quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um pouco de história da língua italiana.

Como muitas das línguas européias, o Italiano faz parte de uma família linguística chamada de línguas neolatinas ou românicas, aquelas que provêm do Latim como o nosso Português. Essa denominação tem origem no povo guerreiro da região do Lácio (Latium, em latim, e hoje Lazio, em italiano), que exerceu seu domínio sobre grande parte da Europa. 

Na maioria das vezes, as línguas se afirmam como imposições culturais, como no caso do Latim da época dos romanos. Porém, elas se transformam devido às necessidades dos falantes, ao isolamento territorial e ao tempo. Com isso, novos idiomas nascem, primeiro como dialetos, e com o passar dos anos se estabelecendo como línguas oficiais dos países. 

Mas essa é uma questão complicada que deixamos aos linguistas e filólogos.  

Na península itálica, assim como no resto da Europa, o Latim gerou diversos dialetos, já que no período de conquistas dos romanos (do Século I a.C. ao Século V d.C.) a língua foi também pouco a pouco conquistando território. Mas não nos esqueçamos da situação política vivida pelos povos que ali habitavam após a queda do Império Romano. Depois de certo isolamento cultural devido, sobretudo, às constantes invasões bárbaras e aos novos domínios que se criaram, muitas cidades se destacaram econômica e politicamente. Entre elas Veneza, no norte da Itália, criadora uma sólida república que durou do século IX ao final do XVIII; Firenze, importante núcleo cultural na região da Toscana, ao centro da península; e Palermo, ao sul. E é justamente em Palermo, capital da Sicília, que se inicia aquela que é considerada a primeira corrente poética italiana, a chamada Scuola Siciliana, nascida na corte do rei Federico I di Sicilia (também conhecido como Federico II Del Sacro Romano Impero) no século XIII.

A língua literária nessa corrente poética era a siciliana, mas também longe dali, na Toscana, essa língua influenciou o estilo e o vocabulário para a criação de outra corrente poética: O Dolce Stil Nuovo. Também do século XIII, o Stil Nuovo pregava a escrita em língua ‘natural’, aquela do povo, em detrimento do Latim que ainda era usado como língua culta apesar da queda do longínquo Império. 

O maior dos representantes do Stil Nuovo se chamava Dante Alighieri, que paralelamente à sua sublime poesia se dedicou à questão da língua nacional. Porém, não havia uma unidade territorial que acolhesse a Itália em um só país, mas várias regiões que tinham em comum certa ‘unidade linguística’, herdeira da língua dos romanos e preservada em parte pelo isolamento dos Alpes, ao norte, e do mar Mediterrâneo. Dante elaborou o tratado De Vulgari Eloquentia, onde faz um grande apanhado dos vernáculos da península itálica, enaltecendo as belas características de uns e desprezando as feias de outros. Podemos ver o resultado dessa reflexão sobre a língua na maneira como ele escreveu a sua obra-prima, o poema La Divina Commedia, que veio a público entre os anos de 1314 e 1321. 

Muitos textos relevantes foram escritos na região da Toscana depois de Dante, vale lembrar grandes nomes como o do poeta Francesco Petrarca e o do filósofo Niccolò Machiavelli. Mas o primeiro romance em língua italiana só foi publicado em 1827 (muito depois dos poemas do Stil Nuovo) e se chama I Promessi Sposi, escrito por Alessandro Manzoni. Nessa época, nascia também o movimento da unificação italiana em um só Estado conhecido como Rissorgimento. O texto de Manzoni foi reconhecido como símbolo desse movimento, pois o autor o havia ‘traduzido’ para a segunda edição de 1840 da sua língua milanesa para a língua florentina de Dante. Uma vez reunido o Estado Italiano, era necessária também uma língua oficial da nação. Nem melhor nem pior que outras, a escolhida foi a de Firenze, berço do Stil Nuovo e de toda uma tradição linguística, e gramatical que se criou depois de Dante.


Professor Emanuel Brito
Professor da "Monte Bianco Lingua Italiana" e mestrando da "USP"
Matéria publicada em 01.03.2010
http://www.linguaitaliana.com.br 
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