Inspirados pelas iniciativas independentistas em curso na Escócia e
na Catalunha, alguns habitantes de Veneza decidiram ouvir os eleitores
da região sobre o seu futuro.
O voto não terá consequências jurídicas nem
legais, mas não é por isso que não está a ser participado.
Domingo,
primeiro dia de um escrutínio sobre a independência de Veneza, foram
quase 500 mil os eleitores que votaram, online, por telefone ou nos
centros de voto abertos nas principais cidades da região.
Organizado por um
comité de cidadãos, o Plebescito.eu, o voto acontece depois de uma
campanha financiada pela associação de empresários Veneto Business, um
grupo pró-União Europeia e pró-euro.
“Quer que Veneto se
torne uma República Soberana Federal?”, é a principal pergunta colocada
nesta votação. Não é a única: quem votar “sim” terá ainda de dizer se
quer que essa futura república adira à UE e à NATO e se deseja que use o
euro. Para além destas perguntas de “sim” ou “não”, é ainda pedido aos
eleitores para elegerem dez delegados para um comité que terá a cargo a
gestão dos resultados. E, em caso de vitória do “sim”, a proclamação da
independência.
A ideia dos promotores é sondar a população e, ao
mesmo tempo, retirar legitimidade aos actuais líderes políticos, como se
explica no site da iniciativa. O novo país inspirar-se-ia na antiga
República de Veneza, a grande potência económica e política que existiu
durante mais de um milénio, até à derrota face a Napoleão Bonaparte, em
1797.
Segundo a BBC, há sondagens que indicam que até dois terços
dos quatro milhões de eleitores da região do Veneto favorecem uma
separação do resto de Itália.
O Partido Independência de Veneza
não integra o comité organizador desta votação mas não deixará de estar
atento aos resultados – tal como o governador da região, Luca Zaia, da
Liga Norte, defende a realização de um referendo futuro e acompanha os
actuais processos em curso na Escócia e na Catalunha.
“Já não
queremos fazer parte de um país que caminha para o desastre. Nada
funciona”, disse à AFP Nicola Gardin, responsável do Partido da
Independência. “A Itália cede debaixo de uma dívida pública enorme, há
milhares de empresas que fecham, deixámos de contar o número de pessoas
que se suicidam no Veneto.”
Segundo Gardin, a região paga 71 mil
milhões de impostos a Roma, 21 mil milhões a mais do que recebe em
serviços e investimentos. Mas o desejo de independência não tem “só
razões económicas”, garante, também se trata de “proteger e fazer
reviver" a cultura da região. “Já nem a história da República de Veneza
nem a língua veneziana se ensinam na escola. O Estado apagou a nossa
identidade”, queixa-se.
Tal como acontece em Espanha, a declaração
de independência de uma qualquer região seria inconstitucional. Mas há
precedentes, como a independência do Kosovo, ou os referendos do
Quebeque, e o governador garante que uma eventual secessão respeitaria o
direito internacional.
Luca Zaia quer esperar pelo referendo
marcado para a Escócia, em Setembro, e perceber ainda o que se vai
passar com a iniciativa da Catalunha, que quer votar a independência de
Espanha a 9 de Novembro, uma consulta que Madrid considera ilegal e
tenciona impedir. “Se Barcelona obtiver a independência, a região do
Veneto poderá adoptar o mesmo método”, defende Zaia.
Quase
ignorada pelos media italianos, o arranque desta iniciativa não escapou a
alguns media russos, que compararam a votação no Norte de Itália com o
que estava a acontecer domingo na Crimeia, a região de maioria russófona
da Ucrânia que votou para integrar a Rússia.
http://www.publico.pt
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