Em 2013, Boccaccio também virou selo na Itália por conta das celebrações pelos 700 anos do seu nascimento (foto: Ansa)
São Paulo - Em 2013, a Academia Sueca concedeu à canadense Alice
Munro o primeiro Nobel de Literatura da história para uma autora
especializada em contos. Coincidência ou não, a escolha aconteceu no
mesmo ano em que se celebram os sete séculos do nascimento daquele que é
considerado um dos fundadores do gênero: Giovanni Boccaccio.
Nascido muito provavelmente em Florença entre junho e julho de
1313, o escritor fez com que seu nome sobrevivesse ao passar tempo
graças ao livro "Decameron" (ou Decamerão), que reúne 100 pequenos
relatos retratando a vida e os costumes de sua época. As histórias são
contadas durante 10 dias por sete rapazes e três moças que se refugiam
em uma casa de campo para escapar da peste que dizimava a população
florentina em meados do século XIV.
A obra-prima de Boccaccio representou um marco na literatura ao estabelecer um padrão de estilo ficcional que foi se transformando nas novelas e nos contos. E para comemorar os 700 anos de seu autor, o volume ganhou duas novas edições no Brasil, uma completa, lançada pela L&PM, e outra da Cosac Naify com 10 narrativas selecionadas. "O 'Decameron' é um desses livros fundadores, indispensáveis. Ele está na base da cultura literária de todos os lugares", diz o professor de literatura italiana da Universidade de São Paulo (USP), Mauricio Santana Dias, também tradutor da coletânea, que ainda é ilustrada com desenhos do artista plástico paulistano Alex Cerveny.
Segundo Dias, o livro permanece atual porque as histórias
contadas por Boccaccio, apesar de sua imaginação, refletem bem o
cotidiano do homem e apresentam situações verossímeis. Duas de suas
principais características são a constante luta entre os vícios e as
virtudes humanas e a capacidade criativa das pessoas de fazer frente a
um destino nem sempre generoso.
"Decameron" também marca o início da prosa italiana e
estabelece um padrão de idioma, ainda que muito distante da língua
falada atualmente no país. A diferença é tanta que existem traduções da
obra para o italiano moderno. "É um livro muito rico do ponto de vista
estilístico, tem uma variação de registro que vai do mais popularesco ao
mais nobre", conta o professor da USP.
Além de traduzir, ele foi o responsável por selecionar as 10
novelas que entraram para a edição da Cosac Naify. Para isso, Dias
procurou escolher narrativas que representassem o conjunto do volume,
tanto do ponto de vista temático como formal, incluindo histórias
dramáticas e de comédias, aristocráticas e populares, e que são
ambientadas em cidades variadas, como Nápoles, Florença e Veneza. "E
entrou também a minha preferência pessoal. Deu bastante trabalho, mas eu
tentei fazer um mapa do livro, algo que traçasse um microcosmo do
conjunto", afirma.
O professor revela que uma edição completa já está no forno,
embora ainda não tenha prazo para sair devido aos seus muitos
compromissos profissionais. Ele passou para o português mais de 20
relatos, porém não sabe quando vai conseguir terminar o serviço. "Mas
vou fazer, já combinei", garante. A versão ainda terá um charme
especial: será ilustrada com desenhos de artistas italianos do trecento e
do quattrocento.
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