Raffaele Trombetta diz que pedido será analisado só com critérios jurídicos.
Segundo ele, desfecho do caso Battisti não influenciará posição da Itália.
O embaixador da Itália no Brasil, Raffaele Trombetta, em seu gabinete, em Brasília
(Foto: Fabiano Costa/G1)
Embora o governo brasileiro tenha recusado, em 2010, a extradição do
ex-ativista de esquerda italiano Cesare Battisti, o embaixador da Itália
no Brasil, Raffaele Trombetta, afirmou ao G1 que a análise do pedido de extradição do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, marcada para 5 de junho,
“não será política”. O diplomata assegurou que a solicitação brasileira
será apreciada pelas autoridades da Itália exclusivamente com base em
critérios “jurídicos”.
Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 12 anos e 7 meses de
prisão no julgamento do processo do mensalão, Pizzolato fugiu para a
Itália a fim de tentar escapar do cumprimento da pena, mas acabou preso
pela polícia italiana em 5 de fevereiro, com base em um mandado de
prisão internacional expedido pela Interpol. Desde então, ele aguarda em
um presídio de Modena, no norte da Itália, uma definição sobre se será
extraditado para o Brasil ou se poderá permanecer na Itália, como
reivindicou à Justiça italiana.
“Quero ressaltar que [a decisão de extraditar ou não Pizzolato para o
Brasil] não vai ser uma decisão política. Será com base apenas em
elementos jurídicos. Não tem nada de [influência] política, pelo menos
para a Itália”, afirmou Trombetta em entrevista ao G1 na sede da embaixada italiana em Brasília.
A defesa de Pizzolato alegou ao tribunal de Bologna, responsável pelo
julgamento do caso, que os presídios brasileiros não têm “condições
dignas”. A apelação do ex-dirigente do banco público levou a corte
italiana a questionar o Ministério Público do Brasil sobre a situação das penitenciárias do país.
Na ocasião, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao
Supremo e ao Ministério da Justiça indicações de presídios que respeitem
os direitos humanos. Mas Janot ainda não recebeu resposta para enviar
ao tribunal italiano.
Pedido de extradição
Na tentativa de repatriar Henrique Pizzolato ao Brasil para que ele cumpra a pena pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, o governo federal encaminhou ao Executivo italiano um pedido de extradição.
Na tentativa de repatriar Henrique Pizzolato ao Brasil para que ele cumpra a pena pelos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro, o governo federal encaminhou ao Executivo italiano um pedido de extradição.
O processo é polêmico porque o ex-diretor do Banco do Brasil tem dupla
cidadania (brasileira e italiana) e, por isso, o governo da Itália pode
se recusar a extraditá-lo.
O embaixador da Itália disse que, ao contrário do que prevê a
Constituição brasileira, a carta italiana não opõe restrições à eventual
extradição de um de seus cidadãos.
O Ministério Público italiano já se manifestou a favor da extradição de
Pizzolato, mas a decisão final será tomada pelo tribunal de Bologna em
audiência marcada para o dia 5 de junho. Na ocasião, a corte poderá
decidir pedir mais informações antes de analisar o caso. Pizzolato
poderá recorrer ao próprio Judiciário de eventual decisão pela
extradição.
Segundo Raffaele Trombetta, caberá ao Executivo italiano apenas
chancelar a posição da Justiça após ser expedida a sentença sobre o
caso.
“Não é uma decisão que caiba à embaixada ou ao governo italiano. É a
Justiça italiana que tem de considerar todos os aspectos”, explicou o
diplomata.
“Ainda que o ato final seja assinado pelo ministro da Justiça [da
Itália], será feito somente com base em elementos jurídicos, não
políticos. Do ponto de vista italiano, não é um assunto político”,
declarou.
Na última quarta (30), o procurador-geral da República anunciou que o Ministério Público brasileiro vai dar suporte ao advogado italiano que o governo do Brasil vai contratar para defender junto à Justiça do país europeu o retorno de Pizzolato.
Efeito Battisti
Mesmo garantindo imparcialidade na análise do caso do único fugitivo do mensalão, o embaixador disse que o governo italiano ainda não “aceita” a decisão do Palácio do Planalto que negou a extradição do ativista Cesare Battisti à Itália sob a justificativa de "fundado temor de perseguição”.
Mesmo garantindo imparcialidade na análise do caso do único fugitivo do mensalão, o embaixador disse que o governo italiano ainda não “aceita” a decisão do Palácio do Planalto que negou a extradição do ativista Cesare Battisti à Itália sob a justificativa de "fundado temor de perseguição”.
“Quero ressaltar que a Itália não aceitou e ainda não aceita o que
aconteceu no caso Cesare Battisti. Não aceita que ele agora possa ser um
homem livre aqui no Brasil. É claro que não gostamos disso”, afirmou.
O imbróglio envolvendo a extradição do ativista para o país europeu se
transformou em uma das maiores polêmicas da diplomacia brasileira
durante o segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Condenado à prisão perpétua na Itália pela autoria de quatro
assassinatos na década de 1970, Battisti foi preso no Rio de Janeiro em
2007. Dois anos depois, a despeito dos apelos do governo italiano para
extraditá-lo, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu refúgio
ao ex-ativista de esquerda.
Indagado se o desfecho do caso Battisti pode influenciar a futura decisão italiana em torno do pedido de extradição de Pizzolato, o embaixador foi taxativo: “De jeito nenhum. São dois assuntos distintos, diferentes”.
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