O Vale das Videiras é considerado por botânicos, zoologistas e conservacionistas em geral como um nicho de preservação ambiental e a mais bela região rural da serra fluminense. Não lhe faltam atrativos naturais, como montanhas, riachos e cachoeiras. Por isto, tem se notabilizado como um destino turístico em franca expansão. O melhor acesso para se chegar ao Vale das Videiras é pela BR-040, rodovia federal que interliga o Rio de Janeiro à Belo Horizonte. Deixando a estrada na Saída do Km. 65, direção Araras, entra-se em uma belíssima estrada de montanha asfaltada, que leva o visitante até o povoado do Vale, onde não falta um coreto e um pequeno comércio. Esta estrada é a RJ-117, que interliga Petrópolis à Paty do Alferes.
No Brasil Colônia, e depois no Império, todas as terras hoje conhecidas como “Vale das Videiras” pertenciam à então Comarca de Vassouras, hoje município limítrofe. Fazendas históricas são o testemunho daquela época em que a região buscava a sua afirmação econonômica e que, ao mesmo tempo, ofereciam repouso, alimentação e pouso aos que se deslocavam entre a Cidade Imperial de Petrópolis e as fazendas de café de Vassouras ou seguiam viagem para regiões mais distantes, como as das minas gerais.
Mas por que Vale das Videiras ? A resposta pode ser encontrada nos últimos anos do Império, quando imigrantes italianos plantaram parreirais na tentativa de produzir uvas em escala comercial. É desta época a Fazenda Sta. Catarina, que recebeu este nome em homenagem a santa padroeira da Itália.
Já na República, o município de Petrópolis avançou sobre o Vale das Videiras, incorporando parte dele aos seus domínios. Passou a servir a região de serviços de transporte público e de recolhimento de lixo. Com o desmembramento de Vassouras, para o surgimento dos novos municípios de Miguel Pereira e de Paty do Alferes, a área remanescente do Vale das Videiras passou à jurisdição das novas unidades estaduais. Muitos poucos são os que percebem que o Vale das Videiras “herdou” o que de melhor oferece cada um dos três municípios: o clima fresco e seco de Vassouras, a simplicidade e o jeito rural do povo de Paty do Alferes e a vocação eminentemente turística de Petrópolis. A imensa maioria,todavia, alheia a tais sutilezas, acredita que o Vale das Videiras é um dos distritos de Petrópolis e, dentre eles, o mais privilegiado pelas belezas da natureza. As razões saltam aos olhos: situado entre duas área de preservação ambiental (Reserva Ecológica Estadual de Araras e Zona de Proteção Ambiental da Ponte Funda), o Vale das Videiras é rico em riachos, cachoeiras, diferentes espécies de vegetais e animais.
Testemunhas de um passado elegante e rico, o Vale das Videiras agasalha diversas fazendas. A Fazenda Santana, a Fazenda Santa Rita e a Fazenda Conceição, mais antigas, ainda do século XVII, guardam algumas relíquias do tempo da escravidão e do café. Já a Fazenda das Videiras, hoje transformada em pousada, mostra-nos a transição do século XVIII para o século XIX e, mais propriamente, testemunha a tentativa de transformar o Vale das Videiras em uma região produtora de uvas.
No Brasil Colônia, e depois no Império, as terras do “Vale das Videiras” pertenciam à Vassouras, hoje município limítrofe. Sem nenhuma importância econômica para aquela comarca, pois impróprias para a cultura intensiva de café, essa região tinha uma importância meramente geográfica, pois era uma das rotas à disposição dos viajantes que vinham ou iam para as fazendas e áreas urbanas de Vassouras, Paraíba do Sul, Três Rios, Juiz de Fora e, dali, para seguir para pontos mais distantes, como São João Del Rei, Ouro Preto e Diamantina.
Segundo a pesquisadora Maria Luiza Salgado, em 1735, José Ferreira da Fonte teve confirmada a sua sesmaria conhecida como Roça de Secretário. Por ali, o Bandeirante Garcia Rodrigues Paes, filho do “caçador de esmeraldas”, teria aberto o “Caminho Novo” entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. E Tiradentes, quando guiava a sua tropa, preferia este caminho, pousando sempre no povoado de Sebollas (atual Inconfidência), onde teria um romance secreto com Anna Mariana Barboza, uma fervorosa aliada para os seus ideais revolucionários. Com o passar dos anos, outras trilhas foram sendo formadas. Uma delas, a “Estrada do Imperador”, passaria pelo Rocio, Mata do Rocio e, depois, Fazenda do Rocio, Facão, Vale das Videiras, chegando até onde hoje é o Município de Paty do Alferes. Ainda segundo a já citada pesquisadora, a partir do final do século XVIII, a Variante de Bernardo Proença passou a ser a mais utilizada para alcançar Vassouras e Paraíba do Sul e, destes sítios, “as minas gerais“ Esta variante começava na Cascatinha, entrava no Vale de Araras (fazendo o mesmo percurso da atual estrada Bernardo Coutinho), subia a Serra de Araras, cruzava a Garganta da Ponte Funda (alt. 1238m), entrava em áreas da Fazenda Santa Catarina e chegava ao povoado do Vale das Videiras (no mesmo trajeto da atual estrada Paulo Meira), um “entroncamento” de grande importância à época, pois dali partiam duas “variantes principais: uma, conduzia o viajante à Paty do Alferes, Miguel Pereira e Vassouras; a outra, à Paraíba do Sul, passando por Sardoal, Sebollas, Fagundes e Werneck.
