Aprovar uma lei eleitoral para favorecer a estabilidade governamental e consolidar os dois pólos de centro-direita e centro-esquerda: estes são os desafios que a classe política italiana deve enfrentar em 2008 para responder ao crescente desencanto de uma opinião pública cada vez mais cética com seus líderes. A necessidade de uma reforma da lei eleitoral tem sido lembrada várias vezes pelo presidente italiano, Giorgio Napolitano, que voltou a advertir em 20 de dezembro que "não cabe a mim sugerir soluções específicas, mas sim alertar sobre as graves conseqüências que acarretariam um novo fracasso" nos acordos entre as diferentes forças políticas. Analistas e líderes políticos coincidem em afirmar que a atual lei eleitoral, aprovada sob o governo de Silvo Berlusconi, é em grande parte responsável pela instabilidade crônica que caracteriza a maioria que apóia o Executivo de Romano Prodi.
A lei definida como "uma porcaria" por seu próprio autor não consegue formar consenso sobre como deve ser reformada. Silvio Berlusconi, como líder da oposição de centro-direita, e o líder do recém nascido Partido Democrático (e prefeito de Roma), Walter Veltroni, abriram uma fase de diálogo para definir as novas regras do jogo das urnas, mas enfrentam a oposição e as tentativas de obstrução dos partidos menores de suas colisões, que temem ser prejudicados por uma nova norma que conceda "prêmios de maioria" aos partidos mais votados. Os principais blocos do panorama político italiano, por sua vez, estão passando por um processo de concentração marcado por constantes dificuldades: o Partido Democrático, surgido da aliança entre ex-comunistas e ex-democratas-cristãos, continua sacudido por tensões internas, mas não é que as coisas estejam indo melhor para o que há poucos meses era a Casa da Liberdade, liderada por Berlusconi. O ex-primeiro-ministro decidiu lançar um novo partido que reúna a área centrista e moderada da centro-direita, o Partido da Liberdade, mas seus aliados, tanto os ex-democratas-cristãos quanto os direitistas (Aliança nacional) e federalistas do norte (Liga Norte) demonstraram-se frios ou abertamente opostos à iniciativa.
Esta conflitante dinâmica interna soma-se às divergências sobre a lei eleitoral, enfatizando o poder de chantagem que os sócios menores de cada coalizão têm sobre seus aliados, já que sem seus votos não podem alcançar a maioria necessária para governar o país. E enquanto os partidos lutam por suas cotas de poder e as regras eleitorais que podem ou não permitir barrá-las, a opinião pública italiana assiste ao espetáculo com um ceticismo cada vez maior: o problema, pensam muitos, não é quem ganha as eleições, mas que - ganhe quem ganhe - ninguém parece estar à altura para governar. O ano de 2007 foi o melhor da explosão da anti-política. O comediante Beppe Grillo, autor do blog mais visitado do país, converteu-se em uma figura popular denunciando os políticos, enquanto o "best-seller" do ano, escrito por dois jornalistas do Corriere de La Serra, descrevia os dirigentes como "A casta", um grupo de poder intocável e afastado das preocupações do povo que apenas tenta manter seus privilégios. A gota d'água veio nos últimos meses do ano, quando tanto o Times de Londres quanto o New York Times publicaram artigos em que descreviam a Itália como um país deprimido e sem perspectivas, no qual "a dolce vita tornou-se amarga" e onde mais que os problemas em si preocupa a falta de soluções visíveis, ou de quem esteja em condições de aplicá-las. "Quando um país inteiro entra em crise sobre o tema 'quem somos e para onde estamos indo', quer dizer que estamos alcançando novos níveis de histeria, e esta explosão de provincianismo me parece dolorosa e realmente deprimente", sentenciou o romancista Umberto Eco, no artigo do Times.
Da Ansa
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