É tempo para uma nova lei que regularize o ingresso de mão de obra estrangeira no país, diz vice-diretor da Caritas
A regularização de trabalhadores imigrantes foi uma chance
desperdiçada. Este foi o comentário feito pelos representantes dos
principais sindicatos italianos sobre a legalização de imigrantes
clandestinos promovida pelo governo e encerrada no último dia 15.
Um comunicado do Departamento de Políticas Migratórias do sindicato UIL
avalia o resultado como “moderamente positivo”, mas ressalta as
“numerosas carências e as chances desperdiçadas que poderiam ter
transformado a atual 'sanatoria' em um grande processo de legalização do
trabalho clandestino que, segundo especialistas, atinge entre 500 mil a
800 mil pessoas em toda a Itália”.
O sindicato aponta os pontos críticos da regularização, como o “preço
caríssimo”, assim como “a necessidade do estrangeiro demonstrar que está
no país desde pelo menos 31 de dezembro de 2011”, e “a ausência de
paridade de tratamento entre os trabalhadores imigrantes e seus
empregadores”. “Tornar o processo de legalização mais simples e mais
acessível para as empresas e para os trabalhadores estrangeiros, como
havíamos solicitado várias vezes, teria sido um ótimo exemplo de combate
à exploração do trabalho clandestino, além de arrecadar milhares de
euros aos cofres do Estado”, diz o texto.
Para Piero Soldini, responsável por Assuntos de Imigração do sindicato
Cgil, a predominância de pedidos de regularização de empregados
domésticos em relação a trabalhadores de outros setores é um “paradoxo”.
“Foram feitos 100 mil pedidos de legalização de empregados domésticos e
cuidadores de idosos, sendo que a maioria destes trabalhadores são do
Marrocos ou do Bangladesh. Mas quem conhece o mercado de trabalho sabe
que a maioria da comunidade marroquina não trabalha como colaborador
doméstico”, diz Soldini. Segundo ele, estas anomalias devem-se ao fato
de que a medida do governo “é muito restritiva, seja pelo custo, seja
pelos instrumentos de seleção”.
“O governo deveria prorrogar a data de encerramento da regularização
dos trabalhadores estrangeiros”, afirma Liliana Ocmin, responsável pelo
setor de Imigração da Cisl. “A sanatoria 2012 foi uma ocasião perdida,
visto que os dados relativos aos pedidos enviados não correspondem à
recente profileração do trabalho clandestino no país”, disse.
“A maioria dos requerimentos enviados referem-se a empregados
domésticos e cuidadores de idosos, inclusive porque o procedimento custa
muito menos para estas categorias de trabalho. Além do aspecto
econômico, a regularização foi um verdadeira corrida com obstáculos e
mesmo que um parecer da Advocacia Geral do Estado tenha ampliando a
lista de documentos válidos para demonstar a presença do imigrante no
país desde 31 de dezembro de 2011, ela chegou muito tarde”, afirma
Ocmin.
“O modesto êxito da sanatoria mostra como a política de anistia em
matéria de imigração clandestina chegou ao seu fim: é tempo para uma
nova lei que regularize o ingresso de mão de obra estrangeira no país”,
afirma o vice-diretor da Caritas Ambrosiana, Luciano Gualzerri, que
criticou, ainda, o alto preço cobrado pela regularização, assim como a
exigência de um comprovante de presença na Itália desde 31 de dezembro
de 2011, o que, segundo ele “deve ter desencorajado muitos imigrantes”.
“A história da imigração na Itália é feita de estrangeiros que chegam
como clandestinos e depois são anistiados. Seria preciso, em vez disso,
colocar a mão no sistema de cotas de ingresso e torná-lo mais coerente
com a realidade do nosso país, reconhecendo de uma vez por todas o papel
que estes trabalhadores desempenham em alguns setores-chaves da nossa
economia e do nosso sistema previdenciário”, disse Gualzerri.
Para Filippo Miraglia, responsável de Imigração da associação Arci, “a
regularização foi uma chance desperdiçada, que terá consequências
negativas não apenas para os imigrantes, que continuarão na mesma
situação de irregularidade, mas também para o orçamento do Estado, que
deixará de arrecadar com estes trabalhadores”.
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