quarta-feira, 12 de maio de 2010

O adeus a Roberta di Camerino

Foi com as bolsas de Roberta di Camerino que, nos anos 50, começou o fanatismo pelos acessórios de grife, algo que agora é um fenômeno normal. Não era assim em 1952, quando Elsa Maxwell, a famosa jornalista norte-americana de fofocas, desfilando por Veneza com sua nova bolsa Bagonghi de veludo vermelho e verde, percebeu, inconformada, que todas as atrizes e mulheres famosas tinham esse mesmo modelo em cores variadas.    A lendária Bagonghi permaneceu como a bolsa símbolo de Giuliana Coen Camerino, uma linda senhora veneziana que decidiu conquistar o mundo com o sobrenome do marido (precedido pelo nobre 'di') e o nome de sua boneca favorita, Roberta, o mesmo nome que deu à sua filha.

Refugiada na Suíça, em Lugano, com o marido e o filho mais velho, Ugo, para escapar à perseguição racial, Giuliana começou a criar bolsas originais em tecido bordado com brasões de armas (a primeira foi um modelo do tipo balde) para si, e posteriormente para as senhoras que manifestavam sua admiração pelo acessório.

Quando voltou para Veneza em 1945 abriu uma pequena oficina, depois a maison de Palazzo Loredan e finalmente a primeira butique na Praça de São Marcos.    Quando decidiu assinar uma coleção completa de moda, foi convidada a desfilar (em 1952) no Salão Branco do Palazzo Pitti, no que é considerado o evento fundador da era moderna do made in Italy.   

O sinal mais marcante do guarda-roupas de Roberta di Camerino foi principalmente o jérsei estampado à la 'trompe l'oeil', com o efeito ilusório de pregas e cintos, de golas e botões. Ela mesma, em 1973, contou sua idéia do que era uma roupa moderna e sofisticada: "Os tempos tinham mudado. (...) O meu vestido seria colocado no corpo como uma malha longa e sobre ele criaria de tudo".

Suas roupas, muito refinadas, vestiram as mulheres mais lindas e chiques do mundo. Seus acessórios inconfundíveis, com o logo (uma tira de latão, dobrada na forma do R) preso no veludo, nunca deixaram de ser cobiçados, e foram os mais copiados e imitados.

Roberta di Camerino foi a primeira grife italiana a conquistar o Far East, fechando uma parceria em 1975 com o grupo japonês Mitsubishi.

Foram muitos os reconhecimentos internacionais recebidos por Giuliana Camerino, a partir do Prêmio Neiman Marcus, em 1956, equivalente ao Oscar da moda. Sobre ela, Salvador Dalí disse que "é a primeira vez que vejo arte na moda".

Giuliana Coen Camerino continuou o seu trabalho criativo mesmo em idade avançada, ajudada nos últimos tempos pela sobrinha Tessa, filha de Roberta.

A casa de moda, após várias vicissitudes empresariais, foi adquirida em 2008 pelo Grupo Sixty de Vicky Hassan e Renato Rossi.

Em sua longa carreira, Roberta di Camerino criou e assinou de tudo, de bolsas e sapatos, a roupas, perfumes e óculos de sol, mas também artigos para o lar, barcos e iates.

Foi ela que inventou o 'total look' e o 'estilo de vida', aquele jeito moderno de coordenar tudo ao gosto da pessoa, das roupas aos ambientes.

Giuliana Coen Camerino, fundadora da marca Roberta Di Camerino, morreu na madrugada de 3ªfeira no Hospital Civil de Veneza.

"A moda - disse a maison de Hassan e Rossi, que se uniu aos pêsames à família, perde a sua mentora vanguardista por excelência, anticonformista por natureza e excepcionalmente brilhante, que soube ousar com o grafismo e as cores nos anos negros do pós-guerra. O seu desejo e entusiasmo pelo trabalho a acompanharam até o fim, cativando a todos com sua alegria, sua tromp l'oeil, elegância e espírito inovador, que permanecerão como um legado, que o mundo não esquecerá".
 
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