quinta-feira, 20 de março de 2014

Uma nova República de Veneza independente de Itália?

Inspirados pelas iniciativas independentistas em curso na Escócia e na Catalunha, alguns habitantes de Veneza decidiram ouvir os eleitores da região sobre o seu futuro.
 
O novo país inspirar-se-ia na antiga República de Veneza, dizem os promotores  
Gabriel Bouys/AFP






O voto não terá consequências jurídicas nem legais, mas não é por isso que não está a ser participado. 

Domingo, primeiro dia de um escrutínio sobre a independência de Veneza, foram quase 500 mil os eleitores que votaram, online, por telefone ou nos centros de voto abertos nas principais cidades da região. 

Organizado por um comité de cidadãos, o Plebescito.eu, o voto acontece depois de uma campanha financiada pela associação de empresários Veneto Business, um grupo pró-União Europeia e pró-euro.

“Quer que Veneto se torne uma República Soberana Federal?”, é a principal pergunta colocada nesta votação. Não é a única: quem votar “sim” terá ainda de dizer se quer que essa futura república adira à UE e à NATO e se deseja que use o euro. Para além destas perguntas de “sim” ou “não”, é ainda pedido aos eleitores para elegerem dez delegados para um comité que terá a cargo a gestão dos resultados. E, em caso de vitória do “sim”, a proclamação da independência.

A ideia dos promotores é sondar a população e, ao mesmo tempo, retirar legitimidade aos actuais líderes políticos, como se explica no site da iniciativa. O novo país inspirar-se-ia na antiga República de Veneza, a grande potência económica e política que existiu durante mais de um milénio, até à derrota face a Napoleão Bonaparte, em 1797.

Segundo a BBC, há sondagens que indicam que até dois terços dos quatro milhões de eleitores da região do Veneto favorecem uma separação do resto de Itália.

O Partido Independência de Veneza não integra o comité organizador desta votação mas não deixará de estar atento aos resultados – tal como o governador da região, Luca Zaia, da Liga Norte, defende a realização de um referendo futuro e acompanha os actuais processos em curso na Escócia e na Catalunha.

“Já não queremos fazer parte de um país que caminha para o desastre. Nada funciona”, disse à AFP Nicola Gardin, responsável do Partido da Independência. “A Itália cede debaixo de uma dívida pública enorme, há milhares de empresas que fecham, deixámos de contar o número de pessoas que se suicidam no Veneto.”

Segundo Gardin, a região paga 71 mil milhões de impostos a Roma, 21 mil milhões a mais do que recebe em serviços e investimentos. Mas o desejo de independência não tem “só razões económicas”, garante, também se trata de “proteger e fazer reviver" a cultura da região. “Já nem a história da República de Veneza nem a língua veneziana se ensinam na escola. O Estado apagou a nossa identidade”, queixa-se.

Tal como acontece em Espanha, a declaração de independência de uma qualquer região seria inconstitucional. Mas há precedentes, como a independência do Kosovo, ou os referendos do Quebeque, e o governador garante que uma eventual secessão respeitaria o direito internacional.

Luca Zaia quer esperar pelo referendo marcado para a Escócia, em Setembro, e perceber ainda o que se vai passar com a iniciativa da Catalunha, que quer votar a independência de Espanha a 9 de Novembro, uma consulta que Madrid considera ilegal e tenciona impedir. “Se Barcelona obtiver a independência, a região do Veneto poderá adoptar o mesmo método”, defende Zaia.

Quase ignorada pelos media italianos, o arranque desta iniciativa não escapou a alguns media russos, que compararam a votação no Norte de Itália com o que estava a acontecer domingo na Crimeia, a região de maioria russófona da Ucrânia que votou para integrar a Rússia.

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