sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Multinacionais brasileiras a conquista da Itália

Por Pablo Giuliano - São Paulo -  Brasil como uma das soluções para a crise italiana: este será um dos temas da missão que cerca de 150 presidentes e CEO's de multinacionais brasileiras farão na semana que vem em Roma, no âmbito das comemorações do Momento Itália-Brasil, que começa em outubro.

     "Historicamente, o Brasil sempre fez parte do problema e agora se tornou parte da solução", disse à ANSA Luiz Fernando Furlán, presidente de Lide Internacional e ex-ministro do Comércio Exterior, Indústria e Desenvolvimento da gestão de Luiz Lula da Silva.

     A entidade reúne mil empresas que representam 46% do PIB brasileiro e que organiza de 5 a 11 de outubro o 16º Meeting Internacional em Roma, do qual participará o ministro brasileiro da Economia, Guido Mantega.

Furlán considera que as tensões entre os países por conta da negada extradição do ex-ativista italiano da extrema-esquerda Cesare Battisti, solicitada pela Itália pelos quatro homicídios que cometeu no país nos anos 70, têm sido ignoradas no mundo dos negócios.

     "Creio que a decisão não foi a melhor. Tornou-se um jogo de forças que gerou desgaste. Poderia ter-se tomado uma decisão técnico-jurídica de ordem legal dentro da tradição do Brasil sobre estes casos.

     Os dois governos se esforçam para evitar a contaminação das relações econômicas e comerciais e o nosso evento em Roma é uma prova concreta disso", afirmou.

Furlán disse ainda que as economias de Itália e Brasil "marcham em velocidades distintas" mas explicou que haverá oportunidades para ambos os lados: os brasileiros querem joint ventures para ganhar espaços no mercado europeu e os italianos poderão se incorporar ao canteiro de obras no qual o Brasil se transformou para receber a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

     Entre as oportunidades para os brasileiros, em resposta a uma pergunta da ANSA sobre a possibilidade das empresas brasileiras comprarem empresas públicas na Itália e Europa, quando se abrirem as possibilidades de privatizações, Furlan comentou: "Em alguns setores, entrar em empresas públicas, diria que sim, mas as empresas brasileiras precisam entender o contexto regulamentar europeu, À medida que as oportunidades forem identificadas, existe um potencial para as empresas brasileiras".

     Sobre a crise econômica na Europa e na Itália em particular, disse que para o Brasil "é uma chance" para fazer negócios porque a missão "não é um passeio, mas para fazer negócios".

     "Falando da crise, as empresas brasileiras foram submetidas em sua história a um ritual de crise. É como dizia Ayrton Senna: 'É preciso que surja a oportunidade, estar preparado e ter coragem para pegar essa oportunidade. As empresas brasileiras necessitam dessas oportunidades", opinou.

     E comparou o interesse pela Itália em tempos de crise: "As crises geram mudanças, podem mudar até governos, mas como dizem os surfistas, se você ficar na praia tomando cerveja não vai achar a melhor onda. É preciso estar no mar à espera da onda se formar". Para os italianos, argumentou ele, o Brasil tem um "mercado dinâmico, com uma classe média emergente que quer consumir e uma classe média-alta que valoriza os produtos da Itália".

Furlan, conselheiro da gigante BR Foods, é considerado um dos responsáveis, a partir de 2003, da internacionalização das empresas brasileiras no início do governo Lula e cita o caso de que, até há poucos anos, a Embraer era a referência comercial do Brasil e que isso foi superado pela marca de sandálias de praia Havaianas.

     "Os países que prosperaram têm empresas e marcas de alcance mundial. A Itália fez isso nos anos 70, com o famoso Made in Italy criado pela Confindustria. A Itália tinha a imagem do Festival de San Remo, da pizza e das greves e a mudou associando-a ao design, ao luxo, à criatividade e aos automóveis. E agrega emoção à tecnologia", disse ele mostrando sua roupa Zegna.

      Para o ex-ministro, os italianos sempre foram investidores no país, mais além de ter a maior comunidade italiana no exterior, com 25 milhões de descendentes, enquanto que os brasileiros não, apesar de atualmente os sul-americanos investirem na Alemanha, Austrália, Portugal e Inglaterra.

     O investimento estrangeiro direito prova isso: no Brasil entraram US$ 28 bilhões e saíram US$ 27 bilhões. Furlan destacou o discurso que ofereceu à presidente Dilma Rousseff, ao solicitar como solução à crise ''saídas políticas e ousadia''.         

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