Tropeiros, vaqueiros, negociantes, enfim, viajantes de todas as categorias e classes sociais faziam este trajeto com ouro, moedas, roupas, pinga, sal, farinha - um sem fim de utilidades. Na época das chuvas, diversos trechos viravam atoleiros de barro. Isso impedia a passagem e eles eram obrigados a esperar as condições climáticas melhorarem. Com o tempo, foram nascendo pequenos ranchos para abrigá-los durante estes pousos. Com eles, currais, cocheiras, estalagens. Depois, surgem as fazendas que, além de servir como unidades de produção, passaram a atender também às necessidades de pouso, descanso, higiene e alimentação. Desta época, dentre outras, as Fazendas Bonsucesso, Santa Catarina, Sant´Anna do Vale, da Cachoeira e do Rocio.
Na esteira das insurreições abolicionistas, o Vale das Videiras teria abrigado um antigo quilombo, liderado por Manoel do Congo, africado capturado e levado à Vassouras, onde foi enforcado em 1839. Deste quilombo, não restaram vestígios.
Já nos últimos anos do Império, houve uma tentativa mal sucedida de transformar a região em vinícola, surgindo daí o nome “Vale das Videiras”. A iniciativa coube as famílias Imbeloni e Rispoli, imigrantes vindos do sul da Itália.
Mesmo nos dias atuais, em pleno século XXI, os limites político-geográficos do Vale das Videiras continuam sem exata definição. O município de Petrópolis avançou em terras que o registro de imóveis apontam como pertencendo a Vassouras e que hoje seriam de Miguel Pereira e de Paty do Alferes. De qualquer forma, foi Petrópolis quem assumiu a iniciativa de levar o asfalto até o centro do Vale das Videiras, bem como atender a região com coleta de lixo e transporte público.
A natureza, alheia a tais indefinições, propicia que o Vale das Videiras continue cresçendo aos olhos de todos como uma das mais sedutoras regiões turísticas serranas do Estado do Rio de Janeiro. Dispõe de pequenos produtores rurais, que fornecem legumes, mel, verduras, queijos e outros importantes insumos para a culinária. Conta com restaurantes com chefes conceituados pela qualidade de sua gastronomia e tem instalados pousadas para todos os bolsos e exigências. Dispõe de escolas de ensino primário e médio, posto médico, um pequeno shopping center e condomínios que souberam respeitar a natureza e se integraram a ela com maestria. Em suma: o Vale das Videiras é o lugar perfeito para morar, para hospedar ou simplesmente para visitar, conhecendo os produtores rurais de alimento e de artesanato e os restaurantes com seus pratos simples ou requintados.
Mesmo antes de extinta a escravidão, os italianos já haviam substituído os negros na lavoura do café. Mas já encontraram as fazendas de café em franca decadência. A baixa qualidade do café brasileiro e, em especial, o produzido no Vale do Paraíba, determinava a seguida desvalorização do produto e a conseqüente queda dos preços internacionais.
Sem recursos para pagar meses e até anos de trabalho dos colonos italianos, os fazendeiros acenaram com o sistema de “parcerias” –que também não deu certo. Assim sendo, e como último recurso, a maioria dos fazendeiros decidiu pelo desmebramento de suas fazendas, passando para algumas famílias de italianos as glebas mais distantes ou menos férteis. Assim surgiram algumas fazendas, como, por exemplo, as Fazendas Piedade, Monte Alegre, Pau Grande, Sant’Anna, Paulo Meira, Cachoeira e Santa Catarina.
