sexta-feira, 25 de abril de 2014

Roncalli e Wojtyla, os santos do povo

O "Papa Bom" e o "Papa Grande" serão canonizados em 27 de abril

  Papa João XXIII foi o idealizador do Concílio Vaticano II (foto: ANSA/OLDPIX)
Papa João XXIII foi o idealizador do Concílio Vaticano II (foto: ANSA/OLDPIX)
 
 
Cidade do Vaticano - Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa que idealizou e abriu o Concílio Vaticano II, e Karol Wojtyla, o Pontífice da Guerra Fria e da globalização, serão proclamados santos no dia 27 de abril de 2014, por vontade de Francisco. Para que os dois sejam canonizados na mesma cerimônia, o Vaticano dispensou Roncalli da certificação de um milagre e recusou com elegância os pedidos de vários grupos poloneses por uma celebração exclusiva para Wojtyla.

    Com essa escolha, freia-se um certo triunfalismo em relação a João Paulo II, ideia ainda compartilhada por alguns setores católicos, e valoriza-se o papel de dois grandes papas do século XX e de suas contribuições para a vida da Igreja e do mundo.
 
    "Roma verá um evento inédito na história da cidade: dois papas vivos e dois papas santos. Imagino a emoção de Francisco e Bento XVI", disse em uma coletiva de imprensa o vice-presidente da Obra Romana para as Peregrinações (ORP), monsenhor Liberio Andreatta, confirmando a presença do papa emérito Bento XVI na cerimônia (o Vaticano afirmou depois que a ida de Joseph Ratzinger ao evento ainda não é certa).
 
    João XXIII e João Paulo II também estão singularmente próximos pelo fato de suas agonias e mortes terem sido acompanhadas ao vivo, atraindo a atenção da opinião pública mundial, por conta do papel universal e de referência internacional que os dois haviam assumido de modo decidido e evidente durante os seus reinados.
 
    Como observou o padre Giovanni Sale na revista Civiltà Cattolica, a canonização acontece ainda em um momento importante e significativo para a vida da Igreja, que no ano que vem comemorará o 50° aniversário do encerramento do Concílio.r
 
    E certamente Bergoglio vai torná-los santos ao mesmo tempo considerando os seus papéis na história do século XX, principalmente em relação ao evento conciliar. A sensibilidade do Pontífice latino-americano, que é o primeiro Papa contemporâneo que não participou do Vaticano II, dá a entender que ele queira em breve também a beatificação de Paulo VI.
 
    A "Evangelii Gaudium", exortação apostólica de Bergoglio e, de certa maneira, o manifesto do seu pontificado, faz referência explícita à "Evangelii Nuntiandi" de Paulo VI, um documento central para toda a Igreja e particularmente fundamental para a aceitação do Concílio na América Latina.
 
    A santidade dos dois papas, vista em relação ao Vaticano II, mitiga a perplexidade daqueles que nutrem dúvidas sobre a canonização de pontífices. Um dos primeiros expoentes ilustres desse grupo foi o cardeal Yves Congar (1904-1995), admirador do papa João I, mas que se opôs ao pedido para que ele fosse canonizado por aclamação ao final do Concílio. "Por que essa canonização de papas por seus sucessores? Não deixaremos nunca os velhos hábitos romanos?", afirmou. (ANSA)

*Giovanna Chirri é vaticanista da agência ANSA e foi a primeira jornalista a noticiar a renúncia do papa Bento XVI. Ela traduziu o anúncio, em latim, feito pelo Pontífice.


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