quarta-feira, 13 de março de 2013

Lucrezia Borgia, papisa e filha de um papa



      Por Paolo Petroni


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      Enquanto a lenda da papisa Joana, que teria sido eleita disfarçada em roupas masculinas em meados do século IX, é completamente falsa, uma papisa, de acordo com o nome que lhe foi dado pelo povo de Roma, existiu por um curto período, no verão de 1501 e teria sido Lucrecia Borgia, nomeada pelo papa Alexandre VI, seu pai Rodrigo Borgia, sua vigária, durante uma sua ausência, obviamente apenas para o governo civil do Estado Pontifício, deixando ao seu lado o cardeal Costa, que escreveu elogios sobre sua habilidade política. Também foi cunhada uma medalha com a sua imagem em memória daquele evento, que permanecerá único na história da Igreja. Isso só para entender que Lucrecia Borgia foi uma figura muito diferente daquela transmitida pela tradição popular.

      Os Borgia se tornaram ao longo do tempo um símbolo da política mais cruel e maquiavélica, associada à libertinagem sexual atribuída aos Papas renascentistas. Lucrecia era filha do cardeal Rodrigo e de sua amante Vannozza de'Cattanei, com quem teve outros três filhos, Cesare, Giovanni e Goffredo

      Neste cenário sua figura foi alvo de muitas acusações caluniosas, como a de incesto com seu irmão Cesare e depois a de envenenadora, ambas amplificadas na tragédia de Victor Hugo a ela atribuída e que posteriormente foi musicada por Donizetti, alimentando a fama popular de mulher fatal, vinculada às devassidões e perversidades cometidas por sua família, pela qual foi certamente usada para fins políticos, mas da qual também conseguiu, em certo momento, se distanciar.

      Como única filha mulher, foi naturalmente desde menina o centro de projetos políticos matrimoniais do irmão Cesare em particular, e de seu pai que, quando se tornou Papa, a deu em casamento a Giovanni Sforza, Senhor de Pesaro, aparentado com o duque de Milão, com quem o Papa tinha interesse em manter boas relações. No entanto, os resultados não foram os esperados, e quatro anos mais tarde o casamento foi anulado. Ela acusou seu marido de impotência, que reagiu, acusando a ela e sua família de serem incestuosos.

      Um segundo casamento, que parece ter sido por amor, a ligou a Alfonso de Aragão, filho ilegítimo de Alfonso II de Nápoles, mas a mudança da situação política e as necessidades de diferentes alianças sujaram a imagem do marido na corte do Pontífice. Lucrecia fez de tudo para reaproximá-los e terseu marido de volta a Roma, onde ela, em outubro de 1499, deu à luz um filho, Rodrigo. Mas ela foi traída: na boca pequena, fala-se que foi Cesare Borgia o mandante do assassinato do marido de sua irmã, no verão de 1500 no Vaticano.

      Foi a gota que fez transbordar o copo e a mulher, apesar de toda a dor, lutou para conseguir se afastar da família e pôs os olhos em Alfonso d'Este, filho de Ercole I, duque de Ferrara, que acabou aceitando-a, meio relutante, por conta do seu passado e de seus vínculos.

      Lucrecia não demorou a esquecer que era filha ilegítima do Papa, de seus casamentos anteriores tingidos de preto, e com a sua graça, beleza e principalmente inteligência, acabou se transformando em uma diplomata popular e habilidosa em gerenciar assuntos públicos (o marido adquiriu o hábito de confiar-lhe até a condução política e administrativa do ducado quando tinha que se ausentar de Ferrara). Em sua corte também acolheu poetas como Ludovico Ariosto, Gian Giorgio Trissino, Ercole Strozzi e Pietro Bembo, com quem trocou algumas cartas, nas quais Lucrecia mostra muitas de suas qualidades.

      Infelizmente, tanta serenidade durou apenas uma década. Em 1512, pelas desgraças que se abateram sobre ela (entre outras, a morte de seu filho adolescente Rodrigo) e também sobre os Este, Lucrezia se tornou terciária franciscana, vestindo muitas vezes o cilício (túnica, cinto ou cordão de lã áspera, às vezes com farpas de madeira e pontas lacerantes, usada sobre a pele como penitência), se vinculou aos seguidores de São Bernardino de Siena e Santa Catarina e, para ajudar os pobres, criou o Monte da Piedade de Ferrara. Morreu em 1519, aos 39 anos, de complicações devidas ao parto. 


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