Imigração Italiana
por Leila Ossola
“Per questo fummo creati:
Per ricordare ed essere ricordati.”
(Poema di Natale – Vinicius de Moraes)
Per ricordare ed essere ricordati.”
(Poema di Natale – Vinicius de Moraes)
Muitas publicações tratam sobre a grande imigração ocorrida a partir de 1875 para as Américas. Que fatores levaram o povo italiano a isto? O artigo visa mostrar alguns pontos decisivos para essa imigração em massa e é parte de uma pesquisa de 30 anos por parte da autora que busca seus ancestrais italianos.
A unificação italiana foi um dos principais fatores para esta grande leva de italianos que aportaram neste continente. Em 476 d.C., o Império Romano foi dissolvido fazendo com que a Itália ficasse dividida em várias unidades políticas (regiões) independentes entre si. Em 1815, após o Congresso de Viena, estas regiões passaram a ser dominadas por austríacos, franceses e pela própria Igreja Católica. Os reinos e ducados das regiões da Lombardia-Veneza, Toscana, Parma, Modena e Romagna estavam sob o domínio austríaco. O Reino das Duas Sicílias pertencia à dinastia francesa dos Bourbon. O Reino do Piemonte-Sardenha era autônomo, governado por um monarca liberal e os Estados da Igreja pertenciam ao Papa.
No início do século XIX, devido ao desenvolvimento industrial, o norte da Itália passou por transformações sociais e econômicas, fazendo com que várias cidades italianas do norte crescessem e o comércio se intensificasse.
Em 1848, ocorreu a primeira tentativa de unificação, com a declaração de guerra à Áustria pelo Rei Carlos Alberto, do Reino do Piemonte-Sardenha. Vencido, o rei deixou o trono para seu filho Vítor Emanuel II, em cujo governo o movimento a favor da unificação da Itália foi liderado pelo seu primeiro-ministro, o Conde de Cavour. Apoiado pela França, em 1859, Cavour deu início à guerra contra a dominação austríaca. Conseguiu anexar ao reino sardo-piemontês as regiões de Lombardia, Parma, Modena e Romagna.
Outros grupos também lutavam pela unificação, com a intenção de transformar o país em uma República. Mazzini e Garibaldi foram os líderes mais conhecidos desta corrente. Em 1860, Guiuseppe Garibaldi alia-se a Cavour e, liderando um exército de mil voluntários, conhecidos como camisas vermelhas, ocupou o reino das Duas Sicílias, afastando do poder o representante da dinastia dos Bourbon, Francisco II. Em março de 1861, dominando quase todo o território italiano, Vítor Emanuel II foi proclamado Rei da Itália.
É importante deixar claro que a Unificação Italiana ocorreu apenas alguns anos antes da grande emigração para as Américas, especialmente para o Brasil, e não foi de modo algum um movimento único. A Unificação acontece em 1861, mas Veneza só foi anexada em 1866, Roma em 1870. A região de Trento só foi incorporada à Itália Unificada após a 1ª Guerra Mundial em 1919 e a questão dos Estados Pontifícios só foi resolvida em 1929 com a assinatura do Tratado de Latrão, no governo fascista. Por isso, a capital do Reino da Itália de 1861 até 1866 foi Turim, depois Florença (1866 até 1870) e, só então, Roma.
Ainda na década de 60 do século XIX, antes de concluída a unificação, a supressão das alfândegas regionais, a oferta de produtos industriais a preços reduzidos e o desenvolvimento das comunicações haviam destruído a produção artesanal, atingindo os pequenos agricultores, que complementavam as suas rendas com o artesanato familiar ou o trabalho em indústrias artesanais existentes no campo. A unificação alfandegária impôs a toda a Itália o sistema alfandegário da Sardenha, que tinha as taxas mais baixas, e fez com que as economias regionais, que eram mais ou menos fechadas e até então conseguiam manter certo equilíbrio, sofressem um violento baque. A disparidade econômica do Norte, que se industrializou mais cedo, e do sul, predominantemente agrícola, agravou o quadro econômico do país.
O governo italiano passou a tomar medidas impopulares, pois estava preocupado em obter recursos para a realização de obras públicas – devido a isto, criou o imposto sobre a farinha, que atingia duramente a classe mais pobre.