As fazendas mais próximas à região de Avelar, hoje um distrito do Município de Paty do Alferes, ficavam em áreas mais valorizadas, porque mais planas e mais propícias à cultura. Por isso, passaram seguidamente pelas mãos de diferentes proprietários e hoje, minifúndios, dedicam-se à produção de tomates. Já as áreas mais distantes, situadas em um extenso vale, já na Serra de Araras, foram entregues como pagamento de dívidas acumuladas a alguns imigrantes napolitanos, oriundos de cidades às margens do Golfo de Salerno, no Mar Tirreno: Os irmãos Raphael Rispoli, Salvador Rispoli e Arthur Rispoli, todos naturais da minúscula cidade de Praiano Vetere, eFrancisco Imbelloni, natural de Castellucio Inferiori, foram os que receberam os quinhões mais representativos. Surgem, então, as Fazendas da Cachoeira, Santa Catarina e São Pedro da Juréia, dentre outras.
O clima, bem mais frio do que aquele das áreas próximas a Vassouras, e as terras, bem escarpadas, desde logo se mostraram pouco propícias à plantação de café. Estas duas características estimularam aqueles imigrantes a buscarem uma solução em suas origens: a plantação de uvas.
As mudas teriam vindo de um dos vinhedos mais importantes do sul da Itália, a dos Mastroberardino ad Atripalda, na provícia de Avellino. Ora, também daquela cidade italiana vieram muitos imigrantes que, radicados nesta mesma região, e por falta de documentação, adotaram o sobrenome Avellino. Então, com a ajuda daqueles italianos, e com o apoio decisivo da família imperial, chegaram, então, ao Brasil, as primeiras mudas da uva Aglianico, reconhecida pelos seus vinhos, com estupendos dotes de longevidade.
Grande parte das mudas teriam se perdido diante do rigor da viagem. Das poucas que restaram, pouquíssimas conseguiram vingar diante da enorme diferença climática e de solo, do ataque de formigas e da falta de trato adequado. A espécie de uva escolhida teria sido, também, um enorme equívoco.
Imbelloni perdeu todas as suas mudas mas, com a ajuda de imigrantes italianos estabelecidos no interior de São Paulo, obteve mudas da variedade de uva aqui conhecida como Isabel. Tal variedade, bem mais rústica, e já adaptada aos rigores climáticos da serra gaúcha, teria se adaptado razoavelmente à Serra das Araras. Mesmo após o falecimento de Francisco Imbelloni, em 12 de janeiro de 1912, e com o posterior desmembramento e venda de suas terras, alguns daqueles parreirais sobreviveram e, segundo atestam descendentes e alguns antigos moradores, na década de quarenta ainda se viam parreirais, a maioria deles completamente abandonados. Quanto aos três irmãos Rispoli, ao que se sabe, insistiram enquanto puderam com as mudas que lhe restaram da uva Aglianico e, em seguida, plantaram alguns cafezais. Mas não chegaram a ocupar sequer a quarta parte das terras que formavam a sua propriedade. Primeiro, porque a maior parte era constituída de montanha, pedra sem nenhuma terra para sustentar qualquer tipo de plantação. A outra parte, de dificílimo acesso, exigia intenso emprego de mão-de-obra. E havia, ainda, o problema do escoamento do produto.
Raphael Rispoli, com a morte de sua mulher em 15 de novembro de 1989, quando se proclamava a República, teve o seu ânimo reduzido a um quase nada. Além disso, tal qual os poucos parreirais que plantou nos 2 milhões de metros quadrados que lhe foram destinados, também ele não se adaptou ao clima de montanha, bem diverso daquele de sua origem. Então, corroído por problemas de saúde, veio a falecer em 1896, aos 62 anos, e dez anos após a tentativa de se estabelecer na região. Com o falecimento de Rafhael Rispoli, a propriedade foi desmembrada em 9 porções: uma, reservada a um cemitério, onde ele e a esposa encontram-se enterrados; as outras oito, entre os herdeiros Arthur, Rosa, Jácomo, Rafael, Gregório, Vicencia, Francisca e Pascoal. Consta que Salvador Rispoli, falecido em 1918, e Arthur Rispoli, em 1920, bem como alguns dos novos adquirentes ainda tentaram desenvolver a cultura da uva em seus quinhões de propriedade. Nenhuma informação concreta, todavia, foi conseguida.
A primeira referência ao nome “Vale das Videiras” foi encontrada em um mapa apócrifo, datado de 1946. Ele registra a existência de uma estrada de terra interligando Araras a uma região denominada “Vale das Videiras”, passando antes por uma garganta, a 1263m. de altitude, denominada “Garganta da Ponte Funda”, e seguindo depois ao lado de um riacho com o nome de “Ponte Funda”, que passa dentro da Fazenda Santa Catharina e desemboca no “Rio Fagundes”. Segundo tal mapa, a “Garganta da Ponte Funda” seria o montante divisório entre os municípios de Petrópolis e Vassouras.
Já em torno de 1950 são feitos novos desmembramentos e novas vendas, surgindo, daí, fazendas menores, sítios, chácaras e até um loteamento, que veio a obter registro em Petrópolis.
http://www.valedasvideiras.com.br/
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