sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Editora Unesp lança trilogia sobre a imigração em São Paulo


Livros lançados pela Editora Unesp apresentam dados demográficos e socioeconômicos da população estrangeira presente no Estado de São Paulo entre 1850 e 1950.

Um amplo mapeamento do cenário populacional no Estado de São Paulo a partir da proibição do tráfico negreiro e do início do processo que culminou no fim da escravidão, em 1850, é a proposta da primeira edição da trilogia que a Editora da Universidade Estadual Paulista (Editora Unesp) acaba de lançar com apoio da FAPESP. Trata-se do livro Atlas da imigração internacional em São Paulo 1850-1950, que traz dados sobre a imigração estrangeira e a distribuição espacial dos imigrantes, de modo a demonstrar que essas mudanças acabaram definindo um panorama muito expressivo não apenas do ponto de vista demográfico.

“O atlas é uma publicação inédita que traz um panorama das mudanças demográficas ocasionadas pelos movimentos migratórios em São Paulo, numa mistura de transformações que também foram sociais, culturais, econômicas e políticas”, disse a pesquisadora do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e uma das autoras das obras, Maria Silvia Bassanezi, à Agência FAPESP.Segundo ela, a publicação é resultado do projeto “Migração, humanismo latino e territorialidade na sociedade paulista”, financiado pela Fundação Cassamarca, da Itália, no âmbito do Projeto Brasil Latino, desenvolvido junto ao Nepo/Unicamp.Os dois outros volumes que integram a trilogia são o Repertório de legislação brasileira e paulista referente à imigração, que reúne as leis para São Paulo referentes à imigração elaboradas nos níveis estadual e federal, e o Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo 1850-1950, que analisa a documentação relativa às várias etapas do processo migratório no Estado.“Juntos, os três livros serão ferramentas de trabalho para pesquisadores da história, antropologia, sociologia, geografia e demografia”, explica. “São disponibilizadas imagens de trechos de documentos de época e muitas fotos que dialogam com os dados estatísticos”, conta Maria Silvia, que também é professora do Programa de Pós-Graduação em Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.Além de Maria Silvia, assinam as publicações Carlos de Almeida Bacellar, docente do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Arquivo do Estado de São Paulo (AESP), Ana Silvia Volpi Scott, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e Oswaldo Serra Truzzi, professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

As fontes de informação que serviram de base na elaboração das obras foram basicamente o Arquivo Público do Estado de São Paulo, Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Memorial do Imigrante de São Paulo, Biblioteca do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Arquivo Edgard Leuenroth, vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, além de censos regionais e nacionais em que foram colhidas informações de caráter quantitativo da população paulista.“As três obras trazem uma sistematização da documentação existente sobre imigração nessas cinco instituições, contribuindo para a ampliação do conhecimento na área na medida em que os pesquisadores terão acesso a informações extraídas de documentos raros pertencentes a esses arquivos históricos, durante mais de quatro anos de trabalho”, explica.

Cinco milhões de estrangeiros
De acordo com o atlas, que também traz dados relativos à população escrava no período imperial, entre as últimas décadas do século 19 e o início dos anos 1970 o Brasil recebeu cerca de 5 milhões de estrangeiros, dos quais 2,8 milhões entraram no estado de São Paulo, sendo desses cerca de um milhão de italianos (36%), seguidos pelos portugueses (20%), espanhóis (16%) e japoneses (8%).A vinda desses imigrantes ao país esteve inserida no contexto das grandes migrações humanas que foram determinadas por um conjunto de transformações de caráter sociodemográfico na Europa, além das mudanças provocadas pela expansão do capitalismo e mudanças políticas ocorridas em diversos países.“Todos esses processos interagindo entre si, em muitos momentos, geraram excedentes populacionais em várias regiões que foram conduzidos às emigrações oceânicas, entre elas as dirigidas ao Brasil facilitadas pelo desenvolvimento das comunicações e pelo barateamento do transporte”, aponta a obra.

No caso particular do Estado de São Paulo, o rápido crescimento da economia cafeeira – que gerou capital para subsidiar a imigração estrangeira e seus desdobramentos, como a expansão da rede ferroviária, industrialização e urbanização –, aliado às importantes reformas institucionais e políticas, entre as quais a Lei de Terras de 1850 e a abolição da escravatura em 1888, criaram condições favoráveis para a imigração em grande escala.“A imigração para São Paulo, no período que vai de meados dos anos 1880 ao final dos anos 1920, foi beneficiada pela política migratória adotada, cujo eixo encontrava-se praticamente subordinado aos interesses da cafeicultura. Pela perspectiva do imigrante, os subsídios e a esperança de ter acesso à terra, veiculados pelas propagandas na Europa, tornaram o destino brasileiro atraente até as três primeiras décadas dos século 20”, explica.
De acordo com a publicação, a evolução da entrada dos imigrantes no Brasil e no Estado de São Paulo, especificamente de 1870 a 1970, pode ser dividida em quatro momentos. O primeiro foi marcado pelo fim da transição do trabalho escravo para o livre, pela rápida expansão da cafeicultura no oeste paulista, pelo início da política de subsídios à imigração e pela entrada maciça de imigrantes, principalmente italianos.Terminou em 1902, quando a Itália passou a dificultar a emigração subsidiada ao Brasil, ao mesmo tempo em que a crise da cafeicultura no país, desencadeada nos anos finais do século 19, ainda se encontrava em pleno vigor.“O segundo momento teve como referências as políticas de valorização do café no Brasil, o aumento expressivo da imigração de portugueses e espanhóis e o início da imigração japonesa. Sua interrupção ocorreu devido à Primeira Guerra Mundial e, em menor escala, à expansão da gripe espanhola de 1918”, aponta o atlas.O terceiro foi marcado pela recuperação da lavoura cafeeira, pelo desenvolvimento de outros setores da economia nacional no pós-Primeira Guerra e pelo aumento de imigrantes do leste europeu, portugueses e japoneses, e o quarto momento, por sua vez, começou no pós-Segunda Guerra Mundial, com o afrouxamento das restrições à imigração, apesar de ter apresentado um volume de entradas bem inferior aos três momentos que o precederam.“O terceiro e quarto momentos caracterizam-se, em São Paulo, pela expansão da indústria, que implicou alterações no mercado e na organização das relações de trabalho, em movimentos populacionais mais centrados nas migrações internas que internacionais, além da urbanização mais intensa”, relata a publicação. (Agência FAPESP)

Serviço:
Atlas da imigração internacional em São Paulo 1850-1950
Número de páginas: 144
Formato: 29,5 x 35,7 cm
Preço: R$ 140

Roteiro de fontes sobre a imigração em São Paulo 1850-1950
Número de páginas: 320
Formato: 17,3 x 24 cm
Preço: R$ 50

Repertório de legislação brasileira e paulista referente à imigração
Número de páginas: 136
Formato: 17,3 x 24cm
Preço: R$ 40

Mais informações: www.editoraunesp.com.br
Informações da Revista Oriundi/Colaboração Lea Beraldo

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