quinta-feira, 5 de maio de 2016

Torino - A Tragédia de Superga

O esquadrão imortal

Grandes feitos: Pentacampeão italiano consecutivo* (1942/43, 1945/46, 1946/47, 1947/48, 1948–49) e campeão da Copa da Itália em 1942/1943. *Nota: em 43/44 e 44/45 não houve disputa por conta da II Guerra Mundial.
Time base: Valerio Bacigalupo; Aldo Ballarin e Virgilio Maroso; Pino Grezar, Mario Rigamonti e Eusebio Castigliano; Romeo Menti, Ezio Loik, Guglielmo Gabetto, Valentino Mazzola e Franco Ossola. Técnicos: András Kuttik (1942-1943), Luigi Ferrero (1945-1947), Mario Sperone (1947-1948), Roberto Copernico (1947-1948), e Leslie Lievesley e Ernest Erbstein (1948-1949).


No dia 4 de maio de 1949, às 17 horas e 05 minutos, sob forte nevoeiro, o avião FIAT G212 da companhia italiana Aeritalia chocou-se contra a fachada da basílica que domina a colina de Superga, situada nos arredores de Turim. O avião transportava a equipe e toda comissão técnica do glorioso Torino ( 31 pessoas). Também faleceram, além de toda a delegação do clube piemontês, jornalistas esportivos e dirigentes do Torino. O acidente ficou conhecido como a “Tragédia de Superga”. O time grená estava voltando de Lisboa onde participara do amistoso contra o Benfica, em homenagem ao jogador português Francisco Ferreira. A noticia do desastre repercutiu rapidamente em toda a Bota.

 Vittorio Pozzo, treinador da Azzurra, vencedor das copas de 1934 e 1938, teve a dura missão de reconhecer os corpos daqueles que foram chamados “i caduti di Superga”. 500.000 pessoas acompanharam o cortejo que teve inicio na Piazza Castello e percorreu as principais ruas de Turim. 

Não foi apenas o trauma de uma tragédia envolvendo celebridades que caracterizou o luto da capital piemontesa e de toda Itália, mas o súbito e inesperado desaparecimento do time símbolo de uma época, detentor de recordes impressionantes. Fundado em 1906, o Torino conheceu suas primeiras glórias com a conquista de dois campeonatos italianos, um em 1927, título esse retirado por denúncia de corrupção (mais adiante irei abordar esse caso em outro post) e outro em 1928. Entretanto, foi o pequeno industrial piemontês Ferruccio Novo, eleito presidente em 1939, que construiu o “Grande Torino”, graças as contratações do centroavante do rival Juventus, Gabetto e dos dois craques do Venezia, Mazzola e Liok.

O Torino ganhou o titulo de 1943, e já no pós guerra, conquistou quatro scudetticonsecutivos, de 1946 a 1949, sendo que esse último lhe foi entregue como título póstumo. Durante esse período, o Torino dominou o futebol italiano e seus principais rivais, Juventus e Inter. A equipe de Turim terminou a temporada de 1946-1947 com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado, Na temporada anterior, a diferença foi de 16 pontos. Seu jogo ofensivo ia de encontro com a tradição do futebol italiano (naquela época já defensivo), iniciada pela Juventus, já no início dos anos 30. Os jogadores do Torino adoravam placares dilatados como, por exemplo, a goleada histórica sobre a Roma, 7 a 1, fora de casa e o 5 a 0 contra a Inter, durante a temporada 1947-1948. Embarque para o Brasil em 1948 Todo esse sucesso estava inscrito dentro de um contexto histórico difícil, que era o da reconstrução de uma Itália derrotada, de uma cidade que padeceu com os bombardeios aliados e vivenciou as atrocidades da ocupação nazista. As conquistas do Torino e seus recordes ajudavam a esquecer, de certo modo, as dificuldades do momento e os horrores de um passado recente e alvitrava uma imagem otimista sobre o futuro da Itália. Os sucessos do Grande Torino reforçavam junto aos operários da capital piemontesa a áurea granata (grená) de uma equipe que lhes permitiam, duas vezes ao ano, se vingar do time do patrão: a Juventus da Fiat. Logo após a tragédia, os cadutti foram homenageados em todo planeta. A FIFA ordenou um minuto de silencio nos campos de futebol do todo mundo. Na Argentina, o River Plate fez alguns jogos em beneficio às viúvas e órfãos das vitimas do desastre. No Brasil, não foi diferente, como ilustrou, com propriedade, Antonio Roque Citadini em seu site: “Em 8 de maio, no Estádio do Pacaembu, o Corinthians jogou com a Portuguesa e a renda foi destinada às famílias dos jogadores vítimas da tragédia. O Pacaembu lotado refletia a solidariedade dos paulistanos. O presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, Sr. Maximiliano Ximenes, fez um discurso que provocou lágrimas na platéia. Na fila olímpica formada pelos atletas uma novidade que elevou a tensão no estádio: os jogadores do Corinthians vestiam o uniforme grená do Torino”.

