terça-feira, 22 de maio de 2012

Franco Pittau: “Nem todos responderam ao Censo. Faltaram os novos imigrantes irregulares”

Coordenador de Estatística da Caritas Migrantes não descarta que o aumento de clandestinos pode ter influído nos números do Censo
 
Os imigrantes regulares inscritos nos cartórios de estado civil (“anagrafe”), no início de 2011, eram 4,5 milhões, mas somente 3,7 milhões teriam respondido ao último Censo da População e das Habitações realizado na Itália. 
 
Embora os dados divulgados pelo Istat – Instituto de Estatística - ainda sejam provisórios, o coordenador do Dossier Estatístico Imigração da Caritas Migrantes, Franco Pittau, levanta algumas hipóteses que poderiam explicar a diferença de 800 mil estrangeiros a menos. 
 
Uma diferença tão grande assim é  normal?
 “Temos duas estatísticas muito diferentes. Os resultados do Censo podem ter sofrido um sub-dimensionamento mas, em todo caso, os dados divulgados até agora pelo Istat ainda são provisórios. Por outro lado, os cartórios também podem apresentar um super-dimensionamento, por exemplo, pelos cancelamentos que não são efetuados.”
 
Porque o Censo teria sub-dimensionamento justamente sobre a população de imigrantes?
“Porque por mais que tenha sido acurado o trabalho do Istat, não se pode excluir que uma parte dos cidadãos estrangeiros não foi encontrada e não tenha preenchido o questionário por vários motivos: para defender a privacidade, porque as  informações foram escarsas e, ainda, por precaução.”
 
Pode dar um exemplo de quem poderia não ter respondido?
“Uma pessoa que chegou há pouco tempo na Itália, certamente, pensa em tudo menos em preencher o questionário. Mas, não podem ser excluídas as pessoas que moram em habitações que apresentam situações pouco claras - por exemplo devido uma sublocação sem contrato - ou porque estão com as suas permissões de estadia para vencer e não estão seguras se poderão renová-las. Dificilmente alguém que sabe que corre o risco de se tornar clandestino fornece informações úteis para que possa ser encontrado.”
 
Pode quantificar, mesmo que aproximativamente, os imigrantes regulares que não responderam ao censo?
"Não e nem temos instrumentos para isso. Antes de tudo, é preciso esperar os resultados definitivos do Censo. A disponibilidade dos novos dados de outros arquivos (em particular,  vistos e permissões de estadia) permitirá a realização de um confronto.  Creio que depois do cruzamento de dados será possível verificar com mais seriedade se, depois da crise, houve uma diminuição na renovação das permissões de estadia que explicaria, pelo menos em parte, a forte diminuição da presença estrangeira regular como demonstram os primeiros dados."
 
Quanto pode pesar esse aspecto? 
“Mais do que se possa pensar. O vencimento das permissões de estadia é um alarme assinalado com ênfase no último Dossier Estatístico Imigração. É verdade que o ‘permesso di soggiorno”, a menos que não se trate daquele concedido para permanência de longo período, é um documento destinado a cessar na sua validade e, segundo a sua tipologia, que pode ser renovada ou não. No caso das permanentes por motivos familiares ou de trabalho, com exceção daqueles para trabalho “stagionale” ou de qualquer forma temporário, as pessoas estão interessadas em uma permanência estável. O andamento que foi verificado nestes anos de crise mostra uma tendência inversa.” 
 
O que dizem os dados?
"Em 2008 não foram renovados 80 mil permissões de estadia, incluindo para os trabalhadores temporários. Situação idêntica foi verificada em 2009. Em 2010 o número aumentou para 100 mil e em 2011 para 150 mil. No total, são cerca de 400 mil “decretos de repatriamentos”, uma parte cumprida contra a vontade,  um amargo regresso à pátria, e outra ignorada por aqueles que preferiram permanencer no país, mesmo sem o título de permanência, na esperança de uma retomada da economia."
 
Aumentam os irregulares mas, presumivelmente, também aqueles que estão virando. Com a reforma do Trabalho, o governo quer aumentar de seis para 12 meses  a duração mínima das permissões de estadia para quem perdeu o emprego e parece também que tem intenção aumentar a validade das permissões para trabalho e família. O que o senhor pensa sobre isso?
“São medidas não somente de humanidade, mas também concretas, porque o mercado de trabalho na Itália ainda sofre e será necessário tempo e paciência para que as inserções aconteçam, sem contar que, se não houver qualquer medida, a esfera da irregularidade e do trabalho submerso pode alargar. Do ponto de vista histórico vem em mente, como parâmetro de comparação, a grande política de rotação ocorrida nos anos 60 na Alemanha, que queria que os imigrantes, depois de alguns anos de trabalho, retornassem aos seus países.” 
 
O que ensina a história?
“Naqueles anos chegavam à Alemanha cerca de quatro milhões de italianos, mas somente um a cada quatro ficou no local. Isso provocou diversos efeitos negativos, sobretudo em relação às inserções na escola e no âmbito profissional, que persistem até nos dias atuais. Então é preciso refletir com muito cuidado sobre esses riscos.”
 
Elvio Pasca  
http://www.agoranoticias.net

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