Contudo, a unificação política e aduaneira impulsionou a industrialização, intensificada no período de 1880-1890. O Estado reservou a produção de ferro e aço para a indústria nacional, favorecendo a criação da siderurgia moderna que se concentrava ao norte e era protegida pelo Estado. Mas sua produção não era suficiente, o que passou a exigir importações. A indústria mecânica cresceu mais depressa, especialmente as de construção naval e ferroviária, máquinas têxteis e principalmente motores e turbinas. A partir de 1905, a indústria automobilística de Turim conseguiu excelentes resultados.
O problema mais grave estava na total concentração do processo de crescimento no norte, enquanto o sul permanecia agrário. Esta situação econômica fez com que houvesse uma crise na Itália durante o período final do século XIX. O norte foi a primeira área a ser atingida, pois ali começou a se desenvolver a industrialização, deixando os agricultores que complementavam sua renda com o trabalho artesanal sem emprego e sem ter mercado para seus produtos. Por isto, o norte da Itália forneceria as primeiras grandes levas de emigrantes, e o sul só viveria o processo de emigração mais tarde, principalmente a partir do início do século.
Também a aplicação de formas administrativas do Reino de Savóia provocou com o tempo o agravamento das diferenças já existentes entre as regiões da Itália, criando as condições para um grande movimento migratório de classes rurais para os países das duas Américas entre o fim do século XIX e o início do século XX, quando muitos milhões de italianos emigraram. A emigração era a única saída em face ao desemprego e a miséria; além disto, as colônias agrícolas existentes no Brasil eram o grande atrativo para os italianos famintos, sem emprego, sem lar… a igreja, incentivava seus fiéis a conhecerem a nova terra, o paraíso.
Em 1902, por meio do decreto Prinetti, que refletia o debate provocado pela migração, foi proibido pelo Comissariado Geral da Emigração na Itália a emigração subvencionada para o Brasil.
Uma leva de imigrantes italianos aportou nos Estados Unidos, Argentina, Uruguai e especialmente no Brasil, cujo destino seriam as fazendas de plantação de café no interior de São Paulo; o recebimento de lotes de terra e fundação de colônias no Sul; construção de ferrovias e colônias agrícolas em outros estados, sem contar que entre tais imigrantes (a maioria sem instrução), artistas, engenheiros, arquitetos vieram aportar aqui.
A imigração italiana é um capítulo da história rico em experiências sofridas, ao mesmo tempo escasso em informações legadas aos descendentes: os navios que chegavam aos principais portos (Vitória, Rio de Janeiro, Santos e Rio Grande) não forneciam em suas listagens as cidades de origem. Para os italianos, não importava muito deixar isto registrado, como um legado para gerações futuras… Eles estavam começando a construir um novo Brasil, no processo de substituição do trabalho escravo dos negros pelo trabalho livre do europeu. .
Com a lei de terras de 1850, cessou a distribuição gratuita de lotes para os imigrantes, despertando interesse da iniciativa privada. Isso fez com que, ao lado das colônias imperiais e provinciais, surgissem colônias particulares, como as de Conde d’Eu e Dona Isabel, na região onde atualmente estão localizados os municípios de Garibaldi e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul. Estas colônias foram criadas em 1870, antes que se iniciasse o processo de imigração italiana no estado e com o objetivo de que quarenta mil colonos italianos fossem contratados num prazo de dez anos para ali se estabelecerem e aumentarem a produção agrícola da região. Dificuldades como uma prevenção generalizada contra o Brasil por parte da Europa, onde o Brasil era visto como um país onde imigrantes sofriam provações, bem como o custo do transporte dos imigrantes até as colônias, fizeram com que apenas um número menor de colonos italianos fossem realmente assentados .
Foi a partir de 1875, sob a administração da União, que chegaram as primeiras levas de italianos para Conde D’Eu e Dona Isabel. Essas primeiras levas vieram das regiões do Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto. Desta maneira, assim, quando começou a emigração do Sul da Itália, em 1901, as terras disponíveis já estavam quase que totalmente ocupadas e, por isso, no Rio Grande predominaram os italianos vindos do norte.
No Rio de Janeiro, era na Ilha das Flores que atracava a maioria dos grandes navios com imigrantes italianos, para que cumprissem a quarentena. A soberana Maria Teresa Cristina de Bourbon, natural de Nápoles, esposa do Imperador D.Pedro II, estimulou a vinda de imigrantes lligados ao comércio e as artes.
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