Cenas gravadas pelo celular de um ex-detento da 64ª delegacia da Polícia Civil em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, e exibidas neste domingo (11) pelo "Fantástico", mostram presos beneficiados pelo "comércio de mordomias". Eles contam com videogame, aparelho de DVD, celular, churrasco e visitas íntimas. Tudo, segundo o ex-detento, que não quis se identificar, comprado por intermédio dos policiais.
Na delegacia você compra tudo. Compra visita íntima, visita extra dos teus parentes, você compra regalias", diz o ex-detento. As cenas que ele gravou no celular mostram um churrasco na delegacia e uma cela especial, com TV e DVD. Em determinado momento, aparece um prato com pó branco. Durante o churrasco, os presos utilizam uma faca.
Segundo o ex-detento, existem duas salas adaptadas para receber os presos "especiais". Para utilizá-las, o preso deve pagar um valor fixo no ato (cerca de R$ 3 mil) e a taxa de manutenção (de R$ 100 a R$ 300 por semana). Cada hora na sala de visita íntima, com tranca pelo lado de dentro, custa ao preso R$ 50, segundo o ex-detento.
Quem não tem dinheiro para pagar as celas especiais enfrenta superlotação – celas com capacidade para 20 pessoas abrigam cerca de 80. Ele diz que as famílias ajudam com dinheiro para que os presos possam pagar pelos benefícios, evitando as celas lotadas.
O "Fantástico" encaminhou as imagens à Secretaria de Segurança Pública. "Nós fizemos um 'pente-fino' nas galerias que compõem o setor. Conseguimos localizar duas baterias de telefone", diz Ivanete Fernanda de Araújo, corregedora interna da Polícia Civil.
O delegado Fernando Reis diz que o pó que aparece no vídeo não é cocaína. "Carreiras de entorpecentes não são tão grossas". Sobre os aparelhos, Fernando minimizou: "Geladeira, televisão. Isso é o mínimo de estrutura para dignificar exatamente o ambiente do encarcerado".
Para o secretário de Segurança do Rio, as imagens são revoltantes. "No Rio de Janeiro prende-se 250 pessoas por semana. O sistema penitenciário não tem condições de absorver isso. É óbvio que essa situação fertiliza esse mercado promíscuo", disse. A corregedoria da Polícia Civil do Rio abriu inquérito para investigar possíveis crimes de corrupção e extorsão na 64ª Delegacia.
Fonte: O Globo on line
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