quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Itália procura endurecer a repressão contra os atos de violência homófobos

A Itália poderá em breve se munir de uma lei que reprime especificamente os atos de violência contra os homossexuais e os transexuais, dobrando as penas previstas. O texto, apresentado por Paola Concia (Partido Democrata, centro-esquerda), está sendo examinado há quase um ano pela comissão de justiça da Assembleia Nacional, a fim de elaborar um artigo que possa colocar a direita e a esquerda de acordo. Ele deverá ser objeto de uma discussão e uma votação na primeira semana do mês de outubro.Portanto, os autores de uma nova tentativa de incêndio criminoso, na manhã de domingo (20), contra Qube, uma casa noturna gay romana, não serão afetados. Assim como os desconhecidos que agrediram, no dia 19 de agosto, o cantor Emilio Rez. Ou o homem que se apelidou de Svastichella ("pequena suástica"), autor de uma agressão a faca contra um casal homossexual, no dia 22 de agosto. Ou ainda os responsáveis pela explosão de uma bomba diante de um bar gay, que causou danos materiais e um ferido, no dia 2 de setembro.


Grupo de homossexuais celebra a inauguração de uma "gay street" em Roma (agosto de 2007)

Esses atos de violência tiveram como cenário a rua San Giovanni in Laterano, chamada de "gay street" de Roma, uma cidade onde os homossexuais se deparam com a hostilidade declarada de diversos movimentos de extrema direita muito ativos. Mas outras agressões ocorreram em Florença (Toscana), em Nápoles (Campanha) e na Puglia. Segundo a organização Arcigay, os atos de violência homofóbicos são quase diários na península.Na ausência de estatísticas, a Arcigay realiza todos os anos sua própria contagem dos fatos mais graves. Nos nove primeiros meses do ano de 2009, foram lamentáveis 8 homicídios, 52 agressões, 7 extorsões e 5 atos de vandalismo. Aos quais se somam inúmeras discriminações, especialmente em entrevistas de emprego.A Itália, país homófobo? "O atual clima de impunidade é impressionante", explica Paola Concia, que se apresenta como a "única deputada homossexual declarada". "Muitas pessoas preconceituosas não hesitam em se expressar contra gays ou transexuais. A homofobia é cada vez menos reprimida e mais difundida. Além disso, nenhum governo realmente fez uma campanha em favor da igualdade sexual. Essa ideia ainda ofende as instituições, quer se trate da classe política, quer se trate da Igreja. Enfim, a cultura italiana é marcada por um medo da diversidade".A proposta de lei que deve ser discutida no Parlamento "é um primeiro passo", explica Concia, que menciona as várias reticências expressas na comissão, especialmente por parte dos membros do partido xenófobo da Liga Norte, promotora de valores viris, e da União do Centro, próxima do Vaticano.Concia encontrou recentemente a ministra da Igualdade, Maria Carfagna. Esta lhe garantiu que o governo estava disposto a fazer uma campanha de sensibilização. "Ela admitiu que o problema era real", relata.O prefeito de Roma, Gianni Alemanno (Povo da Liberdade, direita), condenou "esses atos de violência de uma minoria anti-gay, que ele prometeu prender", ao passo que o secretário da Segurança da cidade propôs a instalação de câmeras na área da rua San Giovanni in Laterano...Em sua edição de domingo, o jornal de esquerda "La Repubblica" publicou o depoimento de um homem agredido no dia 22 de agosto. "Roma é dura para os homossexuais", ele diz.


Le Monde

Philippe Ridet
Em Roma (Itália)
Tradução: Lana Lim

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