Os personagens (todos faleceram no desastre de Superga):
Valerio Bacigalupo: era o paredão no gol do Grande Torino. Jogou 137 jogos pelo clube grená, além de ter sido convocado pela Azzurra em cinco oportunidades. Tinha 25 anos.
Aldo Ballarin: defensor no Toro, jogou 148 partidas pelo clube e marcou 4 gols. Tinha dois irmãos também futebolistas, Dino Balarin (que também faleceu no acidente) e Sergio Balarin. Tinha 27 anos.
Virgilio Maroso: outra lenda do time, participou de 103 jogos pelo Toro, e atuou pela Azzurra em sete partidas. O estádio de futebol de sua cidade natal, Marostica, é dedicado a ele. Tinha 24 anos.
Pino Grezar: meio campista, era um dos grandes nomes do time. Atuou em 154 jogos pelo clube e em oito pela seleção italiana. Tinha 31 anos.
Mario Rigamonti: chegou com apenas 19 anos ao Torino, vindo do Brescia, mas só começou a jogar depois da II Guerra. Foi essencial no clube, e atuou em 140 jogos. Tinha 27 anos.
Eusebio Castigliano: meio campista que ia ao ataque, Castigliano marcou 36 gols em 115 partidas pelo Toro. Tinha 28 anos.
Romeo Menti: foi o autor do último gol do Grande Torino, no amistoso contra o Benfica, antes da tragédia. Tinha 30 anos.
Ezio Loik: ágil, eficiente e técnico, fez uma ótima dupla com Mazzola no meio campo do Torino. Marcou 70 gols em 176 jogos pelo Toro. Tinha 30 anos.
Guglielmo Gabetto: era um dos matadores do time e o segundo principal jogador. Marcou 122 gols em 219 jogos pelo Torino. Foi chamado para a guerra e conciliou atividades militares com futebolísticas. Pela Itália, marcou 4 gols em 9 jogos. Era um dos mais experientes do time, com 33 anos.
Valentino Mazzola: era o craque da equipe, e foi um dos maiores jogadores da história do futebol italiano e também mundial. A não realização de Copas na década de 40 prejudicou demais a carreira desse gênio, que poderia ter ganho os dois títulos facilmente com a azzurra, sem contar a Copa de 50. Técnico, driblador, com ótima visão de jogo e goleador, era o jogador perfeito e líder do time. Mazzola tinha 30 anos. As melhores definições para o craque vieram de dois italianos:
“Valentino jogava no Torino, juntava o Torino e era o próprio Toro”, Gianpaolo Ormezzano, escritor.
“O maior jogador italiano de todos os tempos foi Valentino Mazzola. Ele era um homem que podia carregar um time todo em suas costas”, Enzo Bearzot, técnico campeão do mundo com a Itália em 1982.

Franco Ossola: outro grande goleador do Torino, marcou 85 gols em 175 jogos pelo clube. Nascido em Varese, o estádio da cidade leva seu nome, como homenagem. Tinha 28 anos.

Técnicos: O Torino teve distintos treinadores no período em que brilhou. Muitos diziam que aquele time era tão fantástico que nem de treinador eles precisavam… Mas tudo bem, os responsáveis por “distribuir os coletes” na equipe foram András Kuttik (1942-1943), Luigi Ferrero (1945-1947), Mario Sperone (1947-1948), Roberto Copernico (1947-1948), e a dupla Leslie Lievesley e Ernest Erbstein (1948-1949), estes também vítimas da tragédia de superga.



Blog do Ale'Italia
Leila Ossola





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