terça-feira, 26 de abril de 2011

Em busca das pinturas perdidas do Quirinale

Roma - Especialistas restauradores esperam recuperar as maravilhosas pinturas de Pietro da Cortona e seus assistentes de 1656, no Palácio romano do Quirinale (sede atual da presidência da Itália), escondidas pelos trabalhos de reparo do século XIX.

As pinturas foram perdidas há quase dois séculos, quando, à espera de uma visita de Napoleão Bonaparte, que nunca ocorreu, o Palácio do Quirinal foi renovado.

Trata-se de uma justiça histórica: aquilo que os franceses encobriram na grande sala de Augusto, será agora descoberto por outro francês, Louis Godart, que chefia a equipe de restauradores.

Os trabalhos devem ser concluídos até o fim deste ano, com um investimento de € 2,5 milhões.

Na verdade, Godart tem um emprego fixo no Palácio do Quirinale - atual sede da presidência da República, que já foi a dos Papas e reis da Itália, posto que atua como consultor para a conservação do patrimônio artístico da residência oficial de Giorgio Napolitano.

A galeria, de 67 metros de comprimento, tem o nome do Papa Alexandre VII, que reformou no século XVII o antigo palácio dos papas na colina mais alta, entre as sete de Roma, para escapar do mau cheiro de São Pedro que, pela proximidade com o rio Tibre, estava sujeito à umidade e inundações.

Foi o próprio Pontífice, da família nobre dos Chigi, que em 1656 encarregou Pietro da Cortona, famoso pelos seus afrescos gigantescos elogiosos à família Barberini no palácio de mesmo nome, de pintar os afrescos dessa grande galeria.

Pietro convocou os melhores artesãos da época (Carlo Maratta, Gaspar Dughet, Pier Francesco Mola, Guglielmo Courtois e Filippo Lauri) para ajudá-lo na obra titânica que, por mais de um século e meio, encantou cardeais e diplomatas que visitaram o palácio.

Em 1812, quando Napoleão ocupou grande parte da Itália, os arquitetos que precederam o imperador para garantir-lhe uma residência digna nos palácios patrícios durante suas viagens frequentes (quando não para inventariar e expatriar obras de arte para levá-las ao Museu do Louvre), chegaram a Roma para preparar o futuro palácio real. E com o papa Pio VII, prisioneiro de Napoleão em Fontainebleau, nada melhor do que a residência do Quirinal.

No entanto, surgiu um problema, o do celibato do sacerdote, com a consequente falta de quartos familiares.

Diante disso, a solução foi dividir o grande salão da hospedagem do Quirinal em três ambientes: um para o imperador, outro para sua esposa Maria Luigia da Áustria e o terceiro para seu filho, herdeiro do trono imperial com o título de rei de Roma.

Para isso foram fechadas 12 janelas da galeria, que encobriram com uma camada de gesso os afrescos, salvando algumas cenas bíblicas, mas escondendo uma floresta inteira de árvores, pássaros e animais que Pietro e seus assistentes pintaram, para o deleite dos Papas.

Os trabalhos começaram em 2001 e falta restaurar a terceira sala, chamada dos Embaixadores, que ficará pronta ainda este ano. As outras duas salas, a Amarela e a de Augusto, já recuperaram seu aspecto original, no limite do possível. Desta forma, um dos desastres da era napoleônica será sanado quase dois séculos mais tarde.

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