quarta-feira, 29 de abril de 2009

Um universo criado pelas cores


Mostra reúne 60 obras do pintor ítalo-brasileiro Volpi, com enfoque nas décadas de 50 e 60

Considerado um dos maiores coloristas da pintura brasileira, Alfredo Volpi ganha, a partir de quarta-feira, uma mostra com 60 obras no Instituto Moreira Salles. Em Volpi: dimensões da cor, a curadora Vanda Kablin optou por um recorte nas décadas de 50 e 60 na obra do artista, depois de uma longa pesquisa com colecionadores do Rio e de São Paulo. Durante a exposição, será lançado o livro 6 perguntas sobre Volpi, um debate em que a curadora lança seis questões sobre o pintor e seis grandes intelectuais das artes respondem, com diferentes pontos de vista: Rodrigo Naves, Sônia Salzstein, Lorenzo Mammì, Paulo Sérgio Duarte, Alberto Tassinari e o pintor Paulo Pasta. O livro estará à venda no lugar.

– Volpi nunca aderiu a nenhum movimento, mas, a essa época, flertou com o concretismo brasileiro – esclarece Vanda.

Em 1898, aos 2 anos, Alfredo Volpi deixou sua cidade natal, Lucca, na Itália, no auge da imigração italiana para o Brasil. Seus pais se estabeleceram em São Paulo, como tantos conterrâneos, e a família se manteve com a venda de queijos e salames. Para aumentar o rendimento familiar, o filho tornou-se tipógrafo e fez ornamentação de paredes e outros trabalhos que exigissem bom gosto e um apuro estético que já começava a se denunciar.

Em 1914, pintou sua primeira tela e, até 1988, quando morreu, não parou de produzir. A relação de telas catalogadas já ultrapassa 2.400 ítens de importância inegável para as artes plásticas brasileiras:

– Ele nunca se naturalizou no país, mas não se pode falar em linguagem pictórica brasileira sem falar em Volpi – resume a curadora.

Volpi iniciou sua produção embebido no naturalismo do fim do século 19, escola que primava pela representação realista e que foi perdendo o apelo aos poucos, com o advento da fotografia. Quanto mais se distanciava do naturalismo, mais o pintor se aproximava dos ares modernistas, que o inspirou claramente a partir dos anos 50, depois de uma viagem à Europa, na qual conheceu de perto o trabalho de Giotto e Henri Matisse e se encantou.

Jogos cromáticos




Na década de 50, opta por uma economia tonal notável, com tons mais sóbrios e menos variados, opção que seria virada ao avesso na década seguinte, quando as telas se enchem novamente de cores vibrantes e tropicais. Nos anos 60, são os fragmentos das paisagens já simplificadas que se tornam elementos de quadros modernos, repetindo-se em jogos formais e cromáticos.

– Volpi optou pelo abandono cada vez mais notável das formas conhecidas e, assim, passou a usar detalhes das fachadas e das paisagens marítimas que já pintava e as formas passaram a ser mais ferramentas de um exercício cromático do que representações figurativas de fato – conta Vanda. – Nesse contexto, nem mesmo as bandeiras são compreendidas como objetos: são quadrados dos quais foram excluídos triângulos, estão longe da bandeira de festa junina a que muitos atribuem a forma.

Outro aspecto particular da obra do pintor é a técnica que adotou depois da visita a seu continente natal: a têmpera. Pouco usado por artistas contemporâneos no Brasil, o método consistia em mesclar pigmentos a ovos, cravos da índia e vinagre, numa mistura que tornava a tinta mais aderente e ideal para o uso de chassis de madeira.

– Seu primeiro contato com a têmpera foi numa capela em Pádua, cujo teto Giotto pintou– observa Vanda. Ele ficou obcecado pelo lugar, voltou 18 vezes durante a mesma viagem para observar os detalhes, e acabou por adotar a fabricação artesanal de seus materiais: tanto das tintas quanto dos chassis.

Como a tinta misturada a claras de ovos se tornava rala, as pinceladas das obras de Volpi são facilmente identificáveis.

A exposição reúne telas e chassis majoritariamente pequenos, no que o pintor classificou como tamanho "um", de 24cm X 33cm. As obras pequenas, no entanto, não devem ser encaradas como meros ensaios para versões ampliadas: já carregavam o vigor e a excelência de obras primas.

– Essas obras foram expostas no máximo duas vezes, são quase inéditas para o público e até mesmo para especialistas. Algumas eram reproduzidas mais tarde em tamanhos maiores, outras não – salienta.

Nenhum comentário: