Giuseppe Tornatore lança ‘Baaria’ em festival italiano.
Superprodução de R$ 65 milhões recebeu críticas severas.
Dolores Orosco
Do G1, em São Paulo
O cineasta italiano Giuseppe Tornatore, vencedor do Oscar em 1990 por “Cinema Paradiso”, lançou em São Paulo, nesta quarta-feira (25), “Baaria”, superprodução que abriu o Festival de Veneza e que o diretor considera o “mais íntimo” de seus trabalhos. O longa aborda o desenvolvimento do comunismo através da saga de três gerações de uma família da Bagheria – região da Sicília também conhecida como Baaria e terra natal de Tornatore.
Cena do filme 'Baaria', de Giuseppe Tornatore. (Foto: Divulgação)
“É o meu filme mais íntimo e sentimental. Bem mais que ‘Cinema Paradiso’”, avalia o cineasta, cuja obra é tema de retrospectiva dentro da programação da 5ª Semana Pirelli de Cinema Italiano, que acontece até o dia 3 de dezembro, em São Paulo.
Além de “mais íntimo”, “Baaria” é também um dos filmes mais caros da história da Itália. Com um orçamento de R$ 65 milhões, o longa reúne 300 atores e tem pretensões épicas. Nas suas duas horas e meia de duração o que não faltam são planos abertos nos quais figurantes se amontoam em cenários grandiosos ao som instrumental de Ennio Morricone – parceiro constante de Tornatore.
“Para mim é natural ter Morricone em meus projetos desde o início. É um músico excepcional, mas não se comporta assim. Para ele, cada trabalho é um novo desafio”, elogia o cineasta. “A trilha de ‘Baaria’ e ‘Cinema Paradiso’ parecem conversar entre si”.
Apesar de tantos apostos, “Baaria” foi recebido com frieza pela crítica em Veneza. “Decorativo, sem nada de substância”, classificou o jornal “Il Manifesto”, entre os mais irritados com a interpretação de Tornatore sobre a história política do país e a forma utópica, quase ingênua, como é tratado o Partido Comunista – ao qual o diretor foi filiado na juventude.
Ironicamente, um dos entusiastas da produção foi o primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Em entrevistas, o premiê chegou a declarar que “ninguém deveria perder a oportunidade de assistir a essa fita impressionante”.
Elogio do qual Tornatore parece não se gabar. “Não tenho como controlar as convicções políticas do público dos meus filmes”, respondeu o diretor ao ser questionado sobre as declarações do líder italiano. “Não compartilho da lógica de Berlusconi e da forma como meu país é governado”.
“Baaria” foi o filme escolhido pelo governo italiano para representar o país na corrida por uma estatueta na categoria melhor produção estrangeira. O longa é, portanto, concorrente virtual do Brasil, que inscreveu “Salve geral”, de Sergio Rezende, na competição da Academia. As indicações serão divulgadas em 2 de janeiro.
“Não acompanho a produção cinematográfica brasileira”, explicou o cineasta, que diz não ter assistido a “Salve geral”. “A distribuição de filmes estrangeiros na Itália é muito ruim.”
Filme estrangeiro que o cineasta aguarda com ansiedade é o drama “Everybody’s fine”, de Kirk Jones, que chega aos cinemas no dia 4 de dezembro. O longa é inspirado na história original “Stano tutti bene”, dirigido por Tornatore em 1990.
A produção teve os direitos adquiridos pelo ator Robert De Niro há dez anos. Nessa nova versão, ele faz o papel que foi de Marcello Mastroianni. “Estou curioso para ver como ficou”, conta Tornatore. “Não tive nenhuma participação nessa refilmagem e nem quis. À medida que se vende os direitos de uma história, ela não pertence mais a você”.
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