojas Renner. Depois abriu seu negócio no bairro Santana. Retornou diversas vezes para Morano Calabro, que é considerada irmã da capital gaúcha. Aqui existe uma rua com o nome da cidade italiana e lá uma via chamada Porto Alegre. Aliás, existem 15 mil moradores de Porto Alegre descendentes de imigrantes vindos da região de Morano Calabro ou nascidos na lá.
Reuniões para cultuar tradição
Na Capital, os migrantes e seus descendentes reúnem-se semanalmente em entidades organizadas para preservar as tradições. A Sociedade Italiana faz frequentemente eventos e também promove cursos com essa finalidade. “Para quem não tinha nada na sua terra de origem, as perspectivas de um pedaço de terra e a liberdade de vencer sozinho, mais do que um sonho representava a certeza de que aqui alcançariam o bem-estar”, afirma o 2º vice-presidente, Antonio Alberti.
Por isso, todos celebram e ressaltam a esperança trazida da Europa por uma vida melhor. Na Sociedade Massolin de Fiori, um grupo de imigrantes e descendentes se encontra para tocar músicas italianas, jogar cartas e comer massa, além de beber vinho. O presidente Raul Somensi conta que, no local, são revividos os costumes dos colonos no campo. “As moças ficavam de um lado conversando e os moços de outro, jogando bocha e cartas”, ressalta. “Nosso objetivo é manter viva a cultura” diz. Grupos de música tocam até mesmo em apresentações culturais fora. Selvino Mariano Zilliotto é o presidente do Instituto Cantoria Massolin. As canções são todas em italiano e apresentadas nos encontros sempre com familiares.
E é o vinho, comprovadamente bom para o coração, desde que consumido com moderação, que conserva os moradores. Nelson Magri, de 79 anos, busca um garrafão a cada duas semanas em uma das vinícolas de Bento Gonçalves. Faz parte da rotina dele e dos conterrâneos com origem italiana tomar uma taça na hora das refeições.
Edredom entre os parreirais
A enóloga Bruna Cristofoli, 28 anos, viajou o mundo para voltar ao “ninho” e ajudar a desenvolver a vinícola, localizada na casa da família, no interior de Bento Gonçalves. Os porta-retratos no porão da propriedade mostram a história dos ancestrais que começaram a cultivar o vinho ao chegarem ao Brasil. “Os italianos que vieram para cá tinham valores e o princípio do trabalho. Por isso, desenvolveram tanto”, avalia.
A tendência das atuais gerações é preservar essa história, mas com um toque contemporâneo. “Quem não sabe da onde veio, não sabe para onde vai. Não queremos mostrar uma visão caricata.” Conforme ela, os italianos que vieram para cá têm uma visão poética da Itália. Como no início da colonização, ficaram praticamente isolados, preservaram muitos costumes. O dialeto, por exemplo, ficou praticamente intacto, enquanto que na região do Vêneto evoluiu e mudou bastante.
Uma das atrações para os turistas é relaxar em um edredom no meio dos parreirais. Conforme ela, a região colonizada pelos italianos é própria e talvez por conta disso atraia tantas pessoas curiosas para conhecer. “Não somos italianos, mas também não me identifico com o gaúcho de bombacha, por exemplo. Acho bacana, respeito, mas aqui é outro Brasil”, ressalta.
As mulheres da família mantêm a tradição da comida italiana e continuam cozinhando os pratos aprendidos com as mães e as avós. Massa caseira, pão, polenta, galinha e sagu ainda compõem as mesas. A mãe de Bruna, Maria de Lourdes Bavaresco Cristofoli, 57 anos, é quem prepara com a ajuda da cunhada Roseli Bertila Bertuzzo Cristofoli, 44 anos. Ambas foram criadas com a tradição italiana. A primeira nasceu em Veranópolis e a segunda em Dois Lajeados na época em que os ingredientes eram todos produzidos pelas famílias. Só se comprava sal e açúcar branco. O resto era cultivado na propriedade, assim como a uva, pelos pais e irmãos
Gente urbana em Porto Alegre
Na mala, o alfaiate Carmine Motta, 73 anos, trouxe da Itália a esperança de viver em um país com mais oportunidades. Com 19 anos deixou a família em Morano Calabro para se juntar ao irmão mais velho que estava em Porto Alegre. O pai dele já havia vindo para o Estado no início do século passado. Assim como eles, mais de 113 mil deixaram a região da Calábria para viver no Brasil, entre 1876 e 1925. A doutora em História do Brasil e mestre em Sociologia, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em História da Ufrgs, Rosemary Fritsch Brum, explica que a constituição étnica dos que vieram para a Região Metropolitana era do Sul da Itália. Muitos desse grupo já tinham uma profissão.
Segundo Rosemary, saíram do Vêneto cerca de 365 mil pessoas e da Campânia, 166 mil. Pouco tempo depois de chegar, Motta já estava empregado nas lojas Renner. Depois abriu seu negócio no bairro Santana. Retornou diversas vezes para Morano Calabro, que é considerada irmã da capital gaúcha. Aqui existe uma rua com o nome da cidade italiana e lá uma via chamada Porto Alegre. Aliás, existem 15 mil moradores de Porto Alegre descendentes de imigrantes vindos da região de Morano Calabro ou nascidos na lá.
Reuniões para cultuar tradição
Na Capital, os migrantes e seus descendentes reúnem-se semanalmente em entidades organizadas para preservar as tradições. A Sociedade Italiana faz frequentemente eventos e também promove cursos com essa finalidade. “Para quem não tinha nada na sua terra de origem, as perspectivas de um pedaço de terra e a liberdade de vencer sozinho, mais do que um sonho representava a certeza de que aqui alcançariam o bem-estar”, afirma o 2º vice-presidente, Antonio Alberti.
Por isso, todos celebram e ressaltam a esperança trazida da Europa por uma vida melhor. Na Sociedade Massolin de Fiori, um grupo de imigrantes e descendentes se encontra para tocar músicas italianas, jogar cartas e comer massa, além de beber vinho. O presidente Raul Somensi conta que, no local, são revividos os costumes dos colonos no campo. “As moças ficavam de um lado conversando e os moços de outro, jogando bocha e cartas”, ressalta. “Nosso objetivo é manter viva a cultura” diz. Grupos de música tocam até mesmo em apresentações culturais fora. Selvino Mariano Zilliotto é o presidente do Instituto Cantoria Massolin. As canções são todas em italiano e apresentadas nos encontros sempre com familiares.
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