sexta-feira, 1 de março de 2013

Malaquias e Petrus Romanus: O fim da Igreja Católica?






In persecutione extrema S.R.E. sedebit Petrus Romanus,
qui pascet oves in multis tribulationibus,
quibus transactis civitas septicollis diruetur,
et Iudex tremêndus iudicabit populum suum.
Finis.


(Na perseguição final à sagrada Igreja de Roma reinará Pedro Romano, que alimentará o seu rebanho entre muitas turbulências sendo que, então, a cidade das sete colinas (Roma) será destruída e o formidável juiz julgará seu povo. Fim).

Talvez nunca na História estes versos atribuídos a São Malaquias (1094?-1199), um bispo irlandês tido como um clarividente da sucessão papal até seu fim, em 2013, estejam sendo tão lidos como após a recente renúncia do Papa Bento XVI. Aliás, como pudemos respirar aliviados, pois o Calendário Maia não havia previsto nenhum fim do Mundo, está certo que a humanidade precisava, urgentemente, pôr alguma outra profecia escandalosa pra nos privar, mais uma vez, de calma e saúde psicológica em


O caso é que os entusiastas de Malaquias deverão, como os do Calendário, estar errados: A propaganda informa que o “vidente” teria tido sua revelação sobre o papado e o fim da Igreja Católica durante uma viagem de visita ao Papa Inocêncio II em Roma no ano de 1139. Pela contagem, seriam 112 sumos pontífices a partir de Celestino II (1143-1144). Daí o último da linha, forçosamente, ser o sucessor de Bento XVI (o suposto “De Gloria Olivae”), referido como “Petrus Romanus” – às vezes, livremente interpretado “Petrus II”. Entretanto, esta profecia fora publicada apenas – pasmem! – quinhentos anos após o nascimento de Malaquias, em 1594. Na verdade, esta publicação se deu por meio de uma obra do monge beneditino Arnaldo Wion: a Lignum vitae, ornamentum et decor Ecclesia. Wion jamais justificara as circunstâncias da posse dos manuscritos “originais” e, consequentemente, sua autenticidade. A autenticação apenas viria, de maneira igualmente irregular, pelas mãos de um dominicano espanhol chamado Don Alfonso Chacón (ou Alphonsus Ciacconius), especialista em textos antigos, incluindo paleografia medieval.
Mais uma pista que nos leva à evidente conclusão de fraude é o fato do santo apenas descrever com mais clareza e objetividade os papas que foram de Celestino II a Pio II (1458-1464), ou seja, de antes do aparecimento de Wion na história – ele próprio, um pretenso profeta. Depois disto, as tais indicações às identidades papais (rápidas referências quanto ao nome de batismo ou de papado, lugar de origem ou peculiaridade no ministério) tornam-se extremamente vagas, aceitando, facilmente, qualquer tipo de associação que se quisesse ali encaixar. Uma prova disto é quando analisamos as interpretações dos “experts em profecias” antes da subida de Joseph Ratzinger ao Trono de Pedro com base nas linhas deixadas por Malaquias/Wion: o resultado é, simplesmente, estarrecedor no que concerne à realidade que se seguiu.E, finalmente, ainda há o fato de São Bernardo, o autor da biografia de Malaquias (a Vita Malachias) já durante os últimos anos de sua vida em Claraval (Ville-sous-la-Ferté, França), não ter registrado simplesmente nada a respeito desta profecia que tinha tudo pra ser, inquestionavelmente, sua maior realização.

Em tempo: o título (ou definição) Petrus Romanus ao último papa parece suspeitadamente ajustável a qualquer candidato ao cargo na Santa Sé. Pois, além de um papa, de forma obrigatória, ser a Pedra (Mt 16,18) a qual Cristo se refere como sustentáculo de sua Igreja, esta pedra (Petrus) deverá governar seu rebanho desde Roma (Romanus)... Como sempre ocorre com profecias, mais vago, impossível.
ÁTILA SOARES DA COSTA FILHO é professor especialista em História da Arte, Filosofia e Sociologia, palestrante e colaborador da Mona Lisa Foundation, Zurique.
asoarescf@zipmail.com.br

Rivista digitale Oriundi

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