Se alguma escola de samba fosse apresentar um enredo contando a história do Carnaval, certamente alguns expectadores na avenida ficariam surpresos com o fato de referências ao Brasil aparecerem somente do meio para o fim do desfile. Isso ocorreria porque, de fato, o país entrou na história da festa popular apenas a partir do descobrimento pelos portugueses, no ano 1.500, quando essa manifestação cultural já contava mais de mil anos de trajetória.
O Carnaval teria surgido ainda antes de Cristo, segundo a diretora de documentação da Fundação Joaquim Nabuco, Rita de Cássia Araújo. Ela revela que existem pelo menos duas correntes entre os pesquisadores para explicar a criação da festa. A primeira afirma que o Carnaval tem como origem as festas populares que ocorriam na era pré-cristã no Hemisfério Norte, principalmente no Egito, em Roma e na Grécia, para celebrar o fim do inverno e a chegada da época do plantio de lavouras. Não havia referências religiosas, mas já havia as brincadeiras e as máscaras.
De celebração agrária a festa ganhou contornos religiosos quando o cristianismo atribuiu significado à festa, que passou a ser vinculada à Páscoa - a Terça-Feira Gorda é 47 dias antes Domingo Páscoa. A festa, então, ganhou o sentido de tempo de diversão e exagero de comida e bebida que antecede a entrada num período de reflexão e jejum dos cristãos antes da Páscoa, quando os fiéis teriam de se recolher e rever sua vida.
Ainda segundo Rita, a segunda corrente de pesquisadores diverge da idéia de festa surgida há tanto tempo, sustentando que o Carnaval tem múltiplas origens, com diferentes significados e contextos que levara ao seu nascimento em cada região.
No Brasil, o Carnaval chegou com os portugueses com o nome de intrudo, baseado principalmente em brincadeiras em que pessoas sujavam umas as outras como o mela-mela. "Havia uma distinção social nessa festa. As famílias brancas brincavam nas casas e os escravos brincavam nas ruas", diz Rita.
Com a declaração da independência do Brasil, em 1822, o intrudo, de raiz colonial, passou a ser visto como algo negativo e atrasado. Por isso, a partir da iniciativa de intelectuais, artistas e imprensa, há um rompimento com a tradição colonial na segunda metade do século XIX e a adoção no país de modelos de festa trazidos da Itália e da França, já com o nome de Carnaval (que teria o sentido de "adeus à carne"). "Aí que entraram os bailes e os desfiles nas ruas com alegorias", destaca Rita.
Redação Terra
Colaboração Mirna Lanius Borella Bravo
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