Roma - Escrever em letra cursiva se tornou uma arte a caminho da extinção, em parte devido aos teclados "cúmplices" - computadores e telefones "inteligentes". É a advertência da revista da Sociedade Italiana de Pediatria, que apontou o fenômeno - evidente em todo o mundo -, a partir do alerta lançado meses atrás por especialistas dos Estados Unidos.
Há quatro ou cinco décadas, só se escrevia a mão com a 'letra emendada' (cursiva) e os alunos passavam horas debruçados sobre os cadernos de caligrafia.
Com a chegada da pedagogia moderna, as coisas começaram a mudar e esses cadernos praticamente desapareceram. O que antes era fonte de orgulho (a caligrafia) passou para o esquecimento e se tornou quase uma relíquia para as gerações mais jovens, que dependem cada vez mais da letra de imprensa, enquanto "desaprendem" a escrever a mão.
Depois, com o advento da tecnologia e a disseminação dos computadores, a letra de imprensa avançou e a cursiva se tornou uma espécie rara.
Atualmente, a maioria das escolas do Brasil só adota a letra de forma (ou bastão) no processo de alfabetização, talvez pela facilidade de aprendizagem pelas crianças, que começam a desenvolver suas habilidades motoras.
Há especialistas que defendem que não escrever em cursiva diminui as funções cognitivas, mas a questão é controversa, possivelmente pela falta de estudos sobre o tema.
"Quando pergunto em sala de aula que levantem as mãos aqueles que habitualmente escrevem em letra cursiva, nenhum aluno responde, eles apenas conseguem lê-la", comenta Jimmy Bryant, professor da Universidade Central de Arkansas.
A "culpa" deve ser atribuída ao fato de que se escreve cada vez mais com o teclado e o smartphone, normalmente em letra de imprensa, e também porque em muitas escolas se gasta cada vez menos tempo para ensinar caligrafia.
Na Itália, "o fenômeno é mais limitado e inclui principalmente os jovens que escrevem pouco e, quando o fazem, escrevem com letra de forma", disse Alberto Ugazio, presidente da Sociedade Italiana de Pediatria.
"Nas escolas de primeiro grau ainda se escreve e se usa a letra cursiva, o que de um lado é uma sorte, mas de outro indica que os computadores são escassamente distribuídos nas escolas", acrescentou.
O que mais preocupa não é tanto se prevalece um ou outro estilo de escrita, mas que "se escreve cada vez menos e de forma mais pobre, com um vocabulário muito reduzido e uma linguagem menos complexa. Com frequência, quem escreve mensagens no computador ou celular o faz de modo tão modesto, que a comunicação é só aparente e não real", acrescentou Ugazio.
Em sua opinião, a escrita cursiva sempre foi "uma fonte de arte e a passagem para a letra de imprensa significa uma perda de criatividade".
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