Mario Monti, de 69 anos, o sóbrio tecnocrata de sorriso inexpressivo
que dirigiu a Itália por pouco mais de um ano até "virar político" no
final de dezembro, sofreu nesta ocasião uma mudança radical de sua
imagem. Ele é candidato ao Parlamento italiano e que fixar uma "nova
cara" nas eleições do próximo domingo (24) e segunda-feira (25).
Na península, é como se todo mundo tivesse esquecido o estado em que se encontrava o país em 16 de novembro de 2011, quando Mario Monti,
ex-comissário europeu pouco conhecido, substituiu Silvio Berlusconi.
sempre envolvido em escândalos e afundado na crise da zona do euro.
Mario Monti durante o Fórum Mundial da Economia (Foto: Pascal Lauener/Reuters)
Na época, o discreto professor de economia, apelidado de "cardeal" por
sua personalidade calma e impenetrável, fez papel de herói e foi o
último recurso de salvação, enquanto os mercados especulavam sobre um
colapso do país por sua enorme dívida de mais de 2 trilhões de euros.
Em um ano, ele restaurou a credibilidade da Itália,
baixou o spread (diferença entre as taxas italianas e alemães) chegando
a menos de 300 pontos, a metade do seu nível no final do mandato de
Berlusconi. Mas, ao custo de uma austeridade draconiana marcada por uma
reforma previdenciária dura e aumentos de impostos.
Sua metamorfose em um animal político começou pouco depois com o
anúncio surpresa da sua entrada para a arena política, em 23 de
dezembro. Monti tornou-se tão presente nos meios de comunicação quanto o
especialista midiático Silvio Berlusconi, que, aos 76 anos, está em sua sexta campanha em 18 anos e aposta todas as fichas na televisão e no rádio.
Os dois homens passam seu tempo trocando farpas através da imprensa.
Berlusconi acusa o governo de Monti de ser a causa de todos os males da
Itália (recessão, desemprego e aumento de impostos).
Cautelosos no início, Mario Monti também tem mostrado suas garras
contra o seu antecessor, que o impulsionou a ser comissário europeu em
1994 e para quem votou na ocasião. Agora, ele diz temer um retorno às
reformas promovidas e acredita que por causa de Berlusconi, a Itália foi
'ridicularizada' a nível internacional.
Aos olhos do eleitorado, o "professor" tem a aura de uma carreira
notável: licenciatura em Economia na prestigiosa Universidade Bocconi,
em Milão, seguido de estudos na Universidade de Yale ao lado do futuro
Prêmio Nobel James Tobin, depois professor em Bocconi, onde se tornou
reitor e presidente em 1994, cargo que ocupa até hoje.
Também em 1994, foi nomeado comissário para o Mercado Interno. Passou
um total de 10 anos em Bruxelas à frente da pasta da Concorrência.
Cortesia e simplicidade são as marcas registradas desse católico
praticante, educado pelos jesuítas, casado há 42 anos e pai de dois
filhos. Correndo o risco de parecer chato, às vezes até robotizado, como
uma caricatura desenhada pelo cartunista Maurizio Crozza.
Fazer parte do clube muito exclusivo do Grupo Bilderberg, que reúne
centenas de políticos, financiadores e banqueiros de todo o mundo,
também contribuiu para uma imagem de tecnocrata distante das
preocupações do povo.
Mas, depois de seus primeiros passos na política, ele mudou de cara,
passou a fazer críticas maliciosas de humor britânico e alusivos ataques
diretos: 'Durante o nosso ano de governo, resolvemos os problemas que
os governos de centro-esquerda, centro e de direita deixaram apodrecer',
declarou recentemente.
Aparentemente aconselhado por David Axelrod, o guru do presidente dos
Estados Unidos Barack Obama, ele apertou o cerco, mas também tenta
passar mais 'empatia' para com os homens comuns. Resultado: Monti ficou
mais doce ao receber de presente durante um programa de televisão ao
vivo um cão, imediatamente apelidado de "Empy". "Olha como é doce",
disse, revelando que muitas vezes precisa tomar conta dos cães de seus
netos. No mesmo programa, ele bebeu um grande gole de cerveja, discursou
no twitter com gíria dos jovens e sorriu.
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