domingo, 14 de junho de 2009

Estado perde o frade das letras


Patrono da 51ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 2005, Frei Rovílio Costa, 74 anos, morreu às 8h30min deste sábado. 13. em sua casa, no bairro Partenon, na Capital, vítima provavelmente de um infarto. O velório se iniciaria às 14h deste sábado no Convento dos Capuchinhos (Rua Paulino Chaves, 291, bairro Santo Antônio). A missa de corpo presente será neste domingo, às 10h, na Igreja de Santo Antônio (Luiz de Camões, 35, bairro Santo Antônio), seguido de enterro no cemitério do convento.Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Mestre em Educação e Livre Docente em Antropologia Cultural, Frei Rovílio era um dos maiores pesquisadores e editores de livros sobre a imigração no Rio Grande do Sul. Esse trabalho nasceu de um desejo de recuperar o microcosmo de sua própria infância – como admitiu em entrevista ao caderno Cultura, de ZH, em 2005, ano em que foi um dos finalistas do Prêmio Fato Literário, da RBS.Escreveu mais de 20 livros e, na direção da EST Edições, o Frei das Letras promoveu, desde 1973, a publicação de mais de 2 mil títulos, envolvendo mais de 3 mil autores, que recontam a história da imigração italiana (a sua própria origem), a da alemã (nacionalidade do único pastor luterano que morava na Veranópolis em que cresceu) e judaica (como o médico que tratava de sua família). Nos últimos anos, dedicou-se à escravidão negra.Caçula de sete irmãos, Rovílio contou a ZH que a opção pelo sacerdócio começou a germinar enquanto o ainda menino estava prostrado por uma meningite. Hospitalizado por três anos, o garoto começou a perceber o poder tranquilizador que exercia sobre os doentes a chegada de um padre.Em 1969, tornou-se padre. Nessa mesma década, passou a pesquisar sobre a história da imigração. Professor em Vila Ipê (na época distrito de Vacaria), Rovílio frequentava uma bodega na qual era comum encontrar velhos moradores da comunidade, jogando quatrilho e tomando cachaça ou vinho de garrafão. Os nonni contavam causos, falavam alto em dialeto, relembravam a história viva da colônia.Preocupado em preservar toda aquela memória, Rovílio começou a tomar notas obsessivamente e a organizar as narrativas que lhe eram contadas.Escreveu uma série de histórias para o jornal Correio Rio-Grandense, de Caxias do Sul, material nunca publicado. Anos mais tarde, com base em suas notas, Frei Rovílio lançaria um dos livros clássicos sobre a colonização: Imigração Italiana: Vida, Costumes e Tradições.– Documentos, registros, nomes e datas são o esqueleto da história. O que precisamos é preencher o máximo possível esse esqueleto com a carne do relato cotidiano – comentava o frade.


A repercussão
Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor
“Foi um dos mais fecundos editores brasileiros ao publicar milhares de títulos em sua editora. E fez algo que considero uma façanha admirável: publicou toda a suma teológica de São Tomás de Aquino, algo que impressiona pelo volume e pelo cuidado com que foi editado. Pelo lado pessoal, era ainda um grande amigo. Sempre que nos encontrávamos, era como se reiniciássemos uma conversa, mesmo se fizesse meses que não nos falássemos. É uma grande perda, de um intelectual, grande e talentosíssimo editor.”

João Carneiro, presidente da Câmara Rio-grandense do Livro
“Eu o conheci em função da Feira do Livro. Ele foi patrono da 51ª edição (em 2005), muito atuante. Era uma pessoa ótima de conviver, tinha um humor maravilhoso, um espírito jovem. Sempre que havia um grupo, ele era aquele que animava todos. Como editor, frei Rovílio era uma pessoa que apostava no conteúdo e não no apelo comercial da obra. Era alguém que primava por publicações de grande valor histórico.”

Luis Alberto De Boni, professor de filosofia e amigo do frei há cerca de 50 anos
“Acima de tudo, ele foi um padre dedicado totalmente às pessoas. Não dá para imaginar quantos doentes ele atendia o dia inteiro. Era um trabalho de doação à vida religiosa. Ele tinha um lado humano muito forte. Era um homem que ajudava a todos e não guardava mágoas. Uma pessoa única entre os capuchinhos e no nosso meio cultural.”

Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano
“Era daquelas pessoas muito importantes. Eu tinha uma relação muito boa com ele. Foi um grande editor, uma presença amiga. Dedicou-se a publicar sobre coisas que deviam ser divulgadas.”


Multimídia
Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre de 2005, Frei Rovílio escreveu mais de 20 livros e editou mais de 2 mil obras
No tempo em que serviu como militar
Com o hábito de frade capuchinho


Amigos de Frei Rovílio lamentam sua morte
"É uma grande perda, de um intelectual, grande e talentosíssimo editor", afirma Luiz Antonio de Assis Brasil

Veja o que Dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor, e Luis Alberto De Boni, professor de filosofia e amigo do frei há cerca de 50 anos comentam sobre Rovílio. — Era daquelas pessoas muito importantes. Eu tinha uma relação muito boa com ele. Foi um grande editor, uma presença amiga. Se dedicou a publicar sobre coisas que deviam ser divulgadas — afirma Dom Dadeus Grings. — Foi um dos mais fecundos editores brasileiros ao publicar milhares de títulos em sua editora. E fez algo que considero uma façanha admirável: publicou toda a suma teológica de São Tomás de Aquino, algo que impressiona pelo volume e pelo cuidado com que foi editado. Pelo lado pessoal, era ainda um grande amigo. Sempre que nos encontrávamos, era como se reiniciássemos uma conversa, mesmo se fizesse meses que não nos falássemos. É uma grande perda, de um intelectual, grande e talentosíssimo editor — conta Luiz Antonio de Assis Brasil. — Acima de tudo, ele foi um padre dedicado totalmente às pessoas. Não dá para imaginar quantos doentes ele atendia o dia inteiro. Era um trabalho de doação à vida religiosa. Ele tinha um lado humano muito forte. Era um homem que ajudava a todos e não guardava mágoas. Uma pessoa única entre os capuchinhos e no nosso meio cultural — ressalta Luis Alberto De Boni.


Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, RS, impressa e on-line
Central de Notícias BrasilAlemanha